Luana e o mar

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Todos os dias Luana acordava as cinco da manhã, tomava um banho rápido para espantar o sono, batia sua vitamina de banana no liquidificador e junto com um sanduíche de queijo minas compunha seu café da manhã. O coração começava a pulsar de excitação no momento em que colocava a prancha em baixo do braço e acompanhando o nascer do sol caminhava até o mar. Olhava para o céu, fazia sua oração pedindo proteção de Yemanjá. Entrava no mar e se transformava. Quando estava sob sua prancha o vazio que carregava se esvaia. Ali era sua casa. O oceano era seu lar. Onda após onda seu coração sentia-se em paz. E por duas horas sentia-se encaixada em algum lugar. Sair do mar era sua maior tortura, e a maior dificuldade da sua rotina. Quando seus pés chegavam na areia torcia para que as horas corressem e o próximo dia chegasse logo para ela voltar ao seu lar. Surfar era sua terapia para não pirar com o piloto automático que seu corpo havia engato em seus dias.

Luana acordou mais um dia, ansiando o contato com o mar. E mais uma vez seu ritual foi cumprido. Porém, algo incomum aconteceu naquela quarta-feira de março. Um tubo a engoliu e ela foi sugada para o fundo do oceano, seus olhos fecharam-se e por bons segundos achou que estava morta. Mas o que a surpreendeu foi que ainda podia respirar, mesmo depois de tanto tempo em baixo d'agua. Abriu seus olhos e uma imensidão azul fez-se presente em seu horizonte, olhou para seus pés e lá achou uma calda. Luana havia voltado a ser sereia, e agora tinha todo o mar para explorar. Um tiro fez-se ouvir e um tritão de cabelos brancos parou em sua frente sorrindo e sem esperar reação alguma a abraçou.

- Bem-vinda de volta ao lar. - ele proferiu e Luana entendeu porque desde que nasceu sentia-se diferente dos terráqueos que a cercavam.

Autora: Carol Caputo

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