57: fase dois, parte II

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– Eu odeio essa palavra.

– Fácil? – Thales questionou, enquanto iluminava o cômodo que devia ser a cozinha.

Ela deu alguns passos na direção de Thales, contornando a mesinha. Para sua surpresa – e desconforto – ele não parecia nem um pouco intimidado. Do contrário, apenas a educada curiosidade, tão típica daquele moleque, transparecia em seus olhos amendoados; Brenda apertou os próprios olhos na direção dele. Desde quando garotos ficavam tão confortáveis na sua presença?

– Eu gosto de ser complexa. – ela zumbiu, usando sua voz de ameaças. Como se o desafiasse a chamá-la de fácil mais uma vez.

– Você não é.

– Eu não sou fácil de entender. Sou uma incendiária de quinze anos, obcecada por troféus. Eu me amo mais do que tudo nesse mundo, mas namoro um cara que me deixa em segundo plano e... – as palavras saíram de sua boca antes que pudesse contê-las. Sua vontade era de enfiar um daqueles tufos de papel de inutilidades escritas por Tomás para calar a própria boca. Mas já era tarde: Thales já a olhava com aqueles olhinhos sensíveis de idiotas que se preocupam e querem saber o que está acontecendo.

Brenda trancou o maxilar para se impedir de abrir a boca de novo. Ela não falava daquilo por um motivo, e esse motivo era vergonha. Porque quase todo mundo que ela conhece disse, e falou, e avisou: faculdade muda as pessoas. Tem o poder de te transformar no melhor e no pior de você, e aparentemente, o melhor (e o pior) de Dante Oliveira não incluía Brenda Belucci. Ela só era aterrorizante demais para que Dante terminasse de uma vez com ela. Do contrário, ele só permanecia lhe dando atenção o suficiente apenas para que ela não se esquecesse de que ele existia, isso quando não a ignorava por completo.

O que era inconveniente, já que Brenda só namorava Dante porque ele era o namorado perfeito até decidir não ser mais.

– Então? – Thales insistiu, ao perceber, que ela se perdera nos próprios pensamentos.

– Então o quê?

– Então por que você está com ele?

– Eu não quero falar sobre isso.

– A resposta está no que você acabou de dizer. – Brenda o encarou sem entender, o que era bastante irritante vindo de um moleque da Pública – O Garoto de Ouro.

– O que você sabe sobre ele? Não tem como ser pela Alana, eu não falo dessas coisas com ela. – o que era verdade, pois Brenda acreditava que seu papel como amiga era estar à disposição dos problemas das outras unilateralmente, em vez de se apoiar nelas para compartilhar os seus também. E ela não ressentia nada disso, nem sentia falta de reciprocidade para com Alana e Silvia, era só... que se ela falasse sobre suas dificuldades, os outros deixariam de pensar que ela era perfeita.

– Você não precisa dele como troféu. – Thales deu alguns passos em sua direção, e até sentiu um impulso que levaria uma de suas mãos ao ombro de Brenda para quando ele estivesse próximo o suficiente para tocá-la – Já tem todos os troféus que poderia conseguir, e vai ter muitos outros ainda.

Ela não parecia receptiva, embora não parecesse desconfortável também. Era só falta de costume. Para uma pessoa completamente egocêntrica, ela não passava tanto tempo assim falando de si mesma. Não da parte de si mesma que ela precisava pôr em palavras, pelo menos. Brenda ergueu o queixo para Thales, tentando recompor uma postura que ela já não conseguia mais sustentar.

Ele enxergava através dela.

– Não existem muitas pessoas honestas consigo mesmas sobre quem realmente são. – ele continuou com a voz macia, e os joelhos dela quase falharam – É isso que faz com que as pessoas sejam complicadas.

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