Capítulo 01 - Adeus casulo, preciso voar!

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Hoje era meu último dia na Clínica de Reabilitação Fonseca Perez, já fazia dois longos anos que eu estava me recuperando dos vícios que enfrentei na vida. Dentre esses vícios estavam a cocaína, o crack, a heroína e Bernardo.

De todas as drogas, a mais viciante foi Bernardo, afinal foi ele que me mostrou esse novo mundo, foi ele que me ensinou a fumar o primeiro cigarro, a ter o primeiro barato fumando maconha, a fazer a primeira carreirinha de cocaína, a usar o crack e a heroína, a amar alguém.

Sim, amar, o Bernardo foi um dos meus maiores amores.

É difícil perder o vício de algo, não importa se são drogas ilícitas, manias ou pessoas. O vício é sempre complicado de largar. Sempre me perguntei, porque me "desviciar" de algo que me faz tão bem? Algo do qual era tão dependente, que me deixava ser livre, sem algemas, sem culpa... Para que me livrar de algo que me fazia feliz?

Dentro desses dois anos internada nessa clínica de reabilitação acabei entendendo que o vício pelas drogas era algo destrutivo para mim, só me sentia livre e feliz enquanto curtia um barato ou uma alucinação, aquilo pra mim era viver, mas depois descobri que eu era escrava das drogas.

Tão escrava delas que a única coisa que eu fazia da minha vida era curtir a minha curta linha de liberdade. Aqueles minutos de pura viagem era o que me fazia continuar, era o que me fazia viver, mas eu não queria as drogas verdadeiramente, não queria uma liberdade provisória em um curto espaço de tempo.

Infelizmente demorei dois anos para cair da real, me tratar e perceber que as drogas eram somente uma necessidade da qual não conseguia mais viver sem naquela época, assim como Bernardo, porém ele continuava sendo uma necessidade para mim.

Eu e o Bernardo nos completávamos. Na verdade ele me completava, pois sempre me sentia um copo vazio, ele era quem me enchia com a sua inteligência, sorriso e companheirismo, mas ele se foi, minha irmã diz que ele foi um covarde e me abandonou, mas nunca pensei assim, ainda me lembro totalmente do dia em que ele se foi, o dia em que tudo desmoronou.

Lembro das suas palavras sussurradas em meu ouvido, com aquela voz rouca "Sinto muito . Eu vou voltar pra você, eu prometo", essas foram suas últimas palavras antes de sair correndo e saltar a janela do museu do qual tínhamos invadido.

Quando ele partiu eu fiquei sem reação, parada observando ele escapar das minhas mãos.

O silêncio havia tomado conta do ambiente, eu me sentia completamente sozinha, mas depois de alguns minutos pude ouvir passos apressados, luzes de lanternas no meu rosto e vários homens fantasiados de policiais virem em minha direção.

Eu comecei a rir da cena, afinal havia acabado de me drogar, estava alta e começando a ficar sonolenta, mas depois de alguns minutos fora de controle percebi todos os olhares voltados para mim, pude ver pena e horror nos olhos daqueles que estavam em minha volta e me dei conta de que a realidade era que aquelas pessoas não estavam fantasiadas de policiais, mas sim prontas para me levarem daquele lugar.

Eu não conseguia me levantar, não conseguia fugir, minhas pernas estavam moles e tinha uma seringa com agulha em meu braço, o liquido da felicidade, era assim que Bernardo chamava a heroína. Nós adorávamos usar e ficar com todas as sensações aumentadas, loucos e eufóricos, mas essa sensação já não existia mais, pelo menos não naquele momento.

A única coisa que eu sentia era como se eu estivesse engasgada com um grito que insistia em ficar preso em minha garganta. Minha cabeça só sabia chamar por Bernardo, torcia mentalmente para ele me salvar e levar aqueles policiais dali, mas isso não aconteceu, ele simplesmente não apareceu.

InconstanteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora