Prólogo

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        Um grito de agonia irrompeu a noite chuvosa. Todos os prédios do campus da ECP-RS estavam mergulhados na escuridão, exceto quando os relâmpagos apareciam no céu, iluminando os interiores dos blocos, revelando os esconderijos daqueles que zelam por suas vidas. Um forte estrondo anunciou que uma das portas de vidro da escola havia sido estourada e por ela saiu uma garota, escorregando sobre os cacos de vidro e tropeçando na cadeira que ela mesma tinha usado para fugir.

        Caiu de joelhos em frente ao prédio de enfermagem e a lama respingou pelo seu corpo. A jovem, com os cabelos negros grudando no rosto por causa de uma mistura de água da chuva e sangue, olhou para frente, procurando por um novo abrigo, que fosse mais seguro, mas se esconder em outra construção não era sinônimo de segurança, ela poderia acabar encurralada outra vez.

       E então, decidiu correr. Traçou um trajeto em sua mente: ir pela rua principal de entrada da escola a deixaria muito exposta, então correria em direção aos estábulos, passaria pelo milharal, cruzaria a floresta de eucaliptos e por fim, chegaria na rodovia principal. Respirou fundo e se pôs a correr. Não olhou para trás uma vez sequer, não queria saber se estava sendo perseguida, ou se seria alcançada, queria apenas buscar ajuda o mais rápido possível. Em momento algum deixou de pensar em sua irmã gêmea, "será que ela conseguirá escapar?", desejava que sim, sabia que era arriscado deixá-la para trás, mas se as duas estivessem correndo agora, seriam um alvo ainda mais fácil.

         Parou em frente ao estábulo, as porteiras estavam fechadas e os cavalos relinchavam lá dentro, pulou o cercado de madeira para poder dar a volta no lugar e entrar por uma janela nos fundos, decidida a soltar os animais, na tentativa de conseguir mais tempo e despistar seu perseguidor. Abriu cada uma das trincheiras e então a porteira principal, tocando os animais na direção pela qual ela tinha chegado ali, primeiro eles correram juntos, mas logo se dispersaram pelo terreno do campus. Tirou a jaqueta jeans que estava vestindo, porque a mesma pesava devido ao fato de estar molhada e a jogou atrás de um fardo de feno, prendeu os cadarços de seus coturnos com maior precisão e rasgou uma tira de sua camiseta branca para que pudesse amarrar seus cabelos.

        Saiu do estábulo e correu em direção ao milharal, tinha de ser precisa e correr entre os pés de milho em uma linha reta, para não se perder e chegar o mais rápido possível do outro lado. As folhagens arranhavam seus braços e rosto, mas ela não se importava, aquilo doía menos do que ser esquartejada. Parou subitamente ao ouvir barulhos de passos vindos em sua direção, "Não pode ser ele!", pensou consigo mesma, enquanto olhava para o chão, procurando algo com o que se defender, mas não havia nada que pudesse fazer algum estrago por ali. Voltou a correr, agora sem ter tanta certeza de que direção seguir, olhou para trás quando percebeu uma movimentação no milharal, e ao virar-se para frente novamente, deparou-se com uma cerca de arames farpados e não teve tempo de diminuir a velocidade.

        A garota caiu sobre a cerca e gritou ao sentir as farpas metálicas perfurar sua pele e quanto mais ela se mexia, mais presa ficava, precisava se acalmar, mas ao olhar para o lado acabou entrando em pânico ao ver o corpo de uma outra estudante, também presa aos arames, mas com a garganta dilacerada. A garota fechou os olhos, tentando não gritar de agonia enquanto tentava se soltar, então algo a segurou e a puxou para cima, arrancando-a das farpas e jogando-a para o outro lado da cerca. E ela gritou apavorada enquanto ia de encontro ao chão e por um momento ficou sem respirar, mas ela não tinha tempo para aquilo caso quisesse sobreviver.

        Abriu os olhos e olhou rapidamente para trás, apenas para ter certeza de que aquele maluco doente estava em seu encalço, levantou-se e correu, desviando dos troncos magros de eucaliptos, o solo estava escorregadio por causa da chuva, mas ela dava seus passos com destreza, era uma sobrevivente, sabia que escaparia, mas não sabia da armadilha que estava a poucos metros à sua frente.

        Surpreendeu-se quando sentiu algo pressionar seu tornozelo esquerdo e soltou um grito quando foi puxada para frente e perdeu o equilíbrio, caindo de costas e batendo a nuca contra uma pedra, foi arrastada por alguns segundos e então erguida do chão, pairando no ar, de ponta cabeça a mais ou menos um metro do solo, presa por uma corda. Estava zonza por causa da queda e por estar girando, esticou os braços, procurando um lugar para se apoiar, mas mal conseguia se firmar no tronco da árvore.

        Sentia que sua cabeça ficava cada vez mais quente e avermelhada, quanto tempo aguentaria naquela posição antes de apagar? Piscou os olhos na tentativa de decifrar o que era, ou não, sombra entre as árvores daquela floresta e pensava como poderia escapar, mas não conseguia chegar a nenhuma solução.

        Gritou por ajuda três, ou quatro vezes e foi então que ele surgiu, correndo em sua direção implacavelmente e a garota gritou outra vez, mas de pavor, sabia que aquele era seu fim. Um relâmpago percorreu o céu e refletiu na lâmina do machado que estava ganhando altura e impulso no ar, para, em seguida, acertar o rosto da jovem.

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