Capítulo 3

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Por Diego

Saio do vestiário arrumando a minha arma no coldre. Cumprimento alguns colegas de corporação e vou para a rua.

Minha divisão, por assim dizer, fica na entrada de uma das mais violentas favelas da cidade. Ela não chega a ser a maior, é considerada até pequena perto de outras que estão espalhadas pela cidade, porém o nível de criminalidade é altíssimo perto das grandes favelas. Estas, geralmente os traficantes que mandam no local, injetam rios e rios de dinheiros do tráfico para melhoria dos moradores. Alguns até chegam a serem apelidados de Escobar, em referência a série Narcos da Netflix.

Ao contrário da nossa favela, essas, apesar da pobreza e o alto consumo de drogas é considerada pacífica perto da nossa, pois o investimento para que os traficantes deixem de ser más pessoas ao olhar do povo é alto. E os policiais são vistos como uma ameaça constante a paz deles. Pois se nós pegarmos os "Escobar" as benfeitorias param de circular. No pouco tempo que eu andei por uma dessas, cansei de escutar moradores dizendo que reverenciavam tal traficante por eles pagarem algum tratamento médico para algum morador, ou doar cestas básicas para os mais pobres.

Isso é uma coisa que causa uma certa confusão com a comunidade. Quase uma lavagem cerebral. Como eles vão apoiar um bando de policiais que só chegam metendo bala em todos, contra a falsidade dos traficantes, que, por trás do que eles investem há um pai de família consumindo droga, um menor roubando para viciar o vício, uma mãe se prostituindo para conseguir mais uma carreira ou uma criança, que tendo os exemplos em casa, desistem da escola e se vendem ao tráfico. Começando como pequenos aviõezinhos, que entregam a droga e, se sobreviverem por mais alguns anos, futuros traficantes.

Um dilema social que ainda há muito para se discutir e argumentar.

Já a minha favela é uma escória, por assim dizer. Os traficantes visam ao lucro, não estão nem aí se a comunidade precisa de algum reparo na escola local, ou se assaltam o posto de saúde, deixando ele sem luz por quase uma semana por furto dos cabos. Eles querem é chapar o maior número de pessoas para que consigam mais clientes e assim fazer o ciclo do tráfico funcionar. E se a pessoa não pagar, a dívida é paga com a vida.

Triste realidade. E mais comum que podemos imaginar nos dias de hoje.

Geralmente a unidade é "tranquila". Policias e marginais vivem em uma "harmonia falsa". Eles vendem e consomem a droga e nós passamos a mão na cabeça deles até não houver alguma coisa agravante no meio disso tudo.

Raramente são as vezes que nós entramos em combate sem um desses agravantes. A não ser que a coisa seja muito escancarada. Ou recebemos ordem lá de cima para tal ataque. E também, no momento em que eles se descontrolam, começam a roubar dos moradores de bem, fazerem bagunça e até se matarem entre si, nós entramos em ação e acabamos com a festa deles. Aí a brincadeira fica mais séria e a chuva de tiro, de ambos os lados, cai direto.

Mas se a favela está em paz, ele continua em paz.

Nossa missão aqui é de manter a ordem. Enquanto os chefes grandes da distribuição não forem pegos, quando isso acontecer, a história vai ser outra. Assim como foi em outras partes da cidade. Nós entraremos e acabaremos com tudo, pois sem os cabeças, eles estarão desprotegidos e desarticulados. Claro que se isso acontecer, haverá mortes. Bem mais do que temos hoje em dia, porém é um preço que se paga para trazer a paz a uma comunidade.

Em uma das palestras que os agentes da federal de combate a drogas que assisti, fiquei impressionado com a frieza que as pessoas que já estão nesse ramo assumem. Comparam traficantes como insetos e devem ser exterminados como tais.

Luiza DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora