03 Ctt

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Assim que recupero meus sentidos a dor começa a sumir e então olho para cima para ver o homem que molhei. Ele está com olhos focados em mim, seus olhos estão com uma expressão de raiva ou algo pior. Se ele pudesse matar com olhar, já tinha me exterminado e eu seria agora pozinhos de cinzas.

-Aí meu Deus, me desculpa, eu não quis fazer isso. Eu...

- Meu Deus, Senhor Crewe. Queira nos desculpar. - Alicia me corta. - Saia já daqui sua imprestável e tire todas essas coisas daqui. - Ela se dirige a mim, não discuto suas palavras ofensivas, começo a juntar minhas coisas e não ouso olhar para cima. Estou tão constrangida que não sei onde enfiar a cara.

Como sou tão azarada assim? Tantas pessoas e eu fui molhar justo o tal de Andrew Crewe. Agora que completei meu álbum de azar. Talvez eu já estava precisando de um novo mesmo.

- Como você tem funcionários tão incompetentes na loja? Na minha loja ? - O homem diz firmemente, sua voz grave me da arrepios. - Você, olhe para mim. - Ele diz e eu presumo que é para mim então relutantemente levanto meu olhar. - Não quero te ver nunca mais na minha frente, deixe essas coisas no chão e vá embora agora mesmo! - Ele praticamente desconta toda sua raiva em uma frase.

Ora... suas roupas nem estavam tão molhadas assim, um secador secaria isso em poucos minutos. Acho que infelizmente tinha razão sobre o gênero dele. Fútil.

- Mas senhor eu... - Penso em pedir, mas logo me arrependo, de que vai adiantar isso agora? - Quer dizer, sim senhor. - Digo.

Me levanto o mais rápido que eu posso e saio, minhas vistas ainda estão embaçadas, mas faço meu máximo para encontrar meu caminho.

- Não vou ficar mas nenhum minuto. Mande a papelada para meu escritório e trate de contratar pessoas competentes.- Escuto antes de me distanciar. Seguro minha raiva o máximo que eu posso, chego até a despensa, pego minha bolsa e saio desesperadamente para rua.

Chego até um beco de rua e me encosto na parede deixando minhas lágrimas me dominarem. Choro por dentro em alguns minutos, não acredito que perdi meu emprego, eu demorei quase seis meses para consegui-lo, não creio.

Ok. Se recomponha Charlotte. Respire fundo... res-pi-re fundo. Tento me lembrar de coisas boas e isso me acalma um pouco. 'Eu consigo me controlar'. Digo a mim mesma em tom de motivação.

Depois de pegar o ônibus, chego em casa e agradeço por não ter topado com Dona Glória na entrada. Entro e me encolho na cama. Sem eu ver já estou chorando de novo. Dessa vez deixo. Eu precisava disso. Choro pelo emprego que perdi, choro pelo desaforo que aguentei, choro pela vergonha, mas acima se tudo choro pela raiva que sinto de minha mãe que me largou sozinha nesse lugar.

Não sei mais o que fazer agora. Quase Meia hora depois paro meu choro convulsivo e lavo meu rosto no banheiro tentando levar minhas lágrimas.

Não posso continuar nesse estado. Não é justo com mamãe, não é justo comigo...

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Acordo no outro dia com a cabeça doendo horrores. Levanto e procuro algum remédio, mas os meus acabaram. Eu consegui esgotar todos meus remédio para dor de cabeça em apenas um mês.

Minha única solução é pedir a Glória. Tento medir se não seria melhor ficar com dor. Mas minha cabeça aperta e eu me rendo.

Saio porta a fora e Dona glória está como sempre na janela da frente, vigiando a rua. Quem precisa de vigia se temos Dona Glória ?

-Bom dia! - digo sorrindo - Eu estou com muita dor de cabeça, será que poderia me dar algum remédio, o meu acabou.

-Esses jovens não se lembram de nada, entre querida, precisava mesmo falar com você.- Ah não, lá vem, conversas como essas sempre tem resultados negativos pra mim.

Entro em sua impecável casa, é tudo simples, mas está tudo arrumado e limpo. Sento na mesa da cozinha e espero até que ela me entrega um copo e um comprimido. Engulo o remédio com a água e espero para ouvir o que ela tem a me dizer.

Enquanto isso me perguntei por alguns segundos se seria algum comprimido com dipirona ou veneno, mas acho que Glória não mataria alguém assim... como ela esconderia o corpo sem que os vizinhos percebam?

- Então querida, sei que você é uma boa moça, trabalhadeira e honesta, mas é com dor no coração que tenho que lhe pedir para procurar outro lugar para ficar. - Ela põe a mão no coração e finge estar muito triste.

Eu pisco algumas vezes antes de entender que ela está me expulsando do quarto...

Não estou acreditando. Isso não pode ser verdade, caramba. Logo agora que perdi o emprego. Começo a entrar em desespero.

- Não, dona Glória, por favor eu não tenho pra onde ir, a senhora sabe. Acabei de perder meu emprego e preciso de pelo menos algum tempo. - Imploro, mas no fundo sei que não vai adiantar nada.

- Mas já perdeu o emprego ? Que irresponsável. Foi até bom eu ter te dispensado então. Mas realmente não posso te dar tempo. Meu filho vai voltar a morar comigo e ele gosta de dormir no quartinho. Coitado, se acostumou a dormir só. - Francamente, ela realmente não entendeu que ele gosta de dormir só, para levar garotas para o quarto? Santa inocência. Não comento mais nada, apenas me levanto da cadeira.

Hoje eu teria um infarto, teria sim.

-Não fica assim florzinha, vamos fazer assim, não vou te cobrar essa última semana que ficou aqui. Pode ir sem me pagar. - Ela dá um sorriso enorme e eu reviro meus olhos.

-Nossa, sendo assim fico até mais aliviada. - Digo sarcástica, mas acho que não entendeu. Saiu por onde entrei e vou para meu quarto. Quer dizer, nem é mais meu.

Depois de quase duas horas tentando pensar em algum lugar para ir, não obtenho sucesso nenhum. Não conheço ninguém aqui. Espero minha dor de cabeça ir embora e começo a arrumar minhas coisas. As poucas coisas que eu tenho cabem em uma mala média e minha bolsa de mão. Penso na possibilidade em ficar e protestar aqui dentro, mas o medo de topar com o filho esquisito dela é maior.

Quando acabo vou relutante até a loja que fui enxotada para acertar minhas contas, não deu muita coisa, mas é melhor que nada, além disso vou precisar de todo dinheiro possível e mesmo assim é bem pouco.

Meia Noite e Um - Completo ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora