REQUIEM. D MINOR

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Música: Réquiem/Mozart

MEUS "AMIGOS"

Era a luz me acompanhava naquele túmulo de sentimentos. A dor que evocava ali participaria do mesmo ar do cemitério. Era assim que eu me sentia, morto e inexistente, frio e vazio. A luz que batia em meus cabelos encaracolados não podiam ressaltar o humor que passava por meus olhos, era sempre assim, a lua brincando com minhas manias estranhas. E parece que o mundo se divertia olhando minha alma apodrecer naquele cemitério. Alí era o meu refúgio, o lugar mais calmo para pensar e chorar, para refletir e viver em paz com meus demônios. Como sempre, eu permanecia no topo de uma lápide bem construída, sua estrutura era antiga do estilo gótica, me fazia lembrar os cavaleiros medievais nas sangrentas batalhas travadas por séculos e séculos. O silencio e o ar que emergia daquele local sempre me acolhera de bom tamanho, era o meu lar de descanso, nem mesmo a chuva que emergia constantemente naquele local me faria sair. Não havia medo, muito menos receio de está alí, já havia visto o bastante para crê em algo sobrenatural, e isso nunca me assustara.

A chuva que normalmente permanecia naqueles tempos nublados sempre estava forte a noite, os respingos fortes que atacavam meu rosto me faziam fechar os olhos quase que simultaneamente, pareciam espinhos me forçando a dormir, parecia que até a chuva sabia que tudo que eu precisava naquele momento, era uma longa e bela noite de paz e sono. Os meus olhos a tons escuros observavam com cautela o silencio que nos túmulos nascia, eram todos os meus amigos, cada um deles, cada morto esquelético enterrado á 15 pés no solo maciço. Eram os únicos que eu podia contar, os únicos que sempre estão comigo quando precisam. Os únicos que nunca me abandonaram. Minha mãe me odeia e me maltrata, meu irmão me estupra toda vez que o mesmo briga com a namorada. Meu pai simplesmente me espanca todos os dias que está de mal humor. Eu não tinha ninguém, não possuía vida nem sequer amor. Era escuridão e sofrimento que crescia cada vez mais dentro do meu corpo, e esses mortos são minha salvação. A quietude de seus túmulos.

Minhas roupas pretas permitiam que eu fosse facilmente camuflado pela escuridão, as marcas de tortura em meu corpo se permanecem bem invisíveis para os meus amigos, eu nunca contei a eles sobre a tortura que sofro todos os dias. Mas pra quê contar, não é mesmo? Mal falam comigo, apenas me fazem companhia neste lugar gélido desgastado pelo tempo. É como minha maré dizia: "Tudo aquilo que nasceu pra morrer, será torturado até o fim". Era isso que a humanidade fazia com este local não se importando com os mortos que haviam alí, não se importando com meus únicos amigos. Já era quase 04:00 da manhã, precisava chegar em casa antes que toda minha "linda" família acordasse, a consequência seria atroz caso ninguém me visse em casa de manhã, isso lembra facilmente o que causou toda desgraça de minha vida. A punição por chegar uma hora atrasado depois de sair só colégio, meu pai me bateu tanto mais tanto que acabei ficando cego de um olho e com problemas neurais. É uma histórias a ser refletida a todo momento desta vida, mas já era a hora de voltar para o meu verdadeiro inferno de cada dia…

O meu lar torturante…

Murilo V.

DarkMurilo

Temática MusicalWhere stories live. Discover now