Segundo Capítulo

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Naquela manhã de sábado, Andrea aproveitava o tempo para se descontrair e se divertir após uma semana de aulas. Andrea estudava no primeiro ano do segundo ciclo, também designado por "5°ano de escolaridade obrigatória". Até então sempre se revelara como uma aluna bastante razoável, mas era ainda difícil falar da sua adaptação ao novo ciclo que iniciara há pouco mais de um mês.

- Bom dia Ana! Como estás hoje? - Ana tinha brilhantes olhos castanhos e uma face larga com bochechas bem redondas, como o seu chapéu cor de creme. Da cor do chapéu era também o seu longo vestido com várias rendas de detalhes impressionantes.

- Bem obrigada!

- E tu Eliza? - Eliza era bem diferente de Ana. Mais alta, magra e elegante. Era clara como Melanie, realçando-se assim por entre as vestes em tons de "vinho tinto". Seu grande chapéu tinha uma pluma branca e era ligeiramente ondulado, e o seu vestido, em nada menos detalhado que o de Ana, escondia-lhe completamente os pequenos pés e tudo em seu redor.

- Estou ótima! Posso servir-te o chá?

O aroma a camomila espalhava-se entre elas.

Andrea pegou na asa da sua pequena chávena de loiça branca e aproximou-a dos seus lábios. Soprou o vapor e encostou a borda da chávena à boca para o primeiro gole.

- Mmmm... Está muito bom!

Ana e Eliza sorriram juntamente com ela!

Passos do outro lado da porta causaram uma pequena quebra na atmosfera de Andrea. A criança viu uma sombra por debaixo da porta. O puxador inclinou-se e a porta abriu no instante seguinte.

- Mamã!?

- Andrea, temos visitas.

- Quem? - A Valentim mais nova mostrou-se um pouco alarmada.

- É a Clara! - Melanie sorriu ao dizê-lo. Já Andrea fez uma expressão preocupada. - Vem para baixo para os recebermos...

Assim que a sua mãe fechou a porta, Andrea reagiu... apressadamente!

- Perdoem-me! Perdoem-me! - Aflita. - Depois conversamos mais um pouco! - Eliza e Ana foram as primeiras a serem guardadas num baú que havia no canto contrário à porta, mas a elas juntaram-se, em poucos segundos, todas as suas restantes bonecas de porcelana. Acomodou-as com o maior dos cuidados. - Perdoem-me! - Repetiu uma vez mais antes de fechar o baú. Trancou o aloquete no fim.

Andrea detestava ter que guardar as suas amigas daquela forma, pois sabia perfeitamente que ficavam bem melhor em cima da sua mobília que encafornadad naquele local umas contra as outras. Ela só o fazia quando a Clara a visitava, isto, desde que a num certo dia a sua amiga de "carne-e-osso" partiu duas das suas bonecas, brincando desageitadamente com elas como se fossem umas quaisquer "barbies" de plástico.

Andrea desceu minutos depois, trazendo cautelosamente a sua chávena vazia pousada sobre o respetivo pires. À entrada, com Melanie, estavam já o Sr. Roberto e a sua filha, Clara.

- Bom dia! - Cumprimentou-os.

- Bom dia Andrea. - Retribuiu ele com uma cordial simpatia. - Estás bem?

Clara correu até ela antes sequer que ela conseguisse responder ao seu pai.

- Sim, obrigada! - Respondeu rapidamente, segurando no pires com firmesa ao ver a outra aproximar-se num ápice. Virou-se um pouco para o lado para a resguardar.

- Olá Andrea! - Tinha uma voz bastante aguda. - Vamos brincar!?

- S... Sim. Deixa-me só... - Caminhava em direção à cozinha. - Vou só levar isto...

Enquanto que Andrea tinha colocado apenas um vestido de curta manga cinza-claro pela cabeça, a descair subtilmente por cima dos collants pretos, Clara estava vestida com uma sweat rosa, umas leggins pretas que ajudavam a realçar o fato de ela ser bastante magra, e calçava umas "nike", pretas e cor-de-rosa, a condizer com a roupa. Andrea calçou também umas devido à inesperada visita, mas brancas com listas negras, da marca "adidas". Antes disso estava descalça, como habitualmente o fazia apesar das constantes repreensões da mãe para que ela calce, pelo menos, as suas pantufas "da pantera".

Rodrigo usava sempre jeans e camisas. Naquele dia de sol, optara por uma branca. Decidira-se por uns sapatos castanhos de design moderno, apesar de se sentir mais confortável com o uso de sapatilhas.

Exatamente ao contrário da situação de Carlos, neste caso era Rodrigo quem sentia "algo" por ela, mas sem grande contrapartida por parte da Sra. Valentim. Na verdade ela recebia as suas visitas por mera educação e simpatia. Era ele quem praticamente se fazia de convidado.

Clara tinha nove anos e andava na quarta classe, ou quarto ano. «Felizmente!» Pensava Andrea para si sempre que pensava nisso.

Ela só estava com o pai aos fins-de-semana, o que era, para ele, mais uma boa justificação para fazer as eventuais visitas. «Assim elas podem brincar as duas! Sempre é melhor para a Clara ter uma amiga da sua idade...» - ...na verdade, nove meses mais nova... - «...para brincar!» Rodrigo tinha-se divorciado e era essa agora a condição que tinha com a sua ex-mulher.

Andrea não rejeitava a amizade de Clara de forma alguma, apesar de ter laços mais fortes com os seus colegas de turma. Apenas a achava demasiado imatura.

Ao contrário da sua mãe, ela achava Rodrigo mais simpático e interessante que Carlos.

Enquanto os adultos ficaram a conversar na sala-de-estar, as crianças foram para o quarto. Excecionalmente naquele caso, Andrea tinha preferido ir para a pequena rua praticamente sem trânsito bem ao lado da sua casa, mas Melanie pediu-o para não o fazer após Rodrigo ter revelado alguma preocupação com a hipótese.

- Que vamos fazer!? - Clara, já escalando para cima da cama "fofa".

- Queres desenhar? Ou pintar? - Andrea, vasculhando os materias necessários para o efeito.

- Sei lá... - Clara saltou da cama. Não chegou a lá estar mais do que dez segundos. Veio para junto de Andrea e abriu a gaveta ao lado da que esta tinha aberto. Começou inocentemente a coscovilhar. Encontrou o que parecia ser uma agenda de capa preta, mas que era na verdade um bloco de apontamentos de tamanho A5. - Uau! O que é isto!? - Soltou o botão-íman que a mantinha fechada.

- Não mexas nisso! - Andrea arrancou-lho das mãos! Apesar do esforço por mantê-lo fechado, não conseguiu evitar a queda de um papel. Tratava-se de uma fotografia que ficou voltada para cima. Clara, astuta, antecipou-se a agachar-se para a apanhar. - Dá cá! - Andrea tirou-lha das mãos de uma forma tal que a poderia rasgar. Arrependeu-se de o ter feito daquela forma, mas ficou aliviada ao ver que a foto estava intacta.

Na fotografia, a sua mãe, dez anos mais nova, usando um fino vestido violeta lindíssimo, ao lado de um homem bastante elegante que nunca tinha vista a não ser naquela foto. Ele estava de fato e a sua gravata preta não se iria sobressair caso não fosse o vermelho vivo da camisa à qual se sobrepunha. Tinha o cabelo penteado para trás, brilhante, como que sob o efeito de gel, e usava barba unicamente por debaixo do queixo, tipo "pêra".

Estavam ambos debaixo de uma cerejeira em flôr, ou sakura, em japonês, no jardim ou pátio de uma casa que, apesar da fotografia não o permitir entender devido ao zoom feito sobre o casal, lhe parecia estranhamente familiar.

- É o teu pai? - Perguntou Clara um pouco ressentida ao notar o aborrecimento da amiga.

Andrea limitou-se a encolher os ombros. A pergunta de Clara pareceu despertá-la e el voltou a guardar rapidamente a foto no interior daquele seu bloco que lhe era tão importante como um diário pessoal.

PorcelainHearth: Coração de PorcelanaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora