Capítulo dois

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@ElementoX Como algumas pessoas conseguem acordar motivadas para todo o sempre? Qual o defeito de fabricação de vocês?
@HnrqFerrari Coisas demais para fazer, muito pouco tempo. Off por alguns dias.
@MacacoLouco para @ElementoX Peitos. Peitos me motivam. E o defeito de fabricação seria seu?
@MacacoLouco para @HnrqFerrari Quem se importa?
@ElisaMartins para @MacacoLouco Flávio, amor, não seja rude na internet. Todo mundo pode ver.


Acordei com uma tremenda má vontade. Existia algum outro jeito de acordar? Culpei a cortina aberta e o sol que iluminava diabolicamente o quarto. Para curar a ressaca sonífera, apenas café. Bem forte.

Levantei para prepará-lo, mas fui maravilhosamente interrompida pelo cheiro já existente de café no apartamento. Melhor ainda. Café do Lucas. Sendo tão viciado em café quanto eu, ele tinha um método muito particular de fazer café, tão particular que apenas ele e eu tomávamos o resultado de tal receita.

A cozinha americana era pequena, mas abastecida com o suficiente: chaleira elétrica, micro-ondas, geladeira e fogão. Era o cômodo menos usado da casa (exceto quando alguém inventava de fazer alguma coisa) e o terceiro mais bagunçado, antecedido pela sala e o banheiro. Ah, nem me lembre do banheiro!

Me servi de uma xícara cheia de café e apoiei o quadril na bancada ao lado de Lucas, que segurava sua xícara com as duas mãos enquanto encarava o nada – ou os imãs de disque-entrega na geladeira. Talvez ele estivesse considerando o que fazer com seu dia? Lucas não era a pessoa mais fácil de ser lida.

– Você apagou ontem – comentou Lucas meio distraído. Eu assenti, concordando. Eu tinha problemas para dormir, não, eu tinha equações inteiras para dormir. Havia noites em que dormia apenas uma hora. Ou nenhuma.

– Finalmente.

– Nada como um filme sangrento para relaxar.

– Melhor ansiolítico – eu disse. O café estava ótimo. A felicidade dentro da xícara já estava atingindo meu sangue. Eu quase conseguia ver as sinapses em meu cérebro em ação. Nada como a boa e velha cafeína.

A porta da sala abriu sem fazer barulho. Henrique entrou no apartamento vestindo roupas amarrotadas que provavelmente havia usado no dia anterior, carregando um blazer cinza escuro na mão. Sua franja comprida caía-lhe sobre os olhos de um jeito raro, pois gostava de manter seu cabelo impecavelmente penteado afastado do rosto. Como alguém podia ser flagrado numa walk of shame e ainda ter todo esse charme? Eu o odiava algumas vezes. A maioria das vezes. Abri um sorriso largo e presunçoso quando Henrique se assustou com nossa presença observadora na cozinha.

– Humm... a noite foi boa, hein? – Lucas brincou. Henrique deixou o celular e as chaves em cima da mesa de jantar e entrou na cozinha em direção ao bule de café.

– Um cavalheiro nunca conta. – Ele pegou uma xícara e o açucareiro no armário em cima da pia, me empurrando para perto de Lucas, e despejou café para si mesmo. O colarinho da sua camisa social rosa estava aberto, e me peguei imaginando como tinha sido sua noite. Não foi preciso mais de meio segundo de hipóteses para me fazer enrugar o nariz em desgosto. Não. Não. Não, Alice!

– Em Henriquês isso significa que sim, com toda certeza! – falei em confidência para Lucas, que concordou. Henrique deixou escapar um sorriso maroto antes de beber do café.

– Argh! Lucas! Que merda é essa? – Henrique cuspiu o café dentro da pia e limpou a boca com as costas da mão. Uma gota de café caiu em sua camisa me fazendo sentir estranhamente feliz com aquele defeito. Que tipo de péssima pessoa era eu?

Duas vezes amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora