Conto 03: Cormorant, Camburão - Neto Andrade

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Título do conto: Cormorant, Camburão.

Nome do autor ou pseudônimo: Neto Andrade.

Cidade e estado a qual a história é ambientada: Paranaguá, Paraná.

Censura do conto e o gênero literário: "14" segundo a classificação da TV: morteintencional; preconceito; prostituição; insinuação de consumo de drogasilícitas. Conto histórico baseado em fatos reais, parteatual ficcionalsumo.

Pequeno resumo do conto ou sinopse: Descrição de Paranaguá, sua geografia e algunspontos turísticos através de um de seus momentos históricos mais dramáticos edo cotidiano atual.

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Hino de Paranaguá

Aos nossos mares vieram dantes

Antigas naus, velas possantes

30 de junho de 2016

A Casa de Choppalha é absurdamente democrática.

Seu grande letreiro é ladeado pela silhueta de dois caubóis, a cumprimentar possíveis peões clientes. Do outro lado do muro, cinco ou seis mesas de concreto perfuradas por uma cobertura de palha, qual guarda-chuva, decoradas com temas praianos e bandeirinhas de cerveja, o que se espera de uma cidade litorânea.

A Casa de Choppalha é sonoramente democrática.

Depois das cabaninhas, um espaço de três metros quadrados cercado por canhões de luz pretende-se pista de dança. No alto-falante, um pagode popular com graves tão distorcidos que mal dá para identificar. Metal? Funk? Pancadão?

A Casa de Choppalha é familiarmente democrática.

Passe pela pista e você encontra o boteco de sempre, paredes bicolores, luz muito baixa na esperança de esconder o chão manchado e os móveis e mesa de sinuca gastos. Atrás do balcão, alguém também gasto pela vida observa o vai e vem de clientes e de profissionais, mulheres de muita maquiagem e largos sorrisos, encobrindo os corpos e sonhos também gastos. E que durante a noite, sofrerão mais com o atrito, os apertos, o vai-e-vem mecânico que existe desde que o mundo é mundo.

A Casa de Choppalha é convenientemente democrática.

A esquerda, o hotel mais luxuoso da cidade, onde convenções significam muitos homens de negócios, pais de família, entrarão no bar em busca de algo que nem eles sabem o que. À direita, a ponte estreita liga a ilha com seus moradores humildes ao continente. Liga trabalhadores às mesas com esquecimento líquido. De todos os lados, fluem estudantes aprendendo sobre a vida na velocidade de seus Redbull com vodca. Senhores dos poderes executivo, legislativo, judiciário, de fato e oculto afrouxam as gravatas, pedem umas loiras. E também cerveja.

A Casa de Choppalha é democrática. E basta.

Todos podem entrar e comprar dois dos três itens essenciais para suportar a vida urbana. Só o Rock'n'roll está em falta. Alguém se sobrepõe ao barulho.

— Ih, é o Bagrinho.

29 de junho 1850

Hoje, Tobias percebe que é verdade o que ouvira ontem.

Ontem, Domingo, permitiram que Tobias acordasse um pouco mais tarde. Ainda escuro, colocou o pé descalço na estrada de terra, poeira cobrindo as pegadas frescas. Ele já em sente os espinhos e pedras no caminho, pele curtida de sol e trabalho, trabalho. A paisagem muda aos poucos, o sol aparece devagar, delineando as poucas árvores e casas do caminho. Aqui e ali, os ruídos monótonos de quero-queros e sabiás-laranjeiras. Mais uma hora, os pés deixam a terra batida, dura, e atravessam o calçamento de pedra irregular, que o dia já vai aquecendo. Durante o caminho, passam por ele algumas charretes e cavalos, carregando as sinhás e os sinhôs para um destino similar. Assim como a marcha dele e de seus companheiros o fez passar por palanquins. Muitas vezes ele carregou a sinhá e a bebê no palanquim. Davam-lhe roupas melhores para não fazer feio frente aos outros senhores, quando estava muito quente até um chapéu. E sinhá não pesava tanto assim. Agora, mais crescida, sinhá e sinhô acham que a menina pode viajar com segurança na charrete com eles. O palanquim ficou encostado na fazenda, esperando o dia que a velhice dos senhores irá fazê-lo ser usado de novo. Olhando para a direita, ele vê, lá embaixo, o rio onde criança era impedido de nadar. Quase sempre.

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