Capítulo 37- #VEDANOWATTPAD20

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— Talvez... — Eu mordi o meu lábio inferior e encolhi o meu corpo ao ver que ela não havia ficado contente com o meu comentário.

— E escrever um livro sobre a minha vida fez você se encontrar na literatura?! — Ela franziu o cenho e falou com a boca semicerrada.

— Não é um livro sobre você. — Me defendi. — É um livro sobre a minha vida, e é claro que eu tinha que citar você, já que você faz parte dela. Mas acima de tudo esse é um livro sobre perdas, sobre mim. Se você tivesse lido o livro, não falaria uma coisa dessas!

As minhas palavras suaram rudes. Alison cruzou os braços e me fuzilou como nos velhos tempos.

— Me desculpa — pedi. — É que eu amo escrever e quando falam mal do meu trabalho eu me sinto ofendido, é como se você estivesse insultando a minha filha. Um livro é como um filho para um escritor, a gente vê quando ele nasce, acompanha a sua fase de desenvolvimento e o seu crescimento, felizmente um autor nunca vê o seu livro morrer, pois livros são imortais.

Alison engoliu em seco e balançou a cabeça como se estivesse se desculpando.

— Eu que peço desculpas — ela falou. — Eu não li o seu livro, ainda não tive tempo, mas prometo que vou ler.

— Você ainda vai me processar? — Pisquei para ela. Eu sabia que Alison era esquentadinha, mas mesmo assim eu adorava lhe provocar.

— Não sei. — Ela sorriu maliciosamente e apoiou os dois cotovelos na mesa não se importando assim com a etiqueta.

— Você quer escrever sobre o quê? — indaguei um pouco confuso com a minha pergunta.

— Como? — Ela arqueou as sobrancelhas e contorceu o rosto.

— Que tipo de música você gosta? Que tipo de mensagem que você quer passar para as pessoas? São perguntas bobas, mas que podem te ajudar a compor uma música. Escreva sobre você, sobre algo que você já viveu ou ainda vive.

Alison me encarou com olhos arregalados e com uma expressão curiosa.

— Eu não sei escrever, Jace...

— Qualquer um pode escrever — a interrompi. — E eu sei que você pode escrever uma música que ajude outras pessoas, além disso, você é Alison Reak! Você é campeã nacional de soletração!

Alison riu alto e colocou a mão na boca tapando assim o som gostoso que a risada dela fazia.

— Você ainda se lembra disso? — ela perguntou tentando não rir.

— Eu me lembro de tudo que é relacionado a você — falei a mais pura verdade. Eu guardei durante todos esses anos cada pedaço de memória relacionado a ela. Cada sorriso, cada fragmento do seu perfume, cada pedacinho da sua risada, do som agudo da sua voz, no fim de tudo eu havia montado o quebra cabeça que era Alison Reak.

Alison me olhou e deu um suspiro e sorriu amavelmente. O garçom se aproximou com as taças cheias de água e eu não conseguia mais parar de olhá-la.

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Eu devorei o meu Parmentier de canard em pouco tempo, eu adorava comida francesa e adorava ainda mais poder saborear uma comida daquelas com uma mulher linda na minha frente e um bom vinho que eu havia pedido depois. Contudo, Alison não tocou no seu prato, um delicioso canard à l'orange ela nem sequer olhava para a comida e ficou o tempo todo olhando para a minha taça de vinho.

— Você está bem? — perguntei. — Não gostou da comida?

Alison fechou o punho com força, e respirou com dificuldade.

Pimentinha, você está me preocupando.

— Está tudo bem. — Ela colocou os dois braços embaixo da mesa e sorriu nervosamente enquanto bebia toda a água.

— Você quer mais água? Eu posso chamar o garçom... — indaguei ao ver que ela esvaziou toda a taça.

Alison balançou a cabeça positivamente e eu acenei para o garçom e pedi mais água. Algo estava errado com ela, Alison olhava com nojo para a comida e seus olhos estavam vermelhos e molhados.

Ela bebeu toda a água novamente e eu perguntei preocupado:

— Alison, o que está acontecendo? — indaguei inclinando o meu corpo para perto dela.

— Posso? — Ela apontou para a minha taça de vinho e a pegou. Alison bebeu todo o vinho da taça e eu vi quando as mãos delas tremiam de nervoso.

— Alison, coma um pouco — pedi a ela amenizando o tom da minha voz.

— Será que você pode pedir mais vinho? — ela perguntou com os olhos brilhando como se fosse uma criança pedindo doce antes do jantar.

— Não — falei com medo de que ela estivesse tão envolvida com a bebida a ponto de ela lhe causar abstinência.

— Por favor. — Ela implorou juntando as duas mãos em um tipo de suplica, as mãos dela tremiam enquanto o seu rosto se desmanchava em desespero.

— Não — fui duro com ela. — Você tem que comer.

Alison olhou para a comida e chorou. Ela chorou como uma criança, ela estava em pânico e respirava com esforço. Alison bagunçou os seus cabelos curtos com dedos grudados neles, ela estava fora de si.

— Alison... — Eu estava assustado com aquela cena. Eu sabia que ela tinha problemas, mas nunca pensei que um dia eu fosse ver de fato.

— Eu não consigo comer, Jace — ela por fim falou. — Eu estou gorda!

Alison chorou e fungou alto.

— Não está não, você está linda! Você sempre foi linda! — falei para ela.

— Eu não consigo comer... Eu não consigo.

Ela chorou e eu levantei e caminhei até ela como se o meu coração tivesse tão partido quanto o dela.

— Há quanto tempo você não come? — perguntei com o seu rosto no meio das minhas mãos.

As lágrimas rolavam no rosto dela e ela fungava baixinho tentando se controlar.

— A última vez que eu comi foi no seu apartamento de manhã — falou sem jeito.

— Você comeu somente aquelas torradas?

Ela assentiu envergonhada e triste.

— Eu quero ir embora — ela falou encarando o chão e o lado de dentro do restaurante, mesmo estando afastados das pessoas, elas ainda conseguiam nos enxergar.

— Tudo bem — eu concordei. — Eu te ajudo.

Ela apoiou o seu corpo nos meus braços, Alison estava zonza porque não havia comido nada. Eu percebi que ela substituía a comida pelo álcool, aquilo era triste.

— Você está bem? — perguntei enquanto as minhas mãos estavam presas na sua cintura e o seu braço envolta do meu pescoço.

Alison não respondeu ela fechou os olhos e gemeu de forma abafada e depois desmaiou nos meus braços. "O que você está fazendo, Alison? O que você está fazendo com o seu corpo?" pensei preocupado com ela.


A GAROTA QUE VOCÊ NÃO QUISWhere stories live. Discover now