CAPÍTULO 2 - Emily Laurel Holden

Start from the beginning
                                    

Jason olhou para a mesa e deu um gole no café. Acima dela havia uma pilha de pastas e pegou a primeira antes de respirar fundo e deixar que o primeiro estagiário entrasse.

Foram duas horas e cinquenta minutos de profunda tortura. Ouvir o que cada um deles pretendia para a carreira de advogado, qual era o motivo de suas notas estarem parecendo uma montanha russa e porque gostariam de estar na Maddlen & Castle fez com que sua cabeça doesse. Dedicou-se a ouvir pelo menos cada um dos quinze candidatos por dez minutos e por mais que não quisesse admitir, Janet tinha acertado em 99,9% da sua listagem.

Anotou um último rabisco na ficha do último candidato: Não, definitivamente não! Antes de respirar fundo e observar que mesmo que sua lista estivesse acabado, ainda havia uma pasta sob sua mesa. Apertou o ramal da mesa de Janet.

— Diz que eu já posso ir comer. – Pediu em tom de suplica e quando a secretária respondeu percebeu que achava aquilo algo muito engraçado.

— Ainda não. Tem mais um. – Falou.

— Não tem mais nome na lista. – Ele disse, franzindo a testa, virando a folha de um lado para o outro, procurando um nome no verso.

— Ela foi colocada por último. É uma amiga do senhor Maddlen. – Respondeu e Jason suspirou, antes de largar o telefone e pegar a última pasta sob a mesa.

Emily Laurel Holden. 27 anos.

Ele franziu o cenho e respirou antes de dar o último gole no quarto copo de café do dia enquanto a porta do escritório era aberta. Ele não se deu ao trabalho de erguer os olhos para ela, apenas continuou observando a pasta enquanto sentia o perfume feminino dominar o ambiente.

— Você não acha que está velha demais para ser estagiária? – Perguntou, cruzando os dedos sob a mesa para erguer o rosto. O sorriso esnobe que carregava foi se dissolvendo devagar enquanto observava a mulher.

— Mas eu não sou estagiária. – Respondeu sorrindo. – Olá de novo, doutor Castle. Lembra de mim? – Ela subiu as sobrancelhas esticando a mão para ele. Jason se recusou a apertar. – A propósito, espero que tenham te devolvido o cheque. Foi muito caridoso da sua parte, devo ressaltar. E falando nisso, como anda o seu Lexus?

Era ela. A doida que havia causado – sim, a culpa era toda dela – o acidente no último sábado. Era por causa dela que havia se atrasado para o trabalho naquela manhã e por conta dela que tinha tido um prejuízo gigantesco para a reparação do veículo.

Ela era loira, tinha os olhos claros, era alta e magra. Usava um vestido verde musgo até os joelhos e saltos que quase lhe deixavam da altura dele. Os cabelos estavam presos e a franja caia emoldurando seu rosto de modo que quase lhe deixaria desconsertado. Ela se sentou sem ao menos pedir permissão.

— O que está fazendo aqui? – Perguntou com os dentes trincados. Emily abriu a boca para responder, porém ele lhe ignorou totalmente. — Estamos contratando apenas estagiários. Obrigado, a saída fica por ali. – Disse apontando para a porta, totalmente calmo. Emily tirou a franja do rosto, sorrindo.

— Eu já disse que não sou estagiária. – Afirmou novamente.

— Ah não? – Perguntou, enquanto folheava os papeis. – Porque aqui falava que você... – Ele hesitou, enquanto buscava a informação. – Ah, você é formada. Harvard, turma de 2006. Então você se formou faz cinco anos e até agora tem o total de... – Ele sorriu observando o currículo. – Você entregou as horas necessárias para a faculdade e não assumiu desde então? Qual o motivo... – Ele novamente olhou para os papeis, antes de erguer os olhos pra ela. – Emily?

— Acho que isso não é da sua conta. – Foi à vez de ele sorrir.

— Ah, não? Pensei que era eu quem tivesse te entrevistando, estagiária.

— Eu não sou estagiária.

— Mas seu currículo diz ao contrário. – Ele cruzou os dedos sob a mesa, maneando a cabeça como se lhe analisasse. Emily parecia totalmente confortável conforme ele lhe encarava, o que fazia com que Jason se sentisse particularmente desafiado. – O que adianta ser formada e não ter nenhum tipo de prática jurídica? – Suas sobrancelhas se ergueram. – O que eu farei com um peso morto igual a você? Vou colocar no canto pra manter a porta aberta, mandar buscar cafezinho ou limpar e rearquivar os contratos antigos do escritório? Porque pelo o que eu tô vendo aqui, é tudo o que você sabe fazer: nada. A Maddlen & Castle precisa de gente competente e não pessoas esperançosas que acreditam que vão conseguir alguma coisa com trinta anos nas costas. Eu ajudo a construir carreira e não a realizar sonhos, você deveria ter pensado nisso há cinco anos. Não vou te ensinar a fazer petições, meu bem, então acredito que já pode se retirar. Eu não posso te ajudar. Deveria se conformar com a vidinha que leva e deixar o direito pra quem entende. – Ele se ergueu, abotoando o paletó. Emily se manteve imóvel. – Já te mostrei onde fica a porta.

— Já terminou? – Perguntou, maneando a cabeça de um lado pra o outro, observando-o atentamente. Jason se manteve estático, enquanto tudo o que esperava era que ela começasse a chorar e fosse embora com o rabinho entre as pernas. – Ótimo. – Sorriu, se erguendo. – Meu nome é Emily Holden, trabalhei cinco anos em uma empresa de segurança privada que prefere se manter assim, privada, e resolvi a pouco tempo voltar a advogar, coisa que eu quis fazer desde que saí da faculdade. Como criei contatos nesse meu antigo trabalho, entrei em contato com Sebastian e ele permitiu que eu advogasse na Maddlen & Castle até quando achasse necessário. – Ela suspirou. – Agora, se me der licença, eu tenho uma reunião com Sebastian ao meio dia. – Ela olhou no relógio ao seu pulso. Era um Patek Phillipe, e se ele entendia bem, eram relógios feitos com exemplares contados. – E adivinha só, são quase meio dia e eu não quero me atrasar. Foi um prazer conhecer o senhor, senhor Castle. De novo. Espero que seja uma ótima jornada a partir daqui. – Ela pegou o casaco e a bolsa que tinha jogado na cadeira ao lado e se ergueu, estendo a mão. Jason não a apertou novamente e Emily não pareceu se importar muito com isso, apenas deu mais um de seus sorrisos e saiu da sala.

Não acredite em nada (Desgutação | Completo na Amazon)Where stories live. Discover now