Novembro de novo - 6 - FINAL

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- Eu vou viajar em dezembro – respondi a pergunta que Guilherme havia me feito.

Senti um aperto leve no peito. Faltavam menos de três meses e eu não tinha realizado isso até dizer em voz alta.

Minha viagem estava marcada para depois do término do ano letivo e, apesar de ter pesquisado tudo sobre Barcelona e a universidade, eu não havia nem começado a me preparar para viajar.

- Já? – Guilherme perguntou surpreso. Bastante surpreso.

- Ahn... Pois é, nem eu tinha percebido que estava chegando – Soltei um riso nervoso e tomei um gole do meu refri, tentando abrir o canal que havia acabado de entupir dentro de mim. Eu me sentia um pouco sufocada.

- Isso quer dizer que nosso ultimo encontro será em novembro... No seu aniversário – ele falou mais para ele do que para mim. Não olhava para mim.

- Acho que sim...

Silencio.

O analisei. Guilherme estava pensando e não parecia muito contente. Ele entortou a boca, cerrou o cenho, tamborilou os dedos sobre a mesa e então olhou para mim.

- Você vai fazer alguma coisa? Uma festa, sei lá, algo assim?

- Não – neguei - Não penso em fazer nada. Nem parei pra pensar em nada, na verdade.

Ele concordou com a cabeça e respirou fundo, então sorriu.

- Está ansiosa? – perguntou agora voltando a ser o Guilherme que eu conhecia.

Era difícil ver Guilherme sério. Ele era tão animado, agitado e cheio de energia que vê-lo sério era raridade, mas foi assim que ambos percebemos que estávamos, indiretamente, conversando sobre o fim da nossa tradição.

- Não sei – respondi com sinceridade – Eu fiz todas as pesquisas, listas, anotações, mas esqueci de realmente compreender que eu ia viajar e que vou passar 3 anos fora.

- 3 anos?! – Guilherme se inclinou em minha direção sobre a mesa – Vai ficar 3 anos em Barcelona? Quando foi que eu perdi essa informação?

A atitude dele me pegou de surpresa. O fitei e ele me fitava.

- É o tempo do curso lá – contestei.

Ele abriu a boca e logo fechou, passando a língua pelos lábios.

- Você está bem? – perguntei devagar.

Guilherme mexeu as sobrancelhas e balançou a cabeça.

- Não. – respondeu sem pensar – Sim, estou bem. Caramba...

Então voltou a sorrir. Seu sorriso foi largo, um pouco forçado, mas como eu sempre digo, aquele brilho... Aquele brilho estava em seus olhos.

- Mudar é sempre bom – ele disse no mesmo tom de incentivo que usei com ele, quando ele havia dito que ia se mudar de cidade.

Concordei com a cabeça.

Eu estava triste. Triste porque naquele momento eu pensei em todas as coisas que eu iria deixar para trás. Amigos, família, Guilherme, minha rotina, minha casa...

Mordi os lábios e olhei para a mesa.

Era estranho, mas o fato de eu não poder ver mais Guilherme era uma das coisas que mais mexiam comigo. Pensar que nossa tradição iria acabar, que nossa troca espontânea não iria mais acontecer... Pensar que, quando eu voltasse, provavelmente não teríamos mais nada que nos conectasse... Isso me chateava.

Esse era um dos sentimentos com o qual eu não conseguia lidar e, sim, obviamente essa tristeza seria superada e até mesmo esquecida, mas naquele momento, ela doía.

Nossos 12 mesesWhere stories live. Discover now