Panarea

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Celine, assim que surgiu no convés, sorriu para ele. Mantiveram os olhos presos um no outro enquanto o tripulante se acercava de sua mochila. Para Antonio, esses momentos eram quiméricos, o mundo parado naqueles olhos de cor âmbar, seu mais doce déjà vu se repetindo dia após dia. Ele viveria por momentos assim.

- Bom dia, mia inamorata! - Diz, enlaçando-o pela cintura, beijando os lábios que ela docemente oferecia. Totalmente esquecido da irritação, da meia hora de atraso. Celine seria sua namorada pelos próximos dias, o que poderia ser melhor do que isso? - Já estava angustiado com sua demora. Cheguei a pensar em mandar um tripulante ir buscá-la.

- Ah, não, você não faria isso! E por falar nisso, eu não gostei, nenhum pouco, dessa sua coerção. Eu gostaria que tivesse conversado comigo antes.

- Perla coltivata, perdonami, mas tive de agir assim, você teria colocado mil empecilhos e eu não teria cedido, quis evitar uma briga. Merecemos um final de semana como um casal normal. Confie em mim, você vai gostar.

O pedido de desculpas feito ao pé do ouvido fora completamente desnecessário. Celine já tinha perdoado Antonio na noite anterior. Nada teve realmente importância, a coerção, a quebra da promessa, o risco. Apenas o cheiro dele impregnando os seus sentidos. Depois, as fantasias que, inevitavelmente, fora tecendo sobre tudo o que poderia acontecer entre os dois nos dias que ficariam a sós. Havia entrado no quarto completamente seduzida por essas impressões. Acontecia o mesmo naquele momento, enquanto era conduzida para o interior do helicóptero, totalmente esquecida do medo que tinha desse tipo de aeronave.

Depois de se acomodarem, Antonio a ajuda a travar o cinto de segurança e a posicionar o fone de ouvido para que pudessem conversar durante o voo.

- Antonio, tudo ok para decolagem. - O piloto avisava através do fone de ouvido.

- Andiamo. E Morales, per favore, sobrevoe a ilha de Stromboli antes de aterrissarmos.

- Positivo.

Stromboli, aquela era a única pista que Antonio dava sobre onde passariam o final de semana. Celine procura-o com o olhar interrogativo, mas tudo o que recebe de volta é um meio sorriso enigmático, sem margens para perguntas. Detestava surpresas, sentiu vontade de dizer isso a ele. Mas o helicóptero moveu-se e ela se sentiu compelida a fechar os olhos com força. Sentiu a oscilação aumentar e a gravidade sendo deslocada para o lado esquerdo.

Apenas quando uma nova estabilidade se sobrepôs à turbulência é que Celine foi capaz de abrir os olhos e respirar normalmente. Pela janela, dava para ver o iate se distanciar e ficar pequeno sobre o mar de esmeraldas.

- Oooh, está alto, alto demais....- Ela foi incapaz de segurar. - Está tudo bem, o céu está limpinho...

(Risos da cabine)

- Devia ter me avisado que tem medo de voar.

Ela ouve a voz áspera de Antonio pelo fone, e tinha algo de censura nela. Com algum custo, ela alivia a constrição dos dedos presos à barra do vestido. Suas juntas estavam brancas e doloridas.

- Mas eu não tenho, só não me sinto confortável em aeronaves pequenas. Não sei bem como explicar.... - Ela responde gaguejando as palavras, envergonhada pelas outras pessoas que provavelmente ouviam a conversa.

- Não se preocupe, será rápido. Se tivesse me avisado, teríamos vindo de lancha.

Antonio segura a mão dela e a fricciona carinhosamente contra as deles.

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioWhere stories live. Discover now