07 CTT

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Aqui estou mais um dia. Andando pela cidade a procura de algum lugar para dormir.

Dessa vez tenho mais sorte que das outras vezes. Acho uma casa de pensão bem baratinha. Óbvio que é apenas um simples quarto com um banheiro coletivo no corredor, Mas é mais do que eu tive nos últimos meses. 

Na casa da invasão, não tínhamos chuveiro, algumas casas ate tinham, Mas não conseguimos instalar um na nossa, pois não tínhamos espaço. Então esquentávamos água em um balde e nos molhávamos em uma divisão improvisada do lado de fora. Mas na maioria das vezes era banho gelado mesmo pois o gás é muito caro pra ficar esquentando água todos os dias.

Como estava dizendo, a pensão era muito humilde e fornecia um café da manhã e almoço, tudo bem simples. E seria o máximo que conseguiria pagar com o dinheiro que havia juntado. É, pelo visto não vou pagar minhas contas tão cedo. Meu nome provavelmente já deve estar sujo, mas não tenho outra opção.

Assim que chego no meu quarto, a primeira coisa que faço é guardar minhas coisas e ir tomar um banho. E quão bom foi o banho. Tanto tempo sem entrar embaixo de um chuveiro de verdade.

Assim que acabo, volto para o quarto e arrumo minhas roupas, separando as sujas para lavar a tarde. Pego uma calça jeans e um moletom e me arrumo para procurar um emprego. Sim, lá vou eu procurar outro emprego. Me despedi do bar porque além de não gostar de trabalhar lá, ainda por cima é muito longe de onde estou hospedada.

Vou em uma banca de revistas e compro alguns  jornais para ver as ofertas de emprego, preciso de algum lugar para comprar comida também. Olho para todos os lados possíveis, mas não tenho a menor ideia de onde tenha um supermercado ou algo assim. Vou andando sem rumo, nunca tinha vindo para este lado da cidade, na verdade não conheço quase nada daqui.

Não consigo encontrar supermercados por aqui, então decido ir para rua de baixo, viro em um beco meio estreito, quando chego no fim, me encontro confusa. Tem um córrego que passa por aqui? Não sabia. Pela chuva dos últimos dias, a água parece ter quase um metro de altura, e por incrível que pareça não está muito poluída. Deve estar vindo de alguma área preservada ou sem moradores. Penso.

Decido andar em volta do córrego já que não tenho muitas coisas para fazer. Pego alguns matinhos que estão na beirada do alto barranco que separa a rua da água e continuo andando até certo ponto onde decido voltar.

Paro por um minuto, respiro um pouco mais de ar puro e aperto o pé para dar meia volta quando de repente vejo algo na água.

Tento focar o máximo que consigo e quando vejo o que realmente é eu me assusto. É uma criança.

Sem pensar começo a procurar um local mais acessível para descer o barranco. Não encontro. Minha solução é descer o mais rápido possível me segurando em ramos e pedras presas na parede de terra. Desço com muito custo. Esfolo meus dedos, mas não ligo .

Quando estou na água vejo que a criança ainda não passou pelo ponto que estou. Começo a nadar o mais rápido possível até chegar no meio da água . Paro e tento me equilibrar em pé contra a correnteza. Segundos depois a rápida força da água, empurra a criança em minha direção. É uma menina. Ela está balançando os bracinhos freneticamente e tentando ficar com a cabeça na superfície. Quando ela chega perto de mim consigo segurar em seu braço, em seguida pego seu outro braço e junto toda minha força para nos puxar para fora da água.

Quando chegamos na parte rasa do córrego, verifico o estado da pobre menina.
Mesmo com o clima quente da cidade a água está gelada, por isso ela está tremendo e ficando roxa de frio.

Olho para cima. Precisamos sair daqui. Mas como? Eu custei a descer, imagina subir e ainda com uma menina nas costas. Não me vem nada na mente, minha única ideia é gritar.

- socorro!!! Alguém ajude aqui!!   Socorro!  - Grito o mais alto que posso, repetidas vezes. Até que um homem aparece no alto do barranco para ver o que está acontecendo.

- Meu bom Deus menina, o que aconteceu? Espere. Não saia daí vou buscar uma escada.

Não sai daí? Como se eu tivesse escolha né?

Cerca de cinco minutos depois o homem chega com uma escada enferrujada. Ele a desce e a escora na parede ao meu lado. Ele desce até metade dos degraus e eu lhe dou a menina para que ele a carregue até o topo. Logo após, subo as escadas e me sento no chão de terra.

- Como ela está ?- Pergunto ao homem. A menina está desacordada.

- Não sei, mas ela está com muito frio. Vamos a levar para casa. Onde vocês moram ?

- Ela não ... - Penso em contar a verdade, que eu estava passando por aqui e a vi afogando, e que ela não é nada minha, Mas não sei se posso confiar nesse homem para deixar uma criança em seus cuidados. - Eu... nós estamos em um pensão na rua de cima.- Aponto para a rua de onde eu vim, decidida a levar a menina para lá. Quando ela acordar eu pergunto para onde mora e assim a levo de volta.

Eu retiro uma mochila que ela leva em suas costas e a carrego enquanto o homem leva a menina no colo para a pensão.

Meia Noite e Um - Completo ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora