Camponês

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A primeira vez que vi a cabana da bruxa, eu tinha 14 anos. Havia caminhado por milhas através dos campos e da floresta da lenda, perdendo-me em meio ao matagal fechado, até achar o que tanto procurava e temia. Nessa hora o horizonte já absorvia a luz do sol para o oeste.

Apoiada na encosta de uma montanha a casa se encontrava. Pedras amontoavam-se sobre pedras formando uma pequena e tosca construção, que só se mantinha de pé pelo barro que preenchia as frestas das paredes cinzentas e pela vontade de Deus, se Este estivesse ali. O teto era madeira e limo. As janelas, apenas buracos desprotegidos da chuva e vento.

Eu me aproximei daquela morada horrenda caminhando por uma trilha grosseira. Bati com os nós dos dedos na porta, temendo que a madeira apodrecida se desfizesse logo ali em minha frente. Não houve resposta, mas a porta se moveu sozinha, dando-me passagem.

Entrei a passos leves sobre o chão de terra batida e chamei:

− Olá...

Nada. Olhei ao redor. Estava escuro, mas pude notar que quase não havia móveis. Uma mesa de madeira com um banco solitário e uma cama rústica de palha. Na parede, uma lareira, negra de fuligem, e sobre ela um caldeirão tão escuro quanto. O cheiro de poeira do lugar só era superado pelo odor do mofo.

Só então percebi a outra porta, alguns metros à minha frente. Parecia levar a um outro cômodo, escavado na montanha. Talvez um depósito para poções mágicas, pensei, tentando me acalmar. Então meus olhos se acostumaram com a escuridão e eu vi o vulto da velha.

Meu coração parou por um segundo e tive que me apoiar na parede para não cair, mas o maior esforço foi simplesmente não abandonar minha busca e fugir. A velha saiu da escuridão da outra sala e entrou na penumbra onde eu ainda recuperava o fôlego.

− Hihihi... – ela riu. – Assustei você, num foi, pequeno?

Eu tentei negar com a cabeça, mas a visão da velha me desmentia. A bruxa era algo disforme e assustador. Curvada como nunca vi uma pessoa se curvar e enrugada de uma maneira que nunca achei ser possível. Vestia um manto negro com capuz, que jogava sombras sobre sua face, mas ainda não impedia de se ver seu grande nariz aquilino e seus cabelos grisalhos.

− O que você quer aqui? – perguntou-me naquela voz esganiçada.

Engoli a saliva antes de responder:

− Eu ouvi falar de você, mas não sabia se era verdade.

− É verdade sim, pequeno, mas num foi isso que perguntei.

Aprumei-me, tentando me encher de coragem.

− Ouvi falar que você realiza desejos – falei.

− Ouviu errado, pequeno. Isso é coisa de fada. Eu posso fazer muitas coisas, posso sim. Posso ferir e curar feridas, posso colocar e tirar maldições, posso te arrumar o melhor remédio e o pior veneno. – Sorriu. – E eu posso ajudar você a ser quem quiser ser.

− E qual é a diferença?

− A diferença é que pra funcionar, você precisa me pagar. E o preço é um que as fadas nunca iam cobrar.

Acabei por me desanimar com essa informação.

− E onde acho essas fadas?

− Ninguém sabe, pequeno. É por isso que todo mundo vem procurar eu... Hihihi... – ela riu orgulhosa.

− Qual é seu preço? – perguntei hesitante.

− Primeiro me fala o que você quer, pequeno.

− Ontem um cavaleiro apareceu na minha vila. Ele precisava de um escudeiro e por isso escolheu um dos meus amigos. Mas eu queria ser o escolhido – disse com uma pontada de raiva na voz.

A Ascensão de Ryne MeadowWhere stories live. Discover now