Capítulo I -

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San Francisco, 2016
   O relógio marcava 4:00am e eu ainda estava acordada, sentada sobre minha cama, observando a parede enquanto tomava um copo de café. Era o primeiro dia de aula depois de longas férias de inverno, e eu precisava me preparar psicologicamente para a nova tortura. Acredito eu, estar fazendo isso errado, já que a aula começava ás 8:00 am e eu deveria estar dormindo. Depois de longos goles do café, observei o relógio novamente. — Melhor eu não dormir denovo se não vou acabar me atrasando. Mas posso me deitar e relaxar um pouco. — Disse e me enrolei nas cobertas observando o relógio que ficava em cima da escrivaninha ao lado da cama.
    Abri os olhos e os esfreguei olhando para o relógio. 7:40am. 7fuckings40AM. — Meu Deus, era pra eu já estar no caminho. — Levantei num pulo indo em direção ao banheiro e escovei os dentes como nunca o fiz antes. Ao mesmo tempo em que escovava os dentes, procurava algo para vestir.
     Logo depois fui correndo até a cozinha onde minha mãe, Yara, estava. Eu morava apenas com ela desde minha infância. E você deve se perguntar o que houve com o meu pai. É uma ótima pergunta, pois eu também não fazia idéia. Minha mãe jamais tocara no assunto e eu também não fazia questão de perguntar. Uma vez ela citou que ela fora abandonada pelo marido e eu acredito que eu tenha sido fruto da relação dos dois. Mas de qualquer forma, eu me sentia feliz com a monotonia que existia na nossa família. Apenas eu e ela.
— Bom dia, querida... — Disse ela enquanto me via morder apenas um pedaço da torrada que estava na mesa e murmurar um "bom dia" de boca cheia.
    Eu nem sequer me sentei, afinal eu não tinha tempo para isso. Peguei minha mochila e bati a porta. Corri o máximo que eu podia, os portões fechavam ás 8:15. O tempo estava pós-chuvoso. O asfalto estava molhado, e eu desviava de poças.
— E aí, gata! Quer uma carona? — Disse alguém, dentro de um carro conversível atrás de mim. Olhei para trás, e me virei novamente focando em meu caminho. Josh. Ele não estava me cantando. Josh era jogador do time de basquete da escola, andava com mais dois garotos: Dean e Aaron, - que também estavam no carro -. Eles basicamente acabam com a felicidade de pessoas que não são líderes de torcida, no caso, eu. Eu nunca me interessei por essas coisas, o que acabou me deixando impopular e invisível na escola - o que eu também não me importava, afinal, desde pequena fui individualista e autosuficiente. Mas não era nada fácil quando Josh, Dean e Aaron diziam que eu era "sem amigos" na escola quando nós eramos pequenos. Eu chorava? Sim. Mas eu dava o meu jeito. De alguma forma.
  Josh acelerou o carro rindo junto com os seus amigos, e passou em uma poça de água de uma vez, o que fez ela me molhar por completo. — Merda! — Gritei encarando o carro dele se afastar com velocidade. Olhei para o meu corpo, meus sapatos e meias encharcados. — Ele me paga. — Falei com ódio e continuei caminhando até a escola. Eu já tinha percorrido um grande caminho correndo, a escola estava próxima e eu estava no horário.

                             * * *

Entrei na escola e fui direto ao meu armário guardar meus livros e coisas. Não aguentaria carregar essa mochila pesada novamente. Josh se aproximou rindo, rolei os olhos tentando ignora-lo.
— Gostou do banho? Talvez você estivesse precisando mesmo. — Disse ele me cheirando. A água da poça era de chuva e provavelmente não estava limpa, o que me fez parecer uma moradora de rua. Mais uma vez não me importei com Josh, colocando meus fones de ouvido e fechando meu armário. Ele saiu indo em direção á outro alvo de zoação. 
Nada de diferente aconteceu até agora. Entrei para a sala de aula um pouco atrasada e me sentei nas últimas cadeiras como sempre fazia. Olhei em volta e todas as garotas contavam como havia sido ás férias, diziam que estavam com saudades uma das outras e eu apenas rolava os olhos. Nós sempre nos importamos em ter muitos amigos e amigas, pessoas com quem podemos contar e guardar nossos mais preciosos segredos. Mas a verdade é que, essas pessoas simplesmente não existem. A palavra "Amigo" na verdade é apenas uma expressão. Algo como "Você é um humano também. Vamos compartilhar nossas idéias, roupas e comida até enjoarmos um do outro e agirmos como nunca tivessemos nos conhecido". Por isso eu havia decidido que eu não teria amigos. E você pode até pensar que na verdade, não era uma escolha e que eu apenas concordei em ser solitária. Mas algo em mim me fazia afastar as pessoas e machucá-las, por tanto eu preferia conviver apenas comigo mesma. De repente um garoto interrompeu meus pensamentos estalando seus dedos em frente aos meus olhos.
— Alô? — Disse o garoto rindo baixo enquanto a professora explicava a matéria lá na frente. 
Eu o olhei assustada e não disse uma palavra.
— Você não fala? — Ele insistiu. — Tudo bem. — Disse e virou para a frente novamente.
Eu o observei e não soube o que dizer. Eu havia me socializado poucas vezes naquela escola e como eu disse, gostava disso. Algo como responder a chamada e dizer quantas colheres de sopa eu queria no meu prato, era como eu me socializava diariamente. O garoto voltou a olhar para mim e eu corei.
— Talvez eu tenha sido mal educado. Meu nome é Zac. Eu sou novo aqui e preciso de amigos novos. Qual o seu nome? — Algumas garotas obversavam o garoto falar comigo e cochichavam com suas amigas algo do tipo "por que ele está falando com aquela estranha?" "ele é tão bonito, por que fala com uma garota tão feia?"

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