A Viagem Pelas Profundezas Da Minha Alma

Descobrir Toronto, e não só.

É o meu terceiro dia na cidade de Toronto. Com pouco tempo e pouca experiência neste local, está a mostrar ser uma experiência nada menos que fantástica. Comprei numa livraria um guia com os mapas, os roteiros gastronómicos, os monumentos e os pontos turísticos desta cidade cosmopolita. Quando arranjo tempo, depois de ir estagiar, tento visitar um pouco a cidade. E assim, aos poucos, vou conhecendo melhor cada cantinho da cidade. Sinto que me habituo com rapidez à cidade, à cultura, aos costumes, aos canadianos. Não é essa uma característica de nós, os portugueses ? Não somos nós que com facilidade nos habituamos às mudanças e nós que nos desembaraçamos com agilidade dos obstáculos ?

Caminhando por esta jornada, é com saudades que a lembrança de Portugal se escapa rumo às entranhas da minha alma. Contudo, sigo em frente, confiando no que a vida me reserva, acreditando que me esboce um sorriso. 

Hoje, particularmente, tive um dia bastante cansativo, que me roubou as forças de forma bruta e violenta, me hipnotizou e me empurrou para a cama do meu quarto de hotel, para repousar. Sem vontade nem motivação de visitar a capital canadiana. Todavia, resisti um pouco, e fui rapidamente a um supermercado, para comprar uma refeição. Lá, encontrei, por acaso, o meu recente "amigo" que tive a honra e o prazer de conhecer no meu primeiro dia na cidade. Reconheceu-me, e de soslaio, olhava para mim. Por fim ganhou coragem e afirmou: 

- " Olá. O meu nome é Mendes. Shawn Mendes. Não estás com muita vontade de me conhecer, mas eu quero-te pedir desculpa pelo outro dia. Fui um bruto, mas tens de me perdoar, eu não estava nos meus dias. "

- "Sim, tens razão. Realmente, não estou com muita vontade de te conhecer. Sabes, eu quando estou nos meus maus dias, não dou encontrões às pessoas, sem pedir desculpa."

- "Ouve, eu vinha distraído. Mas acho que te posso compensar."

- "Ai é ? E como é que o pretendes fazer?"

- "Já percebi que não és de cá. Não sei se és turista, mas não me parece. De qualquer forma, acho que posso mostrar uns lugares que gostavas de ver."

-" Adivinhaste, eu não sou de cá. Desculpa, nem me apresentei. O meu nome é Joana, e sou de Lisboa, Portugal. E já agora, sem indiscrição, o teu nome Mendes não é de certeza canadiano, pois não?

- " O meu pai é português. De Lagos. Mas aceitas a minha proposta?"

- "Logo vi. Sabes, és mais simpático do que pareces, por isso, sim, aceito."

A partir daqui, cada um seguiu o seu caminho. Rumei para o hotel, tomei banho e relaxei. E, a rir, pensei que já fiz o meu primeiro amigo aqui no Canadá.

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Começou bem o quarto dia em Toronto. Acordei bem-disposta, depois de uma boa noite de sono. Fui para o estágio. Quando lá cheguei, estava tudo numa grande agitação. Pelas conversas que ouvia aqui e ali, percebi que havia um problema no hotel. Aparentemente, um problema técnico. O responsável pelo estágio deu-nos o dia de folga, pois se ali ficássemos, só iríamos atrapalhar. Obviamente, a notícia foi recebida por todos com agrado. Retomei ao quarto do hotel, e decidir ligar o meu laptop e falar com a família pelo Skype. Todos ficaram muito contentes por verem o meu rosto a esboçar sorrisos infinitos, feliz por ver todos os que gosto outra vez e também por estar a presenciar uma experiência soberba. Prometi visitá-los em breve. Mais tarde, fiz o mesmo com os meus melhores amigos. Com muitas saudades deles, cedi e uma lágrima correu pela minha face. Foi muito bom, mas muito desgastante psicologicamente. Pela primeira vez, senti-me sozinha aqui no Canadá. Sem ninguém a quem me amparar. Mas sigo em frente.

Os segundos, os minutos e as horas a falar com Portugal correram com rapidez, e quando dei por mim eram 17h30. Hora de me encontrar com o guia pessoal, Shawn Mendes. Desci do hotel, e rumei ao local de encontro. Shawn já lá se encontrava, paciente, à minha espera. Fui ao seu encontro, e juntos fomos descobrir a cidade. Durante o passeio, procurámos conhecer-nos melhor. Contei-lhe que antes de tudo isto, vivia em Portugal com a minha família. Licenciei-me em Turismo. Divertia-me muito com os meus amigos. Tive uma adolescência que não trocava por nada. Vivi tudo o que tinha para viver, sem grandes preocupações. E confessei-lhe que eu sempre soubera que ele tinha uma veia tuga. Afirmei que o sabia, porque ele demasiado bonito para não ter sangue latino à mistura. 'Bonita és tu! Gosto do teu tom de pele, dos teus olhos, das tuas mãos delicadas e compridas.', disse, e parou por aqui, notando que eu já estava escarlate, de tanto corar.

Disse-me que a sua mãe é inglesa e o pai português. Tem uma paixão pela música, que desenvolveu desde cedo. Adora cantar e tocar.

Shawn mostrava-se delicado, atento, observador. Não arrogante como eu pensava outrora. Era também bonito, culto, simpático. Era uma boa companhia. Quando o passeio acabou, levou-me até ao hotel. Estava tímido, e assim, me pediu o número de telefone. Despedimo-nos com sorrisos.