Prólogo

151 16 3
                                    


Apesar de estar no meio do verão, o frio que assolava a noite dava a floresta um tom sombrio, quase como se houvessem sombras ondulando nas árvores criando imagens fantasmagóricas. Ao longe, entre os espessos arbustos e flores silvestres, ouvia-se o uivar selvagem dos lobos como uma canção melancólica que preenchia o ambiente escuro e frio da floresta de Argentum.

No castelo onde jazia a escola, as luzes refletiam a felicidade dos jovens que dançavam em comemoração a mais um ano concluído, totalmente alheios ao que acontecia do lado de fora.

Katherine quase quis dar meia volta em direção à segurança do castelo que havia sido seu lar durante anos. No entanto, estava ciente de que não podia voltar atrás, não quando Charles a puxava para dentro da floresta, eles haviam feito uma escolha e teriam que arcar com as consequências dela.

— Ainda falta muito para chegarmos? – Indagou a menina ofegante enquanto removia os fios de cabelo que grudavam em seu rosto — Parece que estamos correndo pelo mesmo lugar várias vezes.

— Estamos quase lá – Respondeu ele mais para si próprio do que para ela — Você sempre foi tão impaciente, Kate.

— E você sempre se perdeu nesta floresta.

Charles sequer teve tempo de retrucar, pois um estrondo entre as árvores se fez audível, causando medo no jovem casal.

— Esconda-se – Ordenou o rapaz — Vou ver o que está acontecendo.

Ela imediatamente o obedeceu, sentindo o frio congelante enquanto se escondia entre as árvores. Bem sabia que era uma questão de tempo ate serem pegos, mas ainda possuía esperança de que chegassem a salvo em seu destino.

Ouviu passos vindos em sua direção e fechou os olhos, sussurrando uma prece baixa. Pensou em Charles e seu coração apertou, esperava o melhor e temia o pior. A certeza não era uma possibilidade no meio daquela noite sombria.

Acordou de seus devaneios com um grito silencioso vindo da escuridão seguido de um estrondo de algo se chocando contra o chão, seus olhos se abriram e sua cabeça virou-se imediatamente focando em uma silhueta que jazia no chão. Viu uma sombra se distanciando, mas não conseguiu ver nada além que sua capa ondulando ao vento. Sentiu medo, mas ainda sim se aproximou. Era um corpo. O corpo de seu amado estirado sob uma poça do próprio sangue.

— Charles?– Sussurrou ela, ajoelhando-se ao seu lado — Charles!

Mas ele não respondeu. Sua boca estava aberta e os olhos esbugalhados. Ela tocou-lhe o rosto e sentiu as digitais frias com a temperatura da pele do homem. Lágrimas silenciosas cobriam o seu rosto enquanto os dedos fechavam os olhos do homem que amava, os mesmos olhos que haviam carregado inúmeros sorrisos e até mesmo lágrimas. O pesar que sentia por saber que não o veria sorrir novamente ou não ouviria mais o som de sua voz era indescritível, ela nunca havia presenciado tamanha dor quanto naquele instante.

— Não consegui encontrá-la, senhor – Ouviu-se um murmúrio vindo por entre a folhagem, mas o cérebro da garota estava cego pela dor e não reconheceu aquela voz.

— Eu amo você – Sussurrou ela, depositando um beijo na face fria e arroxeada de Charles.

Muito relutante Katherine forçou-se a se afastar de seu amado e desatou a correr por entre os galhos das árvores que vez ou outra prendiam em seu vestido, rasgando-o, mas ela não se atreveu a parar. Seu peito queimava devido o cansaço quando enfim avistou o lago mais lindo e brilhante que já havia visto e mergulhou sem pensar duas vezes.

ArgentumWhere stories live. Discover now