DOIS - OS GÊMEOS

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C A I O

Caio estava dentro de uma casa noturna que não tinha uma boa fama na grande Cascavel. Ficava num lugar distante do centro e era propício para o uso de drogas e abusos de bebidas alcoólicas. Ele gostava daquele lugar porque era distante da sua realidade. Há dois meses, a família de Caio havia se mudado da fazenda, aonde ele havia passado boa parte da vida, para a cidade. Os pais de Caio acharam que seria mais fácil para o tratamento do câncer que já começava a se manifestar.

O garoto tentou não pensar no câncer naquele momento e nem em todo o drama que aquela descoberta trouxe para a vida dele e de sua família. Caio andou até ao bar onde sentou num banco vazio e pediu para o barmen algo forte o suficiente para aquela noite virar um borrão.

Havia um grande movimento de pessoas indo de um lado para o outro com copos de bebidas nas mãos e cigarros acesos nos lábios. Não havia nenhuma banda programada para tocar naquela noite, mas havia um DJ com uma playlist de rock dos anos 90 bem depressiva o que combinava perfeitamente com o estado de espírito de Caio.

— Meu amigo acabou de dizer que ele está no estacionamento atrás de você. – A garota que dizia isso era alta, magra, tinha os cabelos negros curtos e vários piercings na orelha e no rosto.

— Droga! – Disse à garota que falava com ela. Caio virou para olhar para a garota, mas ela estava de costas e tudo o que ele conseguia ver era o casaco de couro e a saia curta. – Ele vai contar pro meu pai se me pegar aqui...

Caio notou que a garota do cabelo curto o encarava com uma expressão não muito agradável. Ele sorriu, mas tudo o que ela fez foi fazer um aceno não muito discreto para a garota com quem conversava. Caio tentou disfarçar dando um gole na bebida em seu copo. Tocava Like a Stone nos auto-falantes e ele gostava demais daquela música.

A garota que estava de costas para ele finalmente virou e depois de quinze segundos com uma expressão de pânico no rosto, falou.

— Se você contar pro pai – disse ela – eu mato você.

Caio encarou aquela garota extremamente familiar. Ela tinha os olhos castanhos e a boca carnuda. Tinha um piercing no nariz e o cabelo preto era raspado de um lado. Por baixo da jaqueta de couro estava uma blusa do AC/DC e várias correntes penduradas no pescoço. Ela era do tipo de garota que Caio estava acostumado a conviver e mesmo sabendo que eles não se conheciam, aquela sensação de já tê-la visto ficava a cada segundo maior.

— Vamos pra casa antes que você comece a fazer um escândalo – disse ela agarrando Caio pelo braço e seguindo em direção à saída da boate. Caio tentou falar com aquela garota, mas não conseguia. Ele a seguiu para fora da boate tomando o cuidado de não esbarrar em ninguém ou em derrubar seu copo.

A noite do lado de fora da boate era abafada. Perto da entrada havia uma rodinha com uns cinco adolescentes dividindo um baseado. Ninguém parecia se preocupar com eles. Caio jogou o copo num canto da calçada e se soltou do braço daquela garota.

A fachada da boate era um tanto decadente e ficava num prédio velho. As casas ao redor estavam abandonadas e serviam perfeitamente como ponto de venda de drogas. Era ali que Caio comprava suas drogas. Na esquina do outro lado da rua estavam duas garotas com roupas curtíssimas e justas em busca de um cara disposto a pagar por um sexo rápido no banco de trás de um carro qualquer.

— Ei – disse ele. A garota virou e o encarou. Ela usava uma meia-calça rasgada e uma bota preta. – Eu não sei o que está acontecendo, mas acho que você está me confundindo com outra pessoa.

Malditos Cromossomos (Concluída)Where stories live. Discover now