DANSE MACABRE

24 10 3
                                    

Música: Camille Saint-Saens – Danse Macabre

O Último Baile de Stephanie

Meu Deus! Estou atrasada! Mas também aquela megera da minha chefe ficou enrolando para me enviar o e-mail com os dados necessário para fazer o relatório.
Elaine Clark sempre faz isso comigo quando sabe que vou ter um encontro, ainda mais como o de hoje que será um baile de máscaras. Acho que ficou com mais raiva por não ter sido convidada.
Ao chegar no meu apartamento num bairro afastado do centro de Londres, corro para o banheiro para tomar uma ducha rápida. Ainda bem que fiz um belo penteado no meu cabelo platinado na hora do almoço, assim fica mais rápido me arrumar.
Alugar um vestido de gala é que realmente me deu trabalho, de todos os que experimentei foi um vermelho que realmente ficou lindo, mas eu gosto mais da cor azul ou verde.
Ao encarar meu reflexo no espelho noto uma espinha querendo aparecer na testa. Onde já se viu quase trinta anos na cara e ainda aparecem espinhas no rosto.  Mas nada que uma boa maquiagem não possa resolver.
Meus olhos azuis parecem mais escuros do que o normal, acho que é por causa da ansiedade. Faz um mês que estou saindo com Patrick, ele é um belo rapaz de trinta e cinco anos, pele alva, olhos azuis mais claros que os meus, cabelo castanho.
Quando o conheci pela internet, não acreditei muito na sua foto, mas ao encontrá-lo pessoalmente, nem acreditei na minha sorte. Lindo e rico! Estou com a vida ganha com certeza.
Termino de fazer a maquiagem, em seguida vou para o quarto, coloco o vestido, em seguida encaro meu reflexo no espelho do guarda roupa. Realmente, nunca pensei que ficaria tão bem num vestido vermelho.
Às vinte horas em ponto meu interfone toca:
- Pronto.
- Senhorita Stephanie, o motorista do senhor Patrick lhe aguarda.
- Peça para aguardar mais uns minutos senhor Jonathan, já vou descer.
- Sim.
Desligo o aparelho e volto correndo para o quarto. Mexo no meu estojo de joias que, na verdade, é de bijuterias. Ah! Mas para uma ocasião como esta, preciso de algo melhor, vou usar as joias que mamãe deixou para mim. Uma correntinha de ouro que possui um pequeno pingente com um minúsculo rubi e brincos que formam um belo conjunto.
Depois de calçar um par de sandálias e pegar minha clutch, saio rapidamente do apartamento, mas não antes de dar uma boa olhada no meu pequeno e humilde lar. Quem sabe hoje fisgo de vez o Patrick?   
Ao chegar na portaria, vejo Duarte, o motorista, num belo terno negro do lado de fora do prédio:
- Tenha uma boa noite, senhorita Stephanie. – Jonathan abre um belo sorriso para mim.
- Obrigada. Certamente terei uma boa noite senhor Jonathan. – retribuo o sorriso.
Ao sair do prédio, Duarte me cumprimenta cordialmente com um leve aceno de cabeça, abre a porta do grande e luxuoso carro negro.
O local do baile é aproximadamente cinquenta minutos de distância de Londres. Patrick me avisou que seria num castelo medieval, e que muitas pessoas importantes estariam presentes. Por isso era mais do que obrigatório o uso de trajes de gala.
Ao chegarmos no local, me deparo com um majestoso castelo, luxuosamente decorado. Patrick me aguarda na entrada ao lado de vários seguranças.
Duarte abre a porta para mim, e ao descer, Patrick vem ao meu encontro com um belo sorriso no rosto:
- Está lindíssima, querida. Adorei o vestido, na verdade o vermelho combina perfeitamente com você e com esta festa.
- Obrigada, mas na verdade queria mesmo um vestido azul, mas não encontrei nada interessante. – digo com um leve sorriso.
- Entendo. Vamos entrar? Esta será sua máscara. – diz ao me entregar uma máscara estilo vienense com detalhes em vermelho e preto, que cobre apenas uma parte do rosto.
- Parece que você adivinhou, porque essa máscara combina com meu vestido. – digo arregalando os olhos espantada com a beleza da peça.
- Digamos, apenas que imagino o que as pessoas pensam. Agora vamos porque estamos perdendo a valsa.
Ele coloca uma máscara negra que cobre somente parte do rosto como a minha. Em seguida entramos no lugar, noto que o luxo não é só externo, mas também interno. Passamos por alguns corredores, até finalmente chegarmos num grande salão de festas. Muitas pessoas já estavam ali, e todas dançavam alegremente a valsa.
Patrick me puxa em direção ao centro do salão, digo que não sei dançar, mas parece que não me ouve. Ele para e me faz dar um rodopio, em seguida começamos a dançar como os outros casais.
Espera! Realmente nunca dancei valsa, mas parece ser tão fácil ao lado de Patrick, que não me contenho e começo a rir como uma boba, e ele ri junto comigo.
Dançamos várias músicas, aquilo tudo parece um sonho. Será que realmente não estou sonhando.
- O que está pensando? – ele sussurra no meu ouvido.
- Parece que tudo isso é um sonho. Jamais pensei em um dia colocar meus pés num lugar como este.
- Foi o que imaginei. Todas pensam a mesma coisa, mas o sonho se torna pesadelo rapidinho.
- Como assim todas? O que quer dizer com isso?
- Olhe ao redor, minha querida! Não notou nada de estanho?
Vasculho o lugar com um olhar mais atento, então percebo um casal em um canto. O homem parece estar beijando o pescoço da moça, porém um líquido vermelho escorre em suas costas pela abertura do vestido.
O que é aquilo? Do outro lado noto outro casal, mas desta vez é a mulher que beija o pescoço do homem. Nossos olhares se cruzam, e vejo algo que me deixa totalmente amedrontada. Dentro de sua máscara, seus olhos estão vermelhos como sangue.
- O que está acontecendo Patrick? – questiono ao fitar seus olhos.
- Patrick é somente um dos vários nomes que costumo usar, minha querida. – diz ao levantar uma sobrancelha.
- O que quer dizer? Está me assustando!
- Você está participando de um dos nossos bailes de orgia de sangue. – diz ao mesmo tempo que seus olhos começam a mudar do azul para o vermelho sangue.
- O quê? Me solte! Quero ir embora! – digo tentando me soltar de seus braços, mas ele não me liberta e continuamos a dançar.
- Não tem como fugir minha querida. Sua vida agora pertence a mim, e faço com você o que eu desejar.
De repente ele sorri, então suas presas começam a crescer. Meu Deus! Um vampiro! Patrick é um vampiro de verdade! Então, ele crava seus dentes no meu pescoço, sinto meu sangue se esvaindo, ao mesmo tempo em que ele me segura com mais força, porém não paramos de dançar.
Minha vida toda passa diante dos meus olhos, meus amigos, meu trabalho, até mesmo a megera da Elaine Clark aparece em meus últimos pensamentos.
Sinto meu corpo cada vez mais fraco, e a névoa da morte me envolve e me leva para longe. A última coisa que escuto é a voz de Patrick misturada a música da valsa.
- Adeus minha querida e bela Stephanie. Que a morte te leve para um lugar mais seguro, desta vez.

S. Santos

Santossn

Temática MusicalWhere stories live. Discover now