5 - Téo? Sou eu, a Victória

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"Pressa versus Perfeição. Das guerras, a mais cruel"

(A Poesia dos Desafetos, página 57)

- Garota mais cobiçada do bairro entrando! – Foi assim que Mel escancarou a porta do quarto, onde Arthur e Téo estavam tentando lidar com a reviravolta da noite passada. Quer dizer, Téo estava tentando lidar, porque Arthur não desgrudava os olhos do notebook.

- Qualquer dia desses, vocês vão me ver pelado nesse quarto – Téo suspirou, diante do arrombamento.

Arthur, sentado com as pernas cruzadas sobre a cama de Téo e encostado na cabeceira com o notebook no colo, não parecia realmente enxergar nada ao redor. Apenas ouvia e manifestava um ou outro sinal com a cabeça.

- Não sei se gostei dessa história de garota mais cobiçada, vou logo avisando – Arthur comentou, sem olhar pra nenhum dos dois.

Téo andava de um lado para o outro no quarto, sem saber muito o que fazer e já meio tonto por estar rodando num espaço tão pequeno.

- Vou ignorar o mau humor matutino de vocês, porque, além de finalmente ser sábado, eu consegui... – Mel colocou a mão dentro de sua bolsa, fazendo certo suspense – Dez convites para o show! – E lançou os convites pelos ares. Dez pedaços de papel multicoloridos choveram pelo quarto de Téo – Calma. Eu vou catar – E se abaixou para juntá-los.

Havia algo na Mel que a fazia parecer meio doida. Talvez fosse o cabelo curto, o corte modernoso, as roupas num estilo meio hippie. Ela gostava de pulseiras, detalhes em madeira, símbolos tribais. Ou ela criava as próprias roupas ou tinha descoberto uma loja misteriosa com meia dúzia de clientes. Mel parecia uma artista, e era exatamente o que ela era. Ou seja, meio doida.

- Não se atrasem. Outras pessoas vão se apresentar, mas a ordem é um mistério. Além dos meus pais, vocês são minha única plateia garantida.

- Sua popularidade me fascina - Téo comentou.

- Cala a boca.

Arthur não largava o notebook. Não tinha feito outra coisa desde que aparecera na porta da casa do amigo ainda de madrugada - 8 da manhã. Não era preciso ser nenhum gênio para deduzir a obsessão: Batalha dos Reinos IV. Os efeitos sonoros do jogo eram mais que familiares para Téo e Mel. A trilha sonora não oficial da amizade dos três.

- Vocês acreditam que uma poção de reconstituição facial custa mais que uma armadura completa de bronze do monte Galilais? – Ele comentou, soando um pouco indignado.

- As pessoas sempre se preocupam mais com a aparência, mesmo estando numa Terra Medieval de mentirinha – disse Mel – Eu só quero saber como é possível você estar acordado a essa hora da manhã, Arthur.

- Emergência – Ele respondeu.

- Emergência?

- Não é uma emergência – Téo corrigiu.

- Téo tem um encontro – Arthur soltou a bomba.

- Ai, meu Deus! – Os olhos de Mel se arregalaram - E vocês não iam me avisar? É uma emergência!

- Não é um encontro! – Insistiu.

Tinha acontecido na noite passada, enquanto Téo, Rita e Liv assistiam um filme que se dizia inédito na TV, mas que todos já tinham visto umas três vezes naquele mesmo canal. O telefone tocou, e Liv correu para atender, quase derrubando o aquário com o peixe beta, que ficava ao lado do aparelho. Depois, ela passou o telefone para Téo, com um olhar desconfiado. E isso havia sido realmente estranho porque ninguém ligava para o garoto pelo telefone fixo.

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