4 - Recompensa

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Desci as escadas correndo.

Minha mente estava fraca, assim como minhas pernas e minha convicção. Mas Yaya tinha certeza que alguém abriu a porta e, considerando o lugar e horário, havia uma possibilidade que eclipsava todas as outras.

Se Vanessa tivesse nos visto, ou pior... se ela tivesse conseguido quaisquer provas, nossa negociação ficaria muito mais complicada.

Ela estava do lado de fora, abraçando a si mesma enquanto esperava o manobrista trazer seu carro.

Foi o modo vulnerável e desolado como se abraçava, o formato encurvado de seus ombros geralmente altivos, mas, acima de tudo, foi o fato de que ela estava indo embora - depois de ter concordado em conversar comigo - que me convenceu que tinha sido ela nossa intrusa.

- Vanessa.

- Não, Joe. - ela abanou a mão no ar, indecisa sobre qual gesto seria apropriado - Só... não. - pediu.

- Achei que íamos conversar.

- Eu também. - virou-se, deixando que eu visse a mágoa em seus olhos. Ela não chorava, mas queria - Achei que íamos conversar, mas você tinha outros planos, não é mesmo?

- Não foi intencional. Eu e Yasmine apenas...

- Não me importa o que "você e Yasmine apenas..." - rugiu, rouca - Queria esfregar outra mulher na minha cara. É seu jeito de se vingar? Como se você merecesse retribuição depois de ter sido um canalha comigo.

- QUANDO eu fui um canalha com você?

Estávamos atraindo olhares. Fotógrafos esperavam do lado de fora da mansão e eu... eu queria manter o meu record inalterado, se possível. Vinte e seis anos de vida sem qualquer escândalo público ou drama romântico. Trazia seriedade para a empresa e gravitas para minha posição. Não ia estragar isso porque Vanessa não entendia um desejo sexual ou dois.

- Quando? - repeti mais baixo, impondo meu ritmo a nossa conversa.

- Não me faça colocar em palavras. - desvencilhou-se do toque suave que mantive em seu cotovelo.

- Você quer se livrar de mim. Sei que quer. Assine a proposta, Vanessa. Só... só assine de uma vez e vai acabar. Para nós dois. Você não quer ficar em paz?

- Minha família não quer que eu assine. - abriu os olhos, desafiando-me - E, depois dessa noite e de sua provocação...

- Não foi uma provocação!

- Eu estou tentada a concordar com os anseios de meus pais. Mas, por enquanto, só o que posso lhe dizer é "não", Joe. Não vou assinar.

O manobrista manteve as chaves suspensas no ar, incerto sobre qual seria a coisa certa a fazer. Tomei a chave de seus dedos, apenas para permitir que se fosse.

- Devolva minhas chaves.

- Vanessa, seja razoável.

- O que fez com aquela mulher, Joe? - seus olhos se estreitaram, ariscos - Eu tenho certeza que a ouvi dizer "não". O que fez com ela? - suas palavras minguavam em denúncia e eu me senti enojado.

- Que diabos está dizendo, Vanessa? Faz ideia do que está me acusando?

- Não ouvi você negar.

- Não lhe devo satisfações. E quanto a Yasmine... não fiz nada que ela não quisesse. Fique certa disso.

Ela balançou a cabeça como se nada que eu dissesse pudesse ter qualquer credibilidade.

Devolvi suas chaves e a assisti fugir.

[Degustação] MalíciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora