Boate

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Quando ela entrou no recinto, sua admiração foi tamanha que ele mal conseguiu se lembrar de respirar, engoliu o folego com certa dificuldade. Apesar da penumbra, a reconheceu de imediato, teve certeza de quem era. Pois soube, antes de qualquer um, o quanto ela era linda, apesar do amontoado de roupas e da falta de cuidados. Mas, hoje, ela estava mudada, sem o disfarce. Seus segredos, naquela noite, não pertenceriam somente a ele. Por isso, teve que fazer um esforço enorme para conter a vontade de ir até onde ela estava e tomá-la pela mão, mostrar aos outros homens que a possuía. Ficou onde estava, observou quieto o olhar dela perdido nos detalhes burlescos da decoração, depois em Thor e Izabela, namorada dele, que se atracavam aos beijos no meio da sala. Neste momento, poderia ter ido até lá para acalmá-la, dizer que estava tudo bem, que aqueles dois estavam apaixonados há anos. Com medo de assustá-la, aguentou, pacientemente, até que ela o visse. Sabia que dessa vez teria de ir com calma. Celine não era como as outras mulheres.

Antonio estava escorado na sacada que separava a sala VIP da boate. Moveu-se assim que Celine o percebeu e foi até onde ela estava. Por alguns instantes, eles ficaram parados sob a luz de um candelabro, contemplando um ao outro. O que ela pensava, ele não podia saber, mas Antonio tentava se acostumar com a imagem sofisticada, o cabelo dela tinha sido cortado um pouco abaixo dos ombros, estava solto e estruturado, a maquiagem carregada demais; Celine tinha os lábios vermelhos... A transformação, ao mesmo tempo em que o deslumbrava, causava certo desgosto, pois aproximava Celine das mulheres que ele havia conhecido. E também a separava, permanentemente, da garota inocente que deixara no iate, o que de certa forma era um alívio, assim ele não se sentiria tão constrangido em corrompê-la.

- Cortou o cabelo, ficou bom. - Ele comenta tocando uma mecha. Os fios desceram suaves entre seus dedos. Neste momento, pôde senti-la estremecer, ele quase se amaldiçoa por isso. Saber que ela também sentia desejo só aumentava sua própria aflição. - Celine, você está linda!

- Obrigada. - Ela fez com as palavras mal saindo da boca.

Depois desse encontro, Antonio leva Celine até a sacada. Estavam em um ambiente seguro. A pista de dança acontecia no piso inferior e era digna dos melhores espetáculos circenses. Mas ela parecia não notar, mantinha a concentração focada nele. A mão, recostada na balaustrada, quase tocando a sua, o rosto inclinado em sua direção. Os lábios de carmim ligeiramente entreabertos numa clara oferta para um beijo. Neste momento, ele teve a sua resposta, bastava inclinar o rosto e tomá-la, seu beijo seria legitimado pela vontade dela. Dessa vez, Celine não o afastaria. Mas Antonio se conteve, pensando que, se a beijasse agora, isso só tornaria as coisas mais difíceis para ele; um simples beijo só atiçaria a fome que o consumia. Já fora angustiante demais os dias em que passou longe do iate.

Antonio oferece uma bebida e Celine, para seu alívio, aceita. Precisavam de espaço, um pouco mais de tempo e aquela tensão logo se dissiparia. Dessa vez, ele ia com calma, seria cauteloso. Quando Antonio se afasta para pegar a bebida, Thor se aproxima e eles passam a conversar. Celine os observa de longe, depois, passou a perceber as outras pessoas na sala, ela e Antonio não estavam a sós, havia mais gente ali. Carlos, paquera de Bianca, era um deles. Naquele instante, ele estava tão compenetrado nela que a fez se sentir tão interessante quanto um final de temporada de algum de torneio esportivo. Era essa uma das reclamações de Bianca, Carlos se incomodava muito com vida dos outros, um farrista constrangedoramente desrespeitoso.

O que eu estou fazendo? Ela começa a se questionar. Alguns minutos perto do italiano bastavam para ela quase se afogar. Poria tudo em risco por alguns momentos de luxúria?

Celine sai da sala VIP, desta vez Bianca vai atrás dela. Quando Antonio percebe, elas já haviam descido para a pista de dança e não havia nada que ele pudesse fazer. A boate era tão grande quanto um hangar de avião e mesmo assim estava apinhada de gente. Apesar da raiva por ter sido largado sozinho, sem ao menos uma palavra, ele não consegue tirar os olhos de Celine. Tomado daquela perturbação infernal, sempre que pensava em outro homem olhando para ela, tão cheio de desejo quanto ele.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora