Capítulo 1

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Tchau mãe! Até mais tarde.

Acenei com a mão livre enquanto a outra segurava um dos guidons da bicicleta, logo montando na mesma e pedalando o mais rápido que minhas pernas conseguiam, pois eu estava atrasada, de novo, e infelizmente a sra.Thomson não tolerava atrasos. Na velocidade em que estava, podia sentir o vento forte bater contra o meu rosto e as árvores se tornavam meros borrões verdes à medida que eu ia avançando até Calloway High School.

Alguns minutos mais tarde já podia avistar o antigo prédio onde um grande veículo amarelo enfeitava o estacionamento. Eu costumava estar nele durante os primeiros dias de aula, mas depois de um tempo comecei a perdê-lo sempre. Não importava o que eu fizesse o bendito ônibus sempre passava por mim, com alunos pendurados nas janelas exibindo sorrisos maldosos e fazendo piadas sobre a minha lerdeza. Minha mãe até tentou me levar em seu carro, mas as encomendas da floricultura aumentaram, deixando impossível para ela me levar a algum lugar. Por fim, o único jeito que encontrou para eu me locomover até a escola foi me comprando uma bicicleta. Para ser sincera eu não gostei da ideia no começo, mas era tudo o que podíamos pagar, então acabei me acostumando.

Deixei a bicicleta junto com as outras no bicicletário, colocando a corrente e em seguida partindo em disparada para dentro do prédio escolar. Às veze me sentia como Barry Allen tendo que correr por aí, mas ao contrário dele, eu nunca chegava a tempo e nem salvava o mundo. Assim que pus os pés no corredor, ouvi o soar irritante do sino que tinha o dever de avisar os baderneiros e atrasados a cumprirem suas obrigações de imediato. E dessa vez, por um milagre divino, eu consegui entrar na sala sem ter as reclamações da sra.Thomson sobre a minha falta de respeito para com a escola. Sentei-me no lugar de sempre, desfazendo a mochila em cima da carteira, a professora estava atrasada. Conseguia ouvir as piadinhas matinais que sempre me acompanhavam e já haviam se tornado algo rotineiro.

— Não sabíamos que nos daria a honra de sua presença, Lorax – Clarke declarou seguida por uma explosão de risadas vindas de sua turma e do resto da sala.

Lorax foi o gentil apelido que meus colegas me deram por acharem que meu cabelo ruivo se parecia o suficiente com a criatura do desenho. Mas até que eu não podia culpá-los por pensarem isso, meu cabelo não era de um ruivo comum e sim possuía uma tonalidade alaranjada, onde poucos fios realmente vermelhos se sobressaíam. Elas alegavam ser um acidente com tonalizante barato, mas eu nunca havia usado nenhum tipo de química nele. Mesmo sendo um tanto estranho, minha mãe sempre dizia que eu me parecia muito com a minha bisavó. É uma pena não ter fotos dela ou de alguém da família.

Abaixei a cabeça, não por medo ou por vergonha, mas para manter o controle. Não era fã de brigas, ainda mais sabendo que era isso que eles queriam.

— Acho que ela esqueceu a língua em casa hoje, ei esquisita! Estamos falando com você! – Tessa disse em meio a uma risadinha — Parece tão assustada, mas não podemos culpá-la, se minha mãe tivesse matado meu pai eu também ficaria.

De repente a sala caiu em um silêncio profundo e eu levantei a cabeça, rostos cheios de expectativa me encaravam, mas eu só conseguia pensar em suas palavras maldosas e um sentimento estranho me preencheu e foi crescendo até explodir em um grito profundo vindo da minha garganta, seguido por um ensurdecedor estilhaçar de vidros por todos os lados. Arregalei os olhos e me levantei rapidamente, todas as janelas haviam se quebrado. E eu estava de pé, no meio da sala.

— Você tentou nos matar!

— Aberração!

— Bruxa!

Gritos em formas de xingamentos vinham de toda a sala, como poderiam achar que a culpa era minha? Mas não fiquei para ver o fim do show, disparei pelo corredor, até chegar ao estacionamento, com as mãos tremulas e visão embaçada causada pelas lagrimas consegui retirar a corrente que prendia a bicicleta, montando imediatamente e pedalando em direção a segurança de casa.

ArgentumWhere stories live. Discover now