6 - Menos língua

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"Eu queria amor, verão e um passeio no parque, mas você também me pareceu ser uma boa escolha"

(A Poesia dos Desafetos, página 57)

- Você veio! - Victória disse assim que Téo chegou mais perto.

Como se ele pudesse não aparecer. O garoto ficou sem reação por uns segundos, porque ver Victória ali, sentada a sua frente, numa distância em que ele poderia tocar nela se quisesse, era como tomar um soco da realidade. Ele já tinha visto aquele rosto, mas, entre o episódio no fast-food e aquele Você Veio, havia rolado muita idealização sobre quem Victória era. Téo estava adorando ser socado.

Eles se cumprimentaram de um jeito esquisito, porque Téo foi dar um beijo no rosto, mas, no meio do caminho, tentou mudar para um abraço, sendo que Victória estava com a mão estendida, então... Foi algo como abraçar a mão de uma pessoa.

Ia dar tudo errado, não ia?

- Te deixei esperando? - Ele perguntou.

- Não muito. Estava curtindo os shows daqui. Lugar legal, né?

Victória olhou para o palco, onde a dupla sertaneja, já cansada de requebrar e se esfregar, estava sendo substituída por outro artista, ao som dos aplausos efusivos da plateia. Foi o tempo que Téo teve para reparar em sua acompanhante. Ela usava um vestido branco e rosa, com umas tiras finas que faziam as vezes de alça, de um jeito que ele não saberia descrever se pedissem. Antes de sentar, Téo viu que era curto... Talvez um pouco curto demais. O cabelo dela estava livre, cacheado. Isso, ele se focaria no cabelo.

Pensou em puxar assunto falando do tempo, mas estavam num lugar fechado, e Arthur o mataria se ele voltasse para a Situação por um ato tão burro. Olhou para o copo na mesa.

- Você bebe?

- Socialmente. Mas só peguei esse drink por falta de opção. Eles só servem álcool aqui.

Então, ele estava diante de uma cachaceira. A realidade estava nocauteando-o sem dó. Victória parecia ter curtido o fogo entre o cumpade e a cumade, gostava de entornar uns gorós e tinha aversão a tecidos. Ela certamente andava de saia de corpo baixo com a barriguinha de... Essa música tinha que sair da cabeça dele.

- Mas, então... Você ainda está carente? - Ela sorriu de um jeito diferente do que vinha fazendo. Téo se considerava muito tapado para esse tipo de coisa, mas até ele estava vendo segundas intenções.

Nossa, Victória o queria muito. E Arthur e Mel achando que ninguém se interessaria por ele. Rá! Enquanto isso, uma garota dominava o palco cantando um pop rock sobre equalizar pessoas, seja lá o que isso significasse.

***

Mel estava no camarim, olhando para o espelho. Um fiapo de cabelo teimava em não ficar no lugar e, quando ficava, Mel mudava de ideia sobre como seu cabelo deveria aparentar. Ela não conseguia parar de mexer. Arthur dobrou a perna sobre o joelho, sentado numa cadeira giratória ao lado da namorada.

O camarim era compartilhado com todos os cantores da noite, mas, naquele instante, as únicas pessoas no recinto eram Arthur, Mel, uma mulher sentada num pufe que estava muito concentrada em seu celular e a dupla de rapazes, que entraram fazendo um escarcéu, ainda animados pela onda do palco.

- Achei que não fosse ficar nervosa, mas... minhas pernas estão tremendo.

- Mel, fica calma, você sabe que é capaz. Eu sei que você é capaz. Téo também está aqui pra te dar uma força.

- Ok, vocês sabem, mas o pessoal lá fora não! E se começarem a me vaiar? E se eu esquecer a letra? Ai, meu Deus, era para eu ter escolhido outra música. E se atirarem um tomate em mim ou derrubarem aquele balde de sangue que nem em Carrie, a Estranha e...

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