Capítulo 13 - 8 de julho (Pedro)

100 8 2
                                    


8 de julho de 2016

Meu caderno preto,

Desculpa a falta de alguma palavra amistosa, mas o que te tenho para contar é demasiado bom para esperar.

Não ganhei o Euromilhões, não! Mas a sensação que tive acredito ser a idêntica a quando se ganha. Mas vá, vou deixar-me de rodeios.

Como te tinha dito na entrada anterior, ia tentar ir ao cinema com o meu irmão, mas tal não foi possível. Fiquei até triste, confesso-te, mas depois não conseguia tirar a Sofia da cabeça. Simplesmente não conseguia.

Assim, olhei para o relógio e, como vi que ainda era relativamente cedo, decidi ir correr. Tal como tinha o hábito de fazer diariamente antes de me agarrar aos estudos.

E corri, bastante até.... Acho que os pensamentos que tinha com a Sofia alimentavam a minha vontade e foi no meio dessa correria desenfreada, pelas ruas de Leiria, que me cruzei com ela.

Sim ela! A SOFIA!

E isto não foi o melhor! CALMA!

Mas deixa-me contar-te como deve de ser o que aconteceu.

Estava eu a caminhar, a mudar de música mais propriamente, correndo ao lado do rio, atrás da garagem de autocarros, quando o meu ombro roçou em alguém. E era ela! Fiquei tão atónito que quase deixava cair o telemóvel no chão:

- Oh... desculpa, estava... - atabalhoei rapidamente, sentindo as palavras esmorecerem-me na boca à medida que tomava consciência de quem tinha à minha frente.

Quase que não a reconheci. Não era aquela rapariga maquilhada e de cabelo esticado e vestido que me atormentava os sonhos desde que a vira no sábado passado. Não. Ela agora estava completamente diferente. Desde o seu rosto limpo, até ao cabelo preso num nó no topo da cabeça, como se fosse uma verdadeira corredora. A sua própria roupa transmitia-me isso, ao vê-la com um top desportivo rosa e umas calças justas cujo nome não me atreveria a adivinhar.

- Não tem mal nenhum! – retorquiu-me, levando o seu olhar até ao meu.

Foi quando me reconheceu e os seus olhos falaram comigo. E, foi neste momento, que soube o porquê de a ter reconhecido. Eu costumava passar por ela quando corria. Há meses que isso acontecia. Por isso a minha estranha obsessão por ela. Eu conhecera-a primeiro. Primeiro que o Carlos!

– Oh, és tu!!!

Ela parecia mesmo animada, meu diário!

- Olá! Lembras-te de mim! – exclamei estupidamente, arrependendo-me logo das palavras que usara.

- Claro que sim! Na festa. Estavas ao lado do teu amigo. O Carlos.

- Sim... O Carlos... - retorqui amargamente. Sentia-me na verdade triste por ser apenas daquilo que se lembrava.

- Oh, não sejas assim! Levantaste-me do meio do chão no meio daquela confusão. – respondeu, rindo-se em seguida. – Desculpa. É só porque reparei que rimei.

Ela riu-se e eu ri-me com ela. Derretido pelo seu riso encantador. Uma gargalhada que sem dúvida gostava de poder ouvir para o resto da minha vida...

- Pois foi – respondi-lhe no meio das gargalhadas parvas e tímidas.

- Mas obrigada! Já agora, posso saber o teu nome? Gosto de agradecer como deve de ser.

- O prazer foi todo meu – respondi. Não conseguindo evitar sorrir, tal como ela, pelas palavras usadas. Claramente que estávamos os dois divertidos. E era algo que só ela me tinha feito. – Sou o P...

E foi quando o telemóvel dela tocou que parte de mim emorneceu.

- Desculpa...Tenho mesmo de atender! Vemo-nos depois, parceiro de corrida?

Assenti, deixando-me contagiar ainda pela sua boa disposição.

- Até mais! Sou a Sofia... - retorquiu, já quase num sussurro, levando o telefone ao ouvido para começar a falar com quem quer que fosse mais importante do que eu.

- Sofia... Eu sei... - contei ao ar, que agora se agitava, afastando as minhas palavras.

E foi assim.

Tal e qual.

Lembro-me de ter sentido inveja de quem quer que fosse que lhe tivesse ligado. Alguém certamente mais íntimo e que pudesses desfrutar da sua voz doce e calorosa. Alguém mais importante que eu... Alguém que fosse mais que um mero parceiro. Que fosse mais que um "parceiro de corrida" ....

Pedro

P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Where stories live. Discover now