I - A Taverna (parte01)

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COMPANHIA EXPRESSO OCIDENTE

12 de março de 1815. - Rotterdam. - Holanda meridional.

Dos enviesados ladrilhos de pedra que rodeavam as margens do Nieuwe Maas em seu mais alto esplendor de mistério e desafio ao olhar de um de seus navegantes. As águas chacoalhavam em batidas em proas de madeira das naus e embarcações rudimentares que dançavam na noite iluminados pela luz da lua. E batiam com força na parede dos ladrilhos do velho porto de Balbergue, que tempos atrás pertencia a um velho fidalgo norueguês que viu seu declínio em meados de 1798 devido a uma administração mal sucedida no comércio das Antilhas holandesas pelo domínio francês em Rotterdam. O que restou do seu porto foi uma sucateada fragata e dois barcos de pesca, que agora se aparelhavam pelas batidas faiscadas das águas do Nieuwe Mass.

Mais abaixo, paralelo ao canal. Passando pela antiga linha nêolan que dava acesso ao porto do governo holandês, luzes de tom alaranjadas se enfeitavam junto à noite fria e enluarada em uma visão de compridos mastros e velas em paisagem, que pertencia a comerciantes e transportadores de bens. As mesmas luzes fortes em rabiscos alaranjados mostravam curtos cochichos atrás de uma espessa porta de madeira. Ratos corriam pelas ruelas de pedras como se dançasse em meio às sombras, longe dos olhares da vista de seu exímio predador, a carcaça de outro rato era a janta de um corvo em cima do telhado de uma taberna qualquer. Um ciclo de uma desconhecida vida.

01 - A Taberna.

Aos olhos de um experiente taberneiro, quatro homens reunidos no canto de uma parede entre dois suportes de madeira e uma mesa. Três sentados e um em pé com um pé apoiado na parede como se ficasse de vigia dentre os três homens. Pelos mesmos olhos, conhecia também que aqueles homens podiam pagar por algo melhor. O lugar que atraia criminosos, aventureiros fracassados, marinheiros bêbados e em outros tempos, corsários. Tempos aqueles em que recebia em ouro por encher barris de vinho, água e utensílios de cozinha. Ele viveu para ver esses dias, o que restou da era ouro da pirataria afundou como a sua taberna, ficou no passado. Com uma vassoura de palha em suas mãos, aproximou-se da janela varrendo as beiradas dos feixes de madeira observando os quatro homens disfarçadamente.

Pelo modo de cada um se vestir, os sobretudos as botas negras e as luvas de couro, cintas e filetes nas bordas da abotoadora que iluminavam como prata mostrando elegância e militarismo. O volume abaixo da abertura do sobretudo mostrava que todos estavam armados além de espadas, com os punhos a mostra, enfeitados de ouro, rubi e prata. Se apoiando no cabo da vassoura, olhou em volta os poucos homens da taberna. Ninguém mostrava o ouro que tinha se não quisesse ter problemas. Mas também apostava que alguém de consciência lúcida roubaria aqueles homens. Cada um com sua elegância e seu modo de se portar, que pela maneira e suas vestimentas só poderiam ser militares.

Limpando o negro balcão de mogno com rum e pele de carneiro, um dos homens chamou sua atenção; o bigode preto e bem colocado em seu rosto como um molde junto ao cavanhaque era o que mais falava a mesa, ele não o escutava, mas pelo mover da boca mostrava que aquele era o comandante, ou pelo menos o que estava comandando aqueles homens até ali. Tinha os seus 45 anos. Nas divisas do seu sobretudo cor de fumo, via-se um uniforme azul de abotoadoras de bronze e as abas da gola com folhas de carvalho em prata, o punho da espada com guarda mão em formato de colunas retorcida com anéis dourados e o pomo do punho era um desenho da cabeça de um leão. Uma linha de cicatriz quase em forma de raio se destacava bem na lateral direita da maça do rosto. As condecorações no peito do uniforme eram reconhecidas pelo taberneiro; índias orientais, África e Antilhas, com toda certeza aquele homem rodou continentes não como um militar passando os dias em quartel.

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