Capítulo sete

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@HnrqFerrari Baby, we both know that the nights were mainly made for saying things that you can't say tomorrow day.
@MacacoLouco para @HnrqFerrari Deixe de ser clichê, Henrique, citando Arctic Monkeys as quatro da madruga. Ninguém merece tanta fossa.


– Uau – exclamou Henrique ao se chocar comigo da saída do banheiro. – Como você está... pitoresca hoje.

– Se você tiver tido parte nisso, Henrique Ferrari, eu vou te pegar por essa gravata estúpida e te dar o maior cuecão da história – eu disse firmemente, cutucando meu indicador em seu peito rígido. – Vai doer tanto, que suas bolas vão desejar nunca terem crescido e deixado de ser menina!

Henrique se limitou a rir, sem exagerar, pois meus mais recentes inimigos estavam dormindo feito anjos... apenas esperando a morte chegar. Eu.

– Calminha, florzinha. – Henrique segurou minha mão, impedindo meu objetivo de abrir um buraco em seu peito. – Acabei de chegar e, por mais que você esteja uma verdadeira obra-de-arte, não tive parte disso.

Cerrei os olhos, tentando decidir se era verdade. Ele estava vestindo roupas de trabalho, seus cabelos estavam bagunçados e ele cheirava ao mundo lá fora, perfume e... Henrique.

– Que horas são?

– Agora eu tenho toque de recolher? – perguntou meio hostil, meio ainda entretido pela minha aparência.

– Não sei... você tem toque de recolher, Henrique?

Sem responder a minha pergunta, ele apenas continuou sorrindo e segurando minha mão junto ao peito. A luz do banheiro estava acesa me permitindo perceber detalhes que não havia reparado, como suas olheiras fundas, a gravata desfeita, a barba começando a crescer. Estávamos tão próximo que podia sentir seu hálito de café. A essa hora? Que diabos ele estava fazendo? Se fosse outro dia, a resposta mais óbvia seria sua namorada, mas dessa vez eu sabia que esse não era o motivo – ele esteva desalinhado demais.

– Quer iogurte? – perguntou. – Trouxe sonhos também.

Para alegria da minha bunda grande, pensei.

– Ela é perfeita – disse Henrique. Oh, droga. Eu não havia apenas pensado. – Agora vem... mas apague a luz porque você está horrorosa.

– Estou ofendendo sua sensibilidade com minha beleza, Henrique? – brinquei, empurrando seu ombro com a palma da mão.

– Como sempre, Alice. – Obedecendo seu próprio pedido, ele esticou o braço, apagou a luz do banheiro e me puxou para a cozinha.

Em cima da mesa de jantar havia uma sacola de plástico com os prometidos sonhos. Na semiescuridão, banhada pela luz do céu e da cidade, Henrique abriu a geladeira e pegou uma garrafa de iogurte. Ele cheirou o conteúdo e fez uma careta, considerando o líquido mais ou menos tóxico. Senti vontade de rir de sua precaução, mas me contentei em enfiar sonhos goela abaixo.

Devia haver aí uma metáfora para nossa situação.

Trazendo apenas a garrafa, Henrique apontou para a varanda, num pedido para irmos até lá. Antes de fechar a porta atrás de nós, ele também fechou a cortina. Desnecessário, em minha opinião, mas quem era eu para julgar?

Ele se sentou no chão, no lugar em que me sentei ontem, e eu tomei o lugar de Lucas na noite anterior. Entreguei a ele o sonho e Henrique me passou a garrafa de iogurte. Morango era seu favorito.

A luz pálida suavizava todos os contornos de Henrique. Seu maxilar parecia menos quadrado, seu nariz menos reto, sua franja sobre os olhos menos bagunçada, suas linhas de expressão não existiam. Era quase o meu Henrique de novo. Não. Não. Não. Ele nunca foi meu. Pessoas não pertencem às outras.

Duas vezes amorWhere stories live. Discover now