Visivelmente irritado, ele responde:

— Por qual outro motivo ainda estaria aqui?

— Ótimo. Camargo, concordo com você, vamos usar o dinheiro do desvio para quitarmos a dívida. Também vamos confiscar o cartão dela e encerrar a conta da se...

A "secretanha", mistura de secretária com piranha, pula de sua cadeira.

— Meu cartão? Por quê?

Com o mesmo tom que usei com o senhor anteriormente, respondo:

— Porque você é secretária, não precisa...

Ela interrompe-me:

— Eu faço compras para o Monteiro, sabia?

Procuro pelas faturas e volto a falar:

— Não sabia que o seu patrão andava com sapatos Louboutin, senhorita – volto a atenção ao meu colega de trabalho e o instruo: — Camargo, também acho interessante fazer algumas mudanças no quadro de funcionários, começando pela a secretária. Ela trabalha lá, sabe da dificuldade que estão passando. Se, ainda assim, gasta mais do que pode, prova que não tem consideração por quem lhe sustenta. E acredito que ter a amante como funcionária seja inconveniente e constrangedor.

— Se vocês não se incomodam, pretendo continuar com o consultor – Monteiro senta, ajeitando sua gravata.

Segurando o riso, pisco para o Kevin, que concorda imediatamente. Então, saímos da sala conversando.

— Por que você permitiu aquele escândalo? Nossa obrigação é salvar a empresa, e não sermos condescendentes com eles – questiono-o.

— Lê, você sabe que não gosto de expor nossos clientes. A amante é uma parte privada da vida dele, não cabe a mim trazer isso à tona. Podemos violar a sua privacidade.

— Aprenda, Kevin, aqui não é como no seu país, onde as crianças de seis anos gritam com os pais porque violaram sua privacidade. Aqui, o máximo de privacidade que temos é ir ao banheiro com a porta fechada.

Chegando a minha sala, Lorena avisa-me que alguém me espera.

— Lê, o Ricardo está te esperando para dar uma palavrinha com você.

— Obrigada, Lolo.

— Faço muito gosto na sua relação com o Ricardo. Às vezes, te acho muito solitária, Letícia. Merece alguém que a faça feliz – Kevin fala com carinho.

— Obrigada, senhor presidente. Mas nós não temos nada.

Despeço-me e entro na sala, encontrando um belo exemplar masculino sentado em uma das cadeiras em frente a minha mesa, distraído, no celular. Ricardo é diretor do departamento jurídico da Global. E encantador, com seus olhos castanhos, cabelos curtos e bem penteados para trás. Sempre elegante em seus ternos sob medida. Nós somos uma espécie de amigos com benefícios. Saímos de vez em quando para jantar e algo mais.

— Olá! Que bons ventos trazem o galã da empresa até minha sala?

— Vim te ver, bonita – ele fala afetuosamente.

— Cansou da nova secretária? – pergunto, rindo. — As conversas correm por aqui.

— Não sei o que falaram, mas é mentira, eu não...

Abro um sorriso e levanto a mão, cortando seu discurso.

— Meu querido, não se preocupe! Não temos um relacionamento, apenas gostamos da companhia um do outro. Não há porque você deixar de sair com outras pessoas.

A Vitrine - 2ª Edição     (Degustação)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें