⭐Capitulo 1⭐

55 4 6
                                    

*21 de Março de 2013, atualmente*

Já se passara um ano desde que fui contratada para ser uma dançarina qualquer. Desde então, as semanas vão se arrastado cansativas, e junto com cada dia que se vai, uma mentira a mais é contada. Ilusões esfarrapadas e infelizes que são necessárias.

Meus pais, apesarem de não possuírem mais status e posição social, ainda tem princípios a serem respeitados e não merecem ter o desgosto de saber que a única e preciosa filha trabalha na noitada, se exibido para um bando de homens assanhados.

Senhor e Senhora Castel acreditam que trabalho como secretária na empresa de publicidade Dirock e cia, e que, para sustentar a casa sozinha, vivo fazendo turnos extras. Entretanto, na verdade, meu real emprego é na Boat's Club Dance. Uma boate muito conhecida na cidade, principalmente, por haver algo além das danças e diversões entre as paredes azuis do lugar.

Nenhuma moça de respeito coloca os pés lá dentro. Mas admito que mesmo assim fico feliz de ter conseguido esse emprego, já que foi ele que impediu de faltar comida em casa. No entanto, cada vez que eu tenho que levantar da cama, sorrir para os meus pais e fingir que vou trabalhar na empresa, dói demais.

Sinto que estou traído eles, porém, sei que tem que ser assim, senão, a fome se tornará nossa vizinha de quarto, e isso eu realmente não vou me perdoar se isso acontecer.

— Vamos lá, Valentine, é apenas mais um dia de trabalho normal — balbucio para mim mesma antes de levantar da cama e suspirar, cansada. Me arrumo com rapidez e vou a cozinha. Meus pais estão sentados ao redor da mesa. Papai toma café e mamãe tem nas mãos uma pequena maleta. — O que aconteceu, mãe? — Assusto-me ao notar que ela envolve um curativo em um dos dedos. Dona Maria, minha mãe, ergueu os olhos e sorriu, como se disse que não era nada de importante.

— Ela se furou como a agulha. — Papai abaixa o jornal que esta lendo e me fita, até que desvia o olhar para mamãe. — Sua visão não é a mesma de antes, Maria. Não devia mexer com essas coisas. — Pelo tom da voz esta preocupado.

— Eu estou bem, Rodolfo. — Mamãe o tranquiliza e volta os olhos castanhos na minha direção. — Você não está atrasada, Valentine? — Suas palavras me fazem dar conta de que para eles, eu realmente devo estar atrasada. Me faço de surpresa, pego um pedaço de pão que papai estava comendo antes deu chegar, e saiu correndo para a rua.

Entretanto, antes de bater a porta da sala, ainda escuto ambos dizerem para ter um bom dia de trabalho, e isso trava minha fome na hora.

Permaneço durante várias horas perambulando pelas ruas da cidade, como sempre faço, porém, dessa vez,  algo está estranho, mas não sei dizer o que. Parece que alguém me segue, posso sentir olhos me queimarem, mas quando viro o rosto, está tudo normal. Deve ser apenas impressão.

Como de costume, todas as terças e sextas tenho hora extra na "empresa", pelo menos é isso que meus pais pensam. Na verdade, são nesses dois dias que tenho que ser a Aline Cast por mais tempo do que me agrada.

Na boate, eu não sou eu, a herdeira de uma empresa falida. Lá não existe Valentine Castel, a menininha doce, amável e que em nenhuma hipótese entraria em lugares como aquele, ela some, simplesmente desaparece. Naquele local sou apenas a Aline.

Puxo o celular do bolso, e apesar dele não ser mais um dos melhores, me informa o horário com eficiência. Quando a ecrã marca oito horas em ponto, caminho para o club e não demoro mais que vinte minutos para estar na frente da porta dos fundos, mostrando o crachá de funcionaria ao segurança e entrando no meu inferno particular.

Vou  ao camarim das dançarinas e começo a me arrumar. Não demora e Cindy entra gritando que faltam apenas 5 minutos para o show começar. Cindy Liay é uma descendente de chineses, com cabelo rosa e bochechas avantajada; muito bonita, e uma das poucas pessoas que prestam nesse lugar. Liay sai xingando algo, parece estar muito brava.

Balanço a cabeça e tento focar nos passos. 5 minutos a mais de ensaios pode ser o suficiente para evitar que eu faça algo de errado, ou esqueça algum passo.

Me abaixo e tento tocar a ponta dos dedos dos pés com as das mãos. Algo muito simples, se eu não estivesse, nesse momento, sendo ofendida e sem tempo de retrucar a altura.

— Você acha mesmo que vai dura muito aqui, menina? Já vi muita guria desistir depois de um ano — Mary provoca enquanto termino de me aquecer. Uma coisa havia aprendido nesse tempo todo aqui, além de não poder usar o meu nome verdadeiro, também não posso ser eu mesma. Tinha que me defender. Valentine fingiria facilmente não ligar para uma provocação tão infantil. Mas já a Aline, pode se dizer que sabe se impor e, com certeza, se eu abaixar a cabeça, serei pisada, e provavelmente acabarei tendo que me demitir, e isso não pode acontecer.

— A menina aqui já durou um ano, e acho que pode dura mais, querida! — respondo com ironia, empurrando-a. — Te vejo no palco. — Olho por cima do ombro e sorriu. Todas as outras dançarinas dão risada baixinho, enquanto Mary parece querer me matar com o olhar.

Eu não me importo, querida, não me importo mesmo.

A apresentação acontece como sempre. Fico no fundo, atrás de outras garotas, me remexendo ao ritmo da música e tentando lembrar que não posso gostar disso. Mas a melodia entra fundo em mim e não controlo o corpo. O quadril desliza para os lados e sinto as pernas sederem e levantarem. Tudo ao redor some. Na mente, ressoa a voz da Mary me dizendo que não sou capaz. O pé vai para frente e para trás. Eu não estou seguindo a coreografia, sei disso, mas não posso evitar. É tão mais forte que eu. A cabeça pende para os lados com suavidade, e sinto os lábios e as pálpebras, aos poquinhos, se entreabrirem. Quando noto o que acontece, travo. Estou quase no centro do palco, sendo observada por todos os clientes, que parecem confusos ao mesmo tempo que sedentos. No fundo, eu não era visível, mas aqui, me sinto vulnerável e exposta. Jogo os braços ao redor do corpo e saiu correndo, desejando apagar as faces daqueles homens da mente. Foi nesse momento que a Valentine deu seu primeiro passo para fora de mim e a Aline entrou. Ela nascia de verdade naquele instante.


Naabot mo na ang dulo ng mga na-publish na parte.

⏰ Huling update: Feb 24, 2018 ⏰

Idagdag ang kuwentong ito sa iyong Library para ma-notify tungkol sa mga bagong parte!

ValentineTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon