Capítulo 28 - Sobre ritmos e lares

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Existem ritmos que nos envolve em um compasso, mesmo que desajeitado.

Existem ritmos que nos faz querer parar e somente observar.

Existem ritmos que nos faz querer dançar, mesmo que for descalço.

Mas dentre tantos ritmos, o melhor de todos, era aquele vindo do silêncio noturno da madrugada, das batidas suaves daquele coração que pulsava de forma tão palpável, como se estivesse totalmente em minhas mãos.

Os olhos de Rafael estavam fechados enquanto ele se aninhava em meus braços. Minhas mãos com vida própria acariciavam seu peito nu, meus olhos não conseguiam se desviar das poucas feridas que existiam naquele rosto tão sereno, que vez ou outra se contorcia em uma careta desavisada.

Eu só não sabia dizer se as expressões que seu rosto transmitia eram de dor, ou de saudade.

— Ei, não me olhe assim — Rafael sussurrou de forma rouca ao abrir os olhos e me pegar em flagrante ao observá-lo.

— Assim como? — perguntei ao me ajeitar enquanto ele tomava postura e se sentava ao meu lado, encostando as costas nuas na parede de seu quarto, assim como eu.

— Me olhando assim... como se eu fosse um monstro — ele disse ao soltar um riso abafado.

— Um monstro? Você pode ser tudo Rafael, menos um monstro.

— Seus olhos castanhos arregalados me encarando me dizem ao contrário — falou com o humor evidente em sua voz ao segurar uma nova careta.

— Não é nada disso, é que... eu só queria que você não tivesse comprado essa briga por mim, já foram tantas coisas que aconteceram com você, com esse seu coração. Você ainda está tão frágil, não queria que saísse ainda mais machucado...

— Não se preocupe com minhas feridas Júlia Medeiros — ele disse ao pressionar seus dedos em seus lábios inchados. — Você é um ótimo curativo para mim — sussurrou, aproximando seus lábios nos meus, depositando um beijo rápido — Tanto para as feridas externas, como para as feridas internas.

Sorri ao ouvir suas doces palavras, desejando que seus lábios quentes ainda estivessem pressionados aos meus.

— Apesar de ter o poder da cura, até mesmo os curativos se preocupam com as feridas que estão aos seus cuidados — falei com um sorriso fraco.

— Não se preocupe tanto comigo minha linda, pois a única coisa que desejo de todo o meu coração é que o Bernardo não tenha forças para te destruir novamente, e eu não me importo em quantas feridas isso possa vir a me causar.

— Pelo o que estou vendo, não há jeito dele me destruir mais, não depois que conheci a fortaleza que é você.

— Vem cá vai, deixa eu vestir minha roupa preferida?

— Qual roupa preferida? — sorri confusa ao perguntar.

— O seu abraço Júlia Medeiros, é a melhor vestimenta que alguém poderia ter.

Assim que ouvi suas palavras, o sorriso em meus lábios se abriu de forma automática, e logo já envolvi meus braços em torno de seu pescoço, mal sabia ele, que o seu abraço também era a minha peça de roupa preferida.

E sobre a existência de ritmos...

A junção dos ritmos de dois corações tão próximos por conta de um abraço, esse sim, é um dos melhores compassos mais gostosos de se envolver em uma dança, mesmo se errarmos os passos, mesmo se levarmos pisões nos pés, aquele sim, era o tipo de ritmo do qual sempre valeria a pena se entregar.

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