Capítulo 34 - Juntando Os Cacos

Start from the beginning
                                    

   Inês não seria tão baixa de usar sua gravidez para provocar Carlota. Ela resolveu ficar calada, o que não quer dizer que teria que ficar aguentando aquela mulher.

   - Consuelo, de forma bem gentil, e sem tocar na barriga de Carlota, a conduza até a saída, por favor. - disse Inês.

   - Sim, senhora. - disse Consuelo a segurando pelo braço. - Vamos "granfina"!

   - Mas isso é um absurdo! Não pode fazer isso! - esbravejava Carlota.

   Enquanto Consuelo "cuidava da visita", Inês fazia mais uma tentativa.

   - Victoriano, abra essa porta. - dizia ela suave e ao mesmo tempo firme.

   - Inês, eu já disse que quero ficar sozinho. Vá embora.

   - Você me disse hoje, no hospital, que não desistiria de mim, como acha que eu posso fazer isso com você, Victoriano? - disse ela. - Por favor, abra.

   Victoriano cedeu e resolveu abrir a porta. Ao entrar no escritório, Inês se depara com o mesmo todo revirado, tinha vidro quebrado por toda a parte, e Victoriano tinha um corte feio na mão.

   - Meu Deus, do céu! Victoriano, o que você fez?! - exclama Inês. - Benito!… Benito!

   - Sim, doutora. - disse ele vindo mais que depressa.

   - Foi você que a chamou aqui, não foi? - disse Victoriano contrariado.

   - Me desculpe, patrão. Mas tava todo mundo preocupado com o senhor. - disse Benito.

   - Ninguém respeita mais a minha vontade nessa casa! - disse Victoriano visivelmente bêbado.

   - Não ligue pro que ele diz, Benito, traga o estojo de primeiros socorros, por favor. Victoriano está com um corte horrível na mão e está saindo muito sangue, depressa. - disse Inês.

   - Sim, senhora. - disse Benito saindo.

   - Olha!… Ela já manda como se fosse uma Santos! - disse Victoriano debochando.

   - O que foi que deu em você, afinal?! - disse Inês bem séria sentando-o na cadeira.

   - Estava redecorando o escritório, qual é o problema?

   - Pare de ser debochado!… O que aconteceu?

   Benito chega com o estojo.

   - Aqui está, Doutora.

   - Obrigada, Benito. Pode ir, se eu precisar eu chamo. - disse Inês.

   - Sim, senhora.

   Inês, com uma pinça, ainda tirava alguns cacos de vidro da mão de Victoriano antes de limpar o ferimento.

   - Me diga, Victoriano. O que houve? - ela insistia.

   - Você tinha razão, morenita. Tinha toda a razão.

   - Do que está falando?

   - Eu sou o culpado! - disse ele. - Eu a minha mentira!

  
   Inês fica imóvel.

   - Não me diga que…?

   - Sim. Diana já sabe de toda a verdade. Aquele maldito contou a ela no hospital.

   - Ah, Victoriano!… Eu sinto muito. - disse Inês de coração partido em ver seu amor ali, tão frágil.

   - Ela não quis me ouvir. Me expulsou do quarto como se eu fosse um nada! - disse ele deixando algumas lágrimas caírem. Naquele momento, o grande Victoriano Santos, macho forte e viril, deu lugar a um homem sensível que chorava com medo de ter perdido sua filha.

   - Victoriano, por Deus, não fique assim. - disse Inês. - Eu sei que foi um golpe muito duro pra Diana, mas você não pode se deixar abater.

   - Você tinha que ter visto, Inês. Tinha ódio e revolta nos olhos dela. Ela estava triste.

   - Vem. Vou pedir pro Benito te levar até o quarto. Não é bom que suas filhas te vejam assim, se acaso esqueceu, você ainda tem duas filhas que precisam de você. - disse Inês.

   - Minhas princesinhas!… Eu vou vê-las, elas bateram na porta, eu não abri. Devem ter ficado preocupadas. - disse Victoriano tentando ficar de pé.

   - Nada disso! Você não vai até elas desse jeito! Pode esquecer! - disse Inês.

   - Você não manda em mim, Inês!

   - Quer apostar?… Benito!

   Ele vem prontamente.

   - Pode dizer, Doutora.

   - Leve Victoriano para o quarto dele, não deixe que ele veja as meninas nesse estado, coloque-o debaixo do chuveiro frio. - disse ela.

   - Opa!… Homem me dando banho aí é demais!… Prefiro que você faça isso, morenita. - disse Victoriano sorrindo.

   - Vejo que não está tão bêbedo! Até graça está fazendo!… Eu subo logo em seguida, você precisa de um curativo nessa mão e de um café bem forte. - disse Inês.

   Benito fez como Inês dissera. Levou Victoriano para o seu quarto, o colocou debaixo do chuveiro, muito a contragosto de seu patrão e logo em seguida, Inês entrou com um café bem forte e ataduras para o curativo de Victoriano.
   Ele toma o café e sente que está ficando melhor, enquanto isso, Inês lhe fazia curativos na mão.

   - Você podia ter se machucado seriamente, Victoriano. O que foi que te deu pra esmagar um copo com a mão? - disse Inês.

   - A raiva foi tanta que eu nem pensei.

   - A raiva é má conselheira, Victoriano. Sempre que nos deixamos levar por ela, fazemos coisas impulsivas e até perigosas. - disse Inês. - Pronto. Acabei.

   - Você também andou esmagando copos com a mão? - disse ele reparando na mão enfaixada de Inês.

   Ela fica receosa. Sabia que Victoriano tinha que saber de sua gravidez, ele tinha o direito. Mas aquele não era o melhor momento. Ele tinha problemas demais.

   - Eu machuquei, só isso. Não é nada demais. - disse ela. - Agora, eu quero que descanse. Amanhã conversamos.

   Inês se levanta, mas antes que possa sair, Victoriano segura em sua mão.

   - Por favor, Inês, não vá embora. Fique. … Fique aqui comigo.

   Ela o olha com ternura. Victoriano parecia uma criança assustada.

   - Está bem. Eu fico.

   Ele abre um sorriso.

   - Mas só se prometer se comportar. - disse ela séria.

   - Eu prometo. … A única coisa que quero e preciso, é você perto de mim. - disse ele.

   - Tá bom. … Chega pra lá!

   Victoriano se afasta para que Inês se deite ao seu lado. Mas assim que ela se deita, ele se aproxima e a abraça por trás.

   - Você prometeu se comportar. - disse ela.

   - Sou um homem de palavra, morenita. Só o que quero é ficar assim,  juntinho de você. Você deixa?

   - Claro que deixo, cowboy. - disse ela segurando na mão dele é se aconchegando mais em seus braços.

   Por mais incrível que possa parecer. Eles, realmente, dormiram. Um nos braços do outro.

  

  

Um Encontro Do DestinoWhere stories live. Discover now