DOIS - OS GÊMEOS

Start from the beginning
                                    

A garota soltou um suspiro impaciente e estava prestes a falar algo com ele quando parou para encará-lo. Ela ficou o encarando por alguns segundos e o silêncio que se formou foi completamente constrangedor. Alguém da rodinha do baseado começou a rir sobre algo que acontecia do outro lado da rua, mas Caio estava tão concentrado naquela garota que nem deu importância.

— Quem é você? – Disse ela se dando conta de algo que não pareceu fazer sentido para Caio. – Isso é algum tipo de brincadeira? – Ela começou a olhar ao redor em busca de alguém. – Foi o Rafael que te mandou aqui?

Caio não tinha ideia de quem era Rafael ou aquela garota. Ela voltou a encará-lo. Dessa vez uma expressão de confusão invadiu seu rosto. Ela então olhou para as roupas de Caio, o cabelo comprido e encarou as várias tatuagens que ele tinha no braço.

— Isso é... – ela não conseguia falar direito. De repente, a garota ficou pálida e estática como se tivesse acabado de ver um fantasma. – Você... você é idêntico a ele...

Caio engoliu a saliva da boca sem entender o que estava acontecendo. Por um momento ele achou que ela podia estar se referindo a Demétrio, mas como ela podia conhecê-lo? Caio sabia que Demétrio havia tido uma vida de assaltos e pequenos crimes antes de encontrá-lo, mas ele já estava fora daquela vida há um tempo.

— Acho que você se confundiu – disse Caio. Ele parou para olhar para a garota pensando que provavelmente ela estaria sobre efeito de alguma coisa. Ele só estava sóbrio porque ela havia o tirado de dentro da boate antes dele encontrar alguém vendendo qualquer coisa que pudesse fazer seu cérebro fritar. – Acho melhor eu ir...

— Não... – disse ela. – Eu nunca me confundiria... você é idêntico ao meu irmão... Rafael, meu irmão gêmeo.

♦♦♦

Caio estava sentado no banco de trás de um carro com banco de couro. O ambiente cheirava a um perfume forte que ele interpretou vir do motorista e era justamente o motorista que o encarava pelo retrovisor. Rafael, o irmão da Rebeca. Um garoto idêntico a ele.

Havia um silêncio constrangedor dentro do carro que era quebrado por uma música da Ke$ha que tocava no rádio do carro sintonizado numa estação qualquer.

— Você só entra em roubada, não é Rebeca? – disse Rafael olhando para a irmã gêmea sentada no banco do carona.

Rafael tinha o mesmo rosto de Caio, mas eram bem diferentes fisicamente. Rafael era malhado e tinha um corpo bem definido. Ele era, sem dúvida alguma, um daqueles garotos que passava duas horas malhando pesado na academia. Os cabelos eram raspados e ele tinha uma pequena cicatriz no canto esquerdo da testa, mas não era nada comparado a que Demétrio tinha no rosto.

Pensar em Demétrio deixava tudo ainda mais complicado. Caio não conseguia manter um raciocínio lógico que pudesse conectar os quatro. Rafael e Rebeca eram gêmeos e ele achava que era o irmão gêmeo de Demétrio, mas se eles dois também eram idênticos a Rafael, como todos seriam irmãos? As coisas certamente seriam mais fáceis se seu pai falasse sobre suas origens, mas ele continuava num jogo estúpido de ignorar qualquer pergunta relacionada aquilo.

O carro seguiu por uma avenida próxima a uma praça bastante popular da cidade. Mais à frente havia um posto de gasolina e um ponto de táxi.

— Você pode parar aqui – disse Caio apontando para o estacionamento no posto de gasolina. Ele olhou para um táxi parado do outro lado da rua. – A gente não pode seguir com o seu carro. – Ele então saiu do carro e escutou Rafael reclamar algo com Rebeca.

— Esse cara pode ser um maluco – sussurrou ele nervoso. – Aonde ele está querendo levar a gente?

Rebeca fechou a porta do carro com raiva e andou até Caio que seguia em direção ao táxi. A noite estava quente e a avenida agitada. Caio tinha a sensação de que um desastre estava prestes a acontecer, mas decidiu manter suas sensações para si, já que Rafael parecia nervosinho demais.

Malditos Cromossomos (Concluída)Where stories live. Discover now