Nova York

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O apartamento, que Robert havia conseguido para Celine, ocupava um antigo prédio industrial, numa parte muito boa de SoHo. A rua era tranquila e arborizada. Em baixo, ao lado da rampa do estacionamento, havia um café bastante charmoso. Ela ficou impressionada com o tamanho do loft, os cômodos eram amplos e bem arejados devido ao pé direito duplo. Logo na entrada, um salão bem espaçoso, dividido entre um living e uma cozinha gourmet. A decoração era toda em concreto aparente e inox, um tanto estérea para o seu gosto, mas, comparado às paredes descascadas do outro apartamento, ela podia se considerar no céu. Havia uma estante de caixotes na sala, repleta de livros, de onde ela pega um volume. Tratava-se de um manual técnico sobre máquinas. Marco devia ser engenheiro. Tinha poucas fotos por ali, a maioria mostrava um cara de mais ou menos trinta anos, loiro e barbudo. E quase sempre sozinho, deviam ser fotos de viagens. Havia uma única foto um pouco mais íntima, onde ele abraçava uma moça. Mas não devia ser nada importante, já que estava esquecida ali. Ela acomoda a caixa de Mister Graaf sobre a mesinha e o retira com cuidado. Coloca o corpinho mole dele em cima do sofá. Certamente que ele ia estranhar o novo lugar, ficaria rabugento por uns dias. Ela também, mas o que fazer? Aquela seria sua nova vida, agora.

Celine volta até a porta e arrasta a mala e a mochila para dentro. Havia dois quartos, ambos com banheiro. Escolheu ocupar o menor, pois não se sentia à vontade em mexer nos pertences pessoais do dono do apartamento. Marco não tinha levado muita coisa, isso indicava que ele não estava muito feliz em deixar o lugar; voltaria com certeza.

Na cozinha, ela guardou o pote de ração e as tigelas de Mister Graaf. Havia tanto para fazer, mas a prioridade agora era o mercado. Na geladeira não havia nem água. Sentindo um pouco de remorsos de deixar o coitado do gato adormecido, ela pegou a bolsa e saiu. Foi a pé mesmo para sentir um pouco o bairro. Achou uma pequena mercearia à poucas quadras dali, comprou um pouco de água e suprimentos para o café da manhã. Na volta, deu de cara com uma farmácia. Sentiu uma pedra de gelo pesar em seu estômago, quando pensou em entrar para comprar um daqueles testes de gravidez. Estava com um pouco de medo de saber a verdade, de tratar uma criança inocente como um fardo indesejável. Respirou fundo, tomou coragem para impulsionar as pernas. Entrou. Andou pelas prateleiras de perfumaria, sentia um pouco de vergonha de perguntar pelo teste. Mas como não achava nada por ali com aquela indicação, caminhou até o balcão.

- Olá?! - Fez para chamar a atenção da atendente. A garota largou o que estava fazendo e se virou para ela, sorriu. - Eu preciso de um teste de gravidez.

- Claro, vou mostrar o que temos. - A moça foi falando enquanto tirava várias caixinhas de dentro do balcão, umas seis no total. - Esse é o mais simples e mais barato. Tem um copinho aqui dentro e uma varetinha...

Depois veio outro, no qual se urinava diretamente na vareta. Um terceiro, digital, onde se podia saber até o tempo de gravidez.

Celine foi ficando amuada, preocupada com complexidade da coisa. Já estava pronta para deixar aquilo de lado. Um médico parecia mais seguro.

- E tem esse aqui, - A vendedora continuava. - Esse é o mais sensível de todos, é capaz de detectar uma gravidez a partir do terceiro dia de gestação.

Celine se interessou. Largou as sacolas no chão e perguntou:

- E como é que se usa esse aí?

- Ele é tão simples quanto os outros, basta fazer xixi nessa parte do bastão. Vai haver um risquinho, esse aqui, veja. E, se parecer outro depois da urina, o teste será positivo.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora