Capítulo 10

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  DEGUSTAÇÃO EM BREVE NA AMAZON! 

Por Luiza

Me recosto na cadeira e vou para trás, quase derrubando ela e caindo com as pernas para cima. Nunca me lembro de arrumar essa coisa. Fecho os olhos por alguns instantes e quase pego no sono, de tão cansada que eu estou.
O dia foi cansativo. Só parei para ir ao banheiro por dois minutos, isso porque eu não aguentava mais me segurar. Comer mesmo, passou longe dos meus planos. Minha barriga está pior que um buraco negro e sem fundo.
Passei o tempo todo em função de uma mulher que queria renovar o guarda roupa. Literalmente todo o guarda roupa. E o principal: tinha que ser personalizado e feito especialmente para ela.
Todas as roupas planejada, assinadas e confeccionadas por mim. Trabalho para, no mínimo, um mês inteiro de segunda à sábado, por assim dizer. E também, uma pequena fortuna para a loja. Não vou precisar me preocupar com rendimento por um bom tempo.
E por falar em pensar... De tanta correria e a vontade de bater na cara da mulher que ainda queria discutir comigo sobre moda, nem tive tempo para me lembrar dos acontecimentos da noite passada com um certo Diego Denski.
Ainda não sei se ele merece mais uns tapas por me deixar naquele estado lastimável quando sai do apartamento dele. Aquele sofrimento que eu tive por minutos, só perdeu para quando eu descobri que a minha mãe já havia morrido. Nunca mais quero sentir um desespero daqueles.
Sei que posso parecer precipitada, mas como eu sempre tenho em mente, consigo tudo o que eu quero, de uma forma e outra, e me sentir rejeitada, por desculpas ridículas e ainda por cima ter que conviver com ele quase que diariamente, era demais para mim. Como se fosse duplamente largada pela sorte em um mesmo dia. Sem contar que o Diego é um cabeça dura, nossa atração é mútua e solta faísca. Só ele para conseguir tentar lutar contra isso.
Deixa estar, meu filho. Se não der certo cada um vai para o seu lado e adeus. Não precisamos meter ninguém no nosso rolo. Quando o pai e a Carla estiverem presentes a gente muda completamente, e quando estivermos sozinhos nó curtimos como podemos.
Será que isso tem como dar errado? Claro que não! Só o paranoico do Diego para achar uma coisa dessas. Mal ele sabe que eu nunca sai de um relacionamento sem odiar ninguém. Pensando bem, acho eu nunca odiei ninguém na minha vida. E não vai ser o Diego que irá mudar isso.
- Luiza. - Dou um pulo na cadeira assustando a vendedora da loja.
Dormi que cheguei a me babar um pouco aqui.
- O que foi?
- Já estamos fechando a loja, vai ficar aqui?
- Não! - Levanto em um salto. - Vou para casa, cansei por hoje.
Pego a minha bolsa, ajudo o pessoal a fechar a loja e pego o meu carro no estacionamento subterrâneo. Enfrento o trânsito e quando chego na garagem do prédio, vejo o carro do Diego estacionado na sua vaga.
Mando uma mensagem para ele perguntando se ele queria dividir uma porção de batata-frita com acompanhamento de uma lanchonete aqui perto com tele entrega. Depois de alguns minutos ele diz que sim, que já vai encomendar e me esperar no seu apartamento com uma surpresa.
Chego a sorrir para o nada com essa resposta. Diego e surpresa, como não adorar?
Tomo um banho quente e consigo a relaxar um pouco. Coloco uma roupa básica e subo para o seu apartamento. Abro a porta e dou um grito quando vejo aquela coisa na mão do Diego.
- Que bicho é esse? - Digo já mandando ele não chegar perto de mim com aquela coisa.
- É o Michelangelo. Uma tartaruga.
Olho para o troço e dou mais um passo para trás.
- Onde tu conseguiu esse ET? - Diego dá uma risada e acaricia a tartaruga.
- Foi hoje à tarde. Fui chamado para uma batida em um carro suspeito. Encontramos 30 quilos de drogas e duas tartarugas em uma bacia. O Miche aqui e o outro que o meu colega pegou. Ligamos para a ambiental, mas eles não estavam a fim de registrar duas tartarugas. Aí pegamos elas, eu fiquei com essa e o meu colega com o outro.
- E como tu sabe que ele está bem ou cheio de doenças. Sei lá, como leptospirose.
- Tartarugas nãos transmitem leptospirose, Luiza. Acabei de trazer ele deo veterinário e comprar o aquaterrário para ele. Vem aqui conhecer o Michelangelo. Vamos, ele nem morde.
Me aproximo do Diego com cautela. Tanto que ele revira os olhos e me puxa por uma mão até o seu lado. Olho para o bicho, que de tão pequeno parece uma tortuguita, aqueles chocolates que eu comia quando criança.
- Viu como ele é bonitão. Miche, essa é a Luiza. Quando eu não estiver em casa, ela que vai cuidar de ti. Ela é braba, mas no fundo é gente boa.
Reviro os olhos para o Diego e a tartaruga minúscula.
- Vou te mostrar a casa dele. E te dizer tudo que ele precisa.
Diego me puxa pela mão e me leva até a bancada onde tem um pequeno aquário cheio de apetrechos. Ele começa a me explicar como uma criança empolgada com o seu brinquedo novo. Falou de temperatura da água, horário que ele tem que tomar sol e da lâmpada especial para essa função. Finjo entender tudo e mais um pouco que ele diz, até que sou salva pelo gongo com a campainha com a entrega das batatas-fritas.
Diego deixa o Michelangelo dentro do aquário e desce para buscar a encomenda. E eu fico esperando e olhando o bicho caminhando lentamente.
- Uma tartaruga. As pessoas normais têm gato, cachorro, mas o Diego não. Ele prefere uma tartaruga. Pelo menos não é uma cobra. - Digo para a tartaruga que não entende nada do que eu falo.
Vou para a cozinha arrumar as coisas para nós jantarmos e depois de um tempo volta um Diego sorrindo pela conquista do Miche.
- Não vai me dizer que estava dividido entre os nomes Leonardo, Rafael e Donatello. - Diego me dá um sorriso cheio de intenções e eu rio.
- Qual é, Luiza? Vai dizer que nunca olhou Tartarugas Ninjas? Era o meu sonho ter uma, mas a mãe nunca me deu uma.
- Santa Tartaruga!
- Cowabunga! - Diego fala e começa a rir novamente. - Agora só falta o Mestre Splinter.
- Se tu me aparecer com um ratão aqui eu te mato! - Advirto para o divertimento dele.
Comemos brincando um com o outro. Viu só, Diego? Sem nenhuma complicação! Tenho vontade de esfregar isso na cara dele, mas não quero estragar o momento que estamos tendo.
Ele lavou a louça enquanto eu secava e guardava. E quando ele secou as mãos no guardanapo que eu estava secando a louça, eu o puxei para um beijo. Aquele beijo que a gente sonha em dar toda a vida. Com um pouco de sacanagem, nada inocente e com as mãos explorando cada pedaço do corpo um do outro, até que a vontade de fazer outras coisas cresce a um pouco que não dá mais para parar.
E nós escutamos cada vontade que os nossos corpos pedem, e atendemos com a maior satisfação do mundo.
Depois de algum tempo, com a gente já na cama, olhando para o teto e com os dois com belos sorrisos no rosto eu sinto o Diego ficando hesitante. A animação sobre a chegada do ET Miche já havia passado e depois que eu contei sobre o meu dia no trabalho o silêncio ficou entre nós.
- Diego, aconteceu alguma coisa? Ou tu está assim, mais uma vez, pensando em alguma coisa para nos separar?
- Não é isso. Acho que entendi o recado de que não vamos conseguir ficar separados, não é? - Sorrio para ele.
Como diz o ditado, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Parece que a cabeça dura sofreu uma rachadura. Finalmente!
- E o que seria? - Me aproximo dele e deito em cima do seu peito.
- Uma coisa que, sem querer, eu acabei me envolvendo. E de carona, até tu entrou na história.
Olho para o Diego e puxo o lençol para mim. Sento na cama, me cobrindo e olho séria.
- O que aconteceu? Como assim entrei na história?
Vejo ele levantar, nu, vestir a cueca descartada no chão e juntar as minhas roupas. Espero ele formular uma resposta. Em vão. Me levanto, me visto e vou atrás dele, que está sentado no sofá, observando o pequeno ET deitado em uma pedra.
- É sobre a função da Cecília. - Ele fala depois de alguns segundos. - Eu te disse que ela ia para os tios, mas eu menti. Desculpa, Luiza. - Fico confusa.
- O que aconteceu com ela? - Questiono assustada.
- Ela está bem, isso eu não menti. É que nem eu sei direto o que se passa.
Me sento ao seu lado e cruzo as pernas em sinal de que não vou sair de lá enquanto ele não me contar a história toda.
- Tenho a noite toda aqui, Diego. Pode começar a falar.
Ele suspira.
- Ao que parece, tem uma organização. Não sei quem eles são e nem como agem, mas resgatam crianças que ficam expostas a perigos.
- Tipo a Cecília?
- Sim. Como ela e outras mais. Pelo que eu sei, e entendi, eles as resgatam e as levam para uma vida nova. Acredito que tenha muita gente envolvida, mas que nem todos sabem quem são os outros que pertencem a essa mesma organização. O meu chefe me disse que os detalhes vêm com o tempo.
Minha cara de quem não está entendendo muita coisa é visível.
- Ok... E o que isso tem a ver comigo?
- É nesse ponto que eu estou pensando, Luiza. Meu chefe veio me perguntar se eu queria fazer parte dessa organização. Ajudar eles a salvar crianças que estão em perigo.
- Uau! Isso é lindo, Di! Tu tem todo o perfil de salvador de crianças. Deve ser uma tarefa gratificante e tanto.
Sorrio para ele que ainda faz uma cara de quem está com dor de barriga. O que eu falei é totalmente verdade. Se alguém tem o perfil perfeito para fazer esse trabalho é o Diego. O modo, quase paranoico, de cuidar de qualquer pessoa que esteja com ele.
Lembro quando estávamos na Europa, dias antes da minha formatura. Cada vez que eu saia com ele à noite era um saco de tanto que ele ficava cuidando tudo a nossa volta.
- O problema não é esse, Luiza. O problema real é que eles querem que tu esteja junto comigo.
E nesse momento eu paro.
Diego segue olhando para o Miche e eu tento me organizar para saber o que eu tenho a ver com toda essa história.
- Como assim eu? Eles nem me conhecem para saber se eu tenho cara de quem pode ajudar uma criança nessa situação.
Diego ri.
- Acho que a culpa é um pouco minha nesse quesito. Ao trazer a Cecília para cá te coloquei na mira deles. Indiretamente, mas te coloquei, e agora essa situação toda é culpa minha. Tudo que eu mais queria era te livra de qualquer coisa que te relacionasse ao meu trabalho! E olha só no que eu nos meto. Em uma organização, secreta ao que parece, que resgata crianças em situações de risco. Tem como isso ser mais irônico?
- Ainda acho que isso é uma honra para ti, Di. É um trabalho nobre salvar crianças assim. Tantas, como nós conversamos quando a Cecília saiu daqui, passando problemas graves e tu... ou que parece, nós ajudarmos elas é uma coisa maravilhosa.
Diego olha para mim sério.
- Luiza tu tem noção do que tudo isso significa? O perigo que nós, ou melhor, tu vai correr com essa situação?
- Deixa de ser paranoico, Diego! - Empurro ele. - Para de pensar e se preocupar comigo e foca no trabalho que isso significa. Tirar crianças da zona de perigo e dar uma nova oportunidade para elas. Pensa na Carla e o sofrimento que a tua irmã passa ao ver tantas criança passando problemas e ela na fila para adotar uma com o meu pai.
- Não mete a Carla no meio. Ela não tem nada a ver com isso.
Reviro os olhos e vejo que a rachadura na cabeça dura dele não foi tão profunda como eu imaginava!
- Não, ela não tem nada a ver mesmo! Mas e se uma dessas crianças vai para uma mulher na mesma situação que a dela? Como essa criança vai ser amada e feliz se tiver uma mãe como a tua irmã e um pai como eu tive.
E isso atinge em cheio o peito do Diego. Ele se finge de durão, mas no fundo é um baita de um manteiga derretida.
- Se tu quer saber a minha opinião sobre isso já tem o meu parecer positivo. - Ele faz menção de falar alguma coisa, mas eu não deixo. - Estou respondendo por mim. E nesse quesito a tua opinião não vai mudar em nada o que eu penso.
Saio para o quarto e me deito na cama do Diego. Afofo o meu travesseiro e fecho os olhos para dormir. Fico alguns minutos em silêncio, esperando o sono, e antes dele chegar, escuto o Diego entrando no quarto.
Ele se deita ao meu lado, resmunga alguma coisa parecido com "teimosa" e se aproxima de mim. Sinto o seu braço em cima de mim e o corpo dele grudado ao meu. E depois disso eu adormeço.

Luiza DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora