Capítulo 5

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Amélie

Estou deitada no sofá quando algo me desperta: uma melodia doce e suave. Me levanto e percebo que esse som vem do meu quarto. Mas como poderia? Não me lembro de deixar o rádio ligado. Vou em passos lentos e ainda sonolentos em direção a porta. E, quando finalmente olho para dentro, lá está a surpresa.

Como não suspeitei que uma canção tão maravilhosa só poderia vir dele?

Fico ali parada o admirando enquanto toca com perfeição. Seus dedos são tão ágeis e sua voz tão graciosa. Ele fica tão lindo concentrado no que faz, sem se importar com alguns fios de seu cabelo que insistem em cair nos seus olhos.

Observo-o atentamente quando de repente seu olhar encontra o meu.

Ele sorri o sorriso mais lindo que já vi. Mas eu não consigo o retribuir. Estou paralisada. Parece que todo meu corpo ficou entorpecido.

Ele deixa o violão sobre a cama e se levanta devagar, enquanto passa a mão pelos cabelos, ajeitando os fios que caiam sobre seu rosto.

Eu estou extremamente nervosa enquanto ele caminha em minha direção. E sei que ele percebe meu nervosismo pois seu sorriso se alarga.

Ele para na minha frente e eu tento recuar. Minha tentativa é inútil, pois percebo que já estou com as costas na parede. Então ele dá mais um passo e cola seu rosto no meu.

Passa seus dedos suavemente na lateral do meu rosto e não consigo evitar que meus olhos se fechem com a sensação. Quando ouso abri-los novamente, percebo seu olhar fixo no meu. Seus olhos castanhos tentam me dizer tantas coisas. Espero que ele consiga decifrar o que os meus dizem a ele.

Ele abaixa o olhar até minha boca e então encosta seus lábios nos meus. Sinto seu hálito quente e a ternura de seus dedos que agora acariciam minha nuca.

Como eu esperei por esse beijo.

Mas repentinamente um barulho estrondoso nos assusta. Olhamos para os lados procurando de onde vem esse som horrível. Até que a figura de Cris desaparece.

Abro então meus olhos e estou deitada na cama. Droga! Não passou de um sonho. E na melhor parte o despertador toca. Viro para o lado e desligo-o.

São 4:30! Preciso começar a me arrumar. Não posso ter o luxo de me atrasar.

Então levanto e caminho para fora do quarto, onde vejo que minha mãe faz o mesmo. O sorriso escapa dos meus lábios. Como eu a admiro!

Nós temos uma vida bem simples: Casa pequena na parte desafortunada da cidade, sem qualquer luxo. Porém, tudo o que tenho e tudo o que sou é graças a ela. Que lutou por nós, mesmo quando meu pai a abandonou ainda grávida. Ela fez tudo por mim. Tudo para que eu fosse criada dignamente. E eu devo muito a ela. Eu devo tudo a ela. E farei todo esforço para um dia tirar ela dessa situação em que vivemos. Farei de tudo para que tenhamos um destino fabuloso.

- Bom dia querida - ela diz com voz de sono.

- Bom dia mãe.

- Pode ir para o banho que eu preparo nosso café. - Ao terminar ela beija minha testa e sorri para mim. E em seu sorriso percebo o quanto está cansada. Ela trabalha tanto, e descansa tão pouco.

- Tudo bem mãe. - Eu disse indo em direção ao banheiro.

Tomo um banho rápido e frio. Enrolo-me na toalha e vou para o quarto.

Ao entrar me deparo com meu uniforme passado e dobrado sob a cama. Sempre fico impressionada com a habilidade da minha mãe de fazer tantas coisas em tão pouco tempo.

Amarga MegOnde as histórias ganham vida. Descobre agora