⭐Prólogo⭐

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"Eu tenho medo, mesmo sabendo que não deveria, o receio corre nas minhas veias e me faz querer chorar. Se não estivesse em um lugar público..."  A caneta desliza sobre o papel. Estou tão concentrada no que escrevo que não noto nada ao redor. Na verdade, não quero notar. Preciso apenas que alguém, além dos meus próprios pensamentos, me escute. Já que uma pessoa de carne e osso não pode, só me resta a folha. "Quando sai de casa hoje, disse aos meus pais que procuraria um emprego digno e ajudaria-os, e juro que tentei. As paredes de São Valentim sabem disso. O santo que me dá nome também pode testemunhar a meu favor. Eu pensei em negar-me a prestar esse papel, mas me lembrei que as ruas são frias. E é por não desejar ter que aguentar a frieza na minha pele que aceitei aquele... aquele emprego. Mesmo sabendo que só o que resta a minha família é o nome, não pude recusar a oferta. Meu pai está desempregado, cheio de dívidas, e ainda sofre do coração. Mamãe está doente, sempre fora, mas agora não há dinheiro para cuidar dela. As chances de conseguir um emprego decente, que possa ser suficiente para cuidar deles, na crise que a cidade está passando, são mínimas, entretanto, o que eu estou prestes a fazer não é o mais certo, jamais, em hipótese alguma, influenciaria alguém a fazer o mesmo. Peço perdão a Deus e não me orgulho de ter que seguir este caminho, porém, não me arrependo do que pretendo fazer. Minha família sempre vai vir em primeiro lugar, pois sei que daria a minha vida por eles. Nossas escolhas sempre têm um preço, e o meu não será barato. Eu sei que terei que arcar com às consequências, mas tudo bem, se é pela família, eu... Valentine Castel, faço."


Quando chego no fim da carta, a levo na altura dos olhos e rasgo. Jogo os pedaços fragmentados no chão e enxugo uma lágrima que caiu antes que eu notasse. Sem rastros. Sem confissão de pecado. É melhor assim.

Inconscientemente, eu já sei que estou embarcando na pior fase da minha existência.


ValentineWhere stories live. Discover now