Capítulo 10 - Educação familiar

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--- Eu sei. --- "Não, não sei", pensou Tadeu.

--- Você deve considerar a carreira política, Tadeu. Seriamente.

--- Pai, eu...

--- Não, não é preciso decidir por ela agora. --- Emendou ele, voltando-se para Tadeu novamente. --- Ou, bem, decidir-se por ela. Mas é algo que corre no seu sangue. Isso é algo que não se pode desrespeitar sem consequências. Por que não se senta?

Amanda sentou-se ao chão de frente para o pai; as pernas cruzadas à maneira dele. Ela logo evitou o olhar que ele lançou, pondo a pequena (e por isso mesmo irritante quando solta) franja atrás da orelha com a mão, que inevitavelmente tremia.

--- Minha filha... Minha pequena... Você passou por tantas coisas. Veio à vida sem uma mãe que pudesse ajudá-la mais do que eu. Mas eu ajudei você a fazer da sua vida até agora o... O melhor que eu pude.

--- Eu sei. --- Ela disse, ainda olhando para o chão a sua frente.

--- Mas hoje vamos começar a sua caminhada rumo à integração à elite de Al-u-ber. Você vai aprender o que é magia, e como usá-la. Um dia poderá seguir meus passos, e ser uma importante líder nessa cidade.

Amanda reagiu com arrepios ao que ouvia.

--- E se... Eu não quiser ser uma líder? --- Perguntou ela, cautelosa.

--- Não, não, não estou falando só de política, filha, me desculpe... --- Disse ele, juntando as palmas das mãos. --- Me expressei mal. Eu quero dizer que, com a magia, você vai se destacar no que quer que você faça.

Amanda balançou a cabeça positivamente.

Galvino andou até ficar exatamente de frente para Tadeu, e esperou até que o filho o olhasse nos olhos para começar a falar.

--- A magia, Tadeu... Consiste em... Influenciar pessoas. A primeira coisa que nós vamos aprender é a lidar com Neborum. Acessá-lo.

--- Neborum?

--- Neborum é uma realidade diferente. --- Explicou Galvino, caminhando para longe. --- Lá você vê as coisas de um jeito que não as vê aquiFaz coisas que não faz aqui.

--- Diferente...

--- É como um grande campo.

Galvino parou de novo diante da lareira, olhando fixamente para o foco do fogo. Tadeu o observava, esperando por mais; estava diante do mistério e fora fisgado por uma explicação incompleta.

Estaria o pai em Neborum naquele momento?

--- Sem montanhas. --- Disse Galvino, de repente; movimentou a íris, depois todo o rosto, e enfim andando de volta em direção aos sofás. --- Sem colinas. Sem rios. Sem nem árvores, na maioria das vezes. Apenas grama. À noite o mundo é escuro como a noite. De dia, é claro como o dia. Há um céu e há um sol. E é isso.

--- E... Neborum... Existe? --- Perguntou Tadeu. --- Digo, é... É fora de Heelum? P-precisamos viajar para chegar lá?

--- Sim, viajar, sim. --- Respondeu Galvino, críptico. --- Mas sem sair do lugar. Esse mundo existe dentro de todos. O tempo todo. Mas apenas os magos conseguem vê-lo. Conseguem entrar nele. Apenas nós conseguimos agir nele.

Tadeu buscava com formigante freneticidade respostas para suas inquietações. Sua mente viajava, reinterpretando o passado.

Se havia um mundo ao qual apenas magos tinham acesso, era lá que seus pais estavam enquanto brigavam, rosanos atrás?

A Aliança dos Castelos OcultosWhere stories live. Discover now