Capítulo 4: Saudade

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Fiquei viajando em pensamentos até chegarmos. Mal paramos o carro já ouço latidos. Sorrio automaticamente, estava morrendo de saudade dos meus amores. Assim que desço do carro, os três já estão me rodeando, comemoraram a chegada de todos. Eram três cachorros, dois machos e uma fêmea. Filhos do Ed, o cachorro que meus pais tiveram, foi o primeiro presente que meu pai deu a minha mãe.

Ed foi tão importante para nossa família que sua partida foi uma enorme dor. Mas todos foram se preparando, ele viveu praticamente a duração máxima de um labrador. Crescemos com ele, me lembro de ter apenas cinco anos e ignorar tudo e todos só para ficar brincando com ele. Meus pais sofreram tanto com a perda, porque Ed era muito além de um cachorro, era o melhor amigo, companheiro, protetor que alguém poderia ter. Antes de partir, ele viveu um grande amor com Kira, ela era bem mais nova que ele, então foi como se ganhasse novas forças de viver. Logo após seu falecimento, Kira ficou muito abatida, mal comia. Ainda viveu por mais dois anos até ir encontrar com seu amor verdadeiro.

Meus pais preferiram que os filhotes viessem morar com nosso avós, afinal era um lugar mil vezes mais espaçoso e teriam sempre alguém em casa para cuidar deles. Filhotes é mania de dizer, todos já são labradores imensos. Todos da mesma cor de Champagne que Ed tinha misturado com os tons dourados de Kira.

Minha avó Anne me apertou tão forte quando me abraçou, eu a amava tanto. Foi engraçado ver ela falando com Ben, dizendo que ele estava mais magro, que não estava se alimentando direito. Coisas de mãe. Ainda mais por ele ser o caçula, a atenção sobre ela era imensa. Meu pai morria de ciúme.

- Minha neta está cada dia mais bonita. - Vovô me elogiou assim que o alcancei. Nos abraçamos forte. Adorava conversar com ele, suas histórias eram as melhores.

As horas passaram voando. Meus pais foram dar uma volta pela trilha que tinha nos arredores...Esses dois não perdem uma oportunidade. Charlie estava lendo um livro para sua aula de literatura. E eu estava olhando para o nada.

Levei um susto quando Tio Ben aparece sem camisa, com uma bermuda de banho e uma toalha pendurada no ombro. O que é aquele corpo? Respira.

- Vamos para o lago, estou morrendo de saudades daquele lugar. - ele me chamou. Eu fiquei com cara de lesada. - Vou te esperar. Vamos logo!

Acorda Leah! Meu consciente gritou. Levantei da poltrona que estava sentada e fui pegar meu biquini... Espera biquini, eu ia ficar apenas de roupas de banho na frente dele? Isso obviamente já aconteceu antes mas eu era criança, não tinha peitos e nem essas gordurinhas localizadas. Droga.

Vesti o biquini, coloquei um short. e peguei a toalha. Minha vontade era de vestir um lençol gigante, como eu ia ficar do lado daquele corpo com o meu corpinho? Ouvi ele chamando pelo meu nome. Respira 2. Eu estava patética. Foquei na conversa que tive comigo mesma a poucos dias atrás, precisava pular para outro. Abrir meus horizontes, olhar mais para outros garotos. Garotos da minha idade e que não tenham compatibilidade genética comigo, talvez.

Era só um mergulho no lago. Apenas.

- Você demorou, imagina no dia do seu casamento, vai deixar o noivo plantado por horas. - brincou, se o noivo fosse ele acampava na porta da igreja para não perder nenhum segundo.

Nem respondi porque não havia nada que eu pudesse dizer que não fosse soar estranho. Caminhamos poucos metros e já estávamos com toda aquela visão à nossa frente. O lago era imenso, tinha um deck de madeira, fomos até sua ponta. Nos sentamos lá.

- Amo Nova Iorque mas nada se compara a esse lugar - ele disse olhando para a água escura e brilhante.

- Você pretende voltar para lá quando seu estágio acabar?

Entre VírgulasWhere stories live. Discover now