Capítulo 01

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Amor com esperança.

Skyller Reed, 17 anos.

MUITAS PESSOAS ME VEEM como um mistério. Pergunto-me ainda o porquê de muitos me julgarem assim. Será que não passa pela cabeça das pessoas que você não tem a obrigação de mostrar para elas quem você é de verdade? E afinal, quem foi que definiu "mistério" como algo ruim? Por um acaso apenas por não saberem o que passa pela minha cabeça, ou as dores que sinto, ou as muitas dificuldades que tenho isso me torna um mistério? Bom, é bem mais simples do que sair pelas ruas com uma placa em cima da cabeça dizendo: "Olá, em breve serei só mais uma cega inútil nesse mundo". Eu nunca quis a dó de ninguém, e minhas limitações cabem apenas a mim.

Os milagres e relatos de curas são bonitos; para pessoas que acreditam neles. Eu já tentei acreditar de todas as formas que o "todo poderoso" - o qual eu realmente me questiono quanto a sua existência - pode me curar.

No entanto, mesmo tendo essa vida pacata, não há porque ser mais uma vitimista, muito menos de Deus, a quem não sei o que pensar direito. De qualquer forma eu estou ficando cega, e isso não convém a ninguém. E por mais que eu a odeie a minha vida, eu não posso tirar ela, porque pessoas dependem de mim. Kaylee depende de mim. E, eu jamais deixaria de estar aqui quando ela precisasse.

Ninguém se importa de verdade em ver alguém se atirando lentamente ao fundo do poço, e eu não seria uma pessoa que gostaria de se entreter com uma história de uma quase cega que comovesse as pessoas. O tempo criou espessas camadas o bastante em mim para que eu me revestisse de todo tipo de dó. E eu não deixaria ninguém sentir pena de mim, porque eu não preciso, eu sou forte, ou pelo menos tenho uma máscara inatingível que me diz isso.

A real verdade é que eu sempre tive um lado de mim que vivia no escuro. Não sabia o que esperava das coisas, não sabia se devia confiar ou não em alguém. Eu sempre tive necessidade de algo dentro de mim que me preenchesse completamente, mas parecia que nunca era o bastante. Eu já cheguei a acreditar em Deus, em coisas assim, mas eu simplesmente havia cansado de tentar forçar alguma coisa. Minha cabeça era repleta de dúvidas, questionamentos, e o meu coração não conseguia se firmar completamente. Eu parecia um jogo de ping pong, onde eu era a bolinha.

O que quero dizer é que, eu quis acreditar, eu queria seguir aquilo. As pessoas diziam que ficar em silêncio era pior, mas a verdade era que eu estava gritando. Eu ansiava por ajuda, mas ninguém me entenderia, então eu me fechei para tudo, e para todos.

Tudo bem, talvez não todos. Eu ainda tinha duas pessoas que eu ainda ouvia. Um lindo velho de 76 anos, e bem, uma garotinha de sete. Olhei para os dois bem na minha frente. Apesar da diferença enorme de idade entre eles, a sabedoria que esbanjava do rostinho dos dois eram notórias.

Vovô tomou um gole do café e sorriu para Kaylee.

- Fantástico, Kay, fantástico - ele aprovou o café balançando a cabeça, com os olhos fechados e um sorriso lindo. Eu não tinha o mesmo dom na cozinha que Kay tinha, e nem todos os outros.

Kaylee era a síntese de uma criança que qualquer um queria como filha, ela é tudo que eu não conseguia ser. Ela não tinha dúvidas de nada, mas ainda sim tinha opiniões fortes e estruturadas. E além de tudo isso, o que ela acreditava era incondicional para ela. E eu nem sequer sabia no que eu acreditava.

Minha mãe abriu a porta de casa e correu cambaleando para o quarto dela, sem olhar nos nossos rostos. A vergonha que eu sentia dela era notória. Nunca ficava parada num emprego, nunca ficava em casa pela noite, sempre chegava de manhã, bêbada. Devia ter passado a noite com mais um daqueles caras.

Abra Os OlhosWo Geschichten leben. Entdecke jetzt