Capítulo treze

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- Ah, não sei! Você é tipo a Dona Morte, não é?

- Dona Morte? Eu já disse a você que sou só um mensageiro.

Eu ri, mas logo me lembrei do vestido.

- Para onde estamos indo? – decido perguntar. Tratemos do vestido depois.

- Para o meu quarto?

Ah, safado!

- Por quê? Escuta aqui, seu tarado, eu...

- Brooke, eu vou apenas lhe dar o horário da sua aula e a de Samirah. Meu Deus.

- Só isso?

- Só.

O quarto de Blake ficava em uma espécie de porão. A escada era feita de ossos, o que me deu vontade de vomitar.

Assim que descemos – o que pareceu uma eternidade – chegamos ao quarto de Blake. Era pintado de uma cor cinza e havia muitos, mas muitos livros. A cama de madeira estava perfeitamente arrumada, assim como o resto do quarto. Impecavelmente limpo. Não havia nenhuma foto naquele lugar, o que me deixou assustada.

Há quanto tempo ele estava naquele lugar?

Blake exalava segredo e mistério, até que eu me lembrei do meu sonho. Droga! Será que ele vai me atacar, tacar o meu corpo num rio poluído e dar tchauzinho?

Não, claro que não.

Ou ia?

Observei ele abriu uma mesinha e pegar dois papeizinhos. Era o meu horário e o de Samirah.

- Obrigada – digo, guardando o papel, pois iria lê-lo mais tarde.

- Não precisa agradecer – ele falou com um ar profissional.

Blake não estava mais usando óculos. O cabelo impecavelmente liso e negro caia nos olhos como uma franja e, ele estava com olheiras. Já falei o quanto o cabelo dele era legal? Todo lisinho.

- O vestido é seu ou você é travesti? – pergunto, cruzando os braços. Eu estava curiosíssima.

Blake riu.

- Era da minha mãe.

- Sua mãe?

Por essa eu realmente não esperava.

- Sim. Ela gostava de usar quando eu era criança. Ela ia para bailes da sociedade com ele e às vezes eu a acompanhava.

- E o seu pai?

Cale a boca, Brooke.

- Meu pai... – ele pareceu olhar para o horizonte. Cara de paisagem, para ser mais exata. – Ele costumava ir a bares.

Blake não queria me contar do seu passado. Ele tinha toda a razão em não contar, caso isso lhe incomodasse.

- Quantos anos você tem, Blake? – mudei de assunto.

- Vinte e um. – ele respondeu.

- Uau.

Nós dois rimos e ele me apresentou o seu quarto. Olhei para a parede de livros a minha frente. Peguei Hamlet de Shakespeare.

- Menino culto.

Blake riu.

- Acho que está na hora de você dormir – ele disse.

- Ah, poxa! Posso pegar um livro para mim? Preciso de algo para pegar no sono.

- Pode pegar qual quiser.

Dentre tantos, eu peguei Persuasão da Jane Austen. Eu gostava tanto daquele livro, que não me importava em ler mais uma vez.

- Boa escolha – ele piscou para mim.

Sorri meio sem graça.

- Eu devolvo o vestido amanhã.

- Não precisa. Ficou ótimo em você.

Eu não ruborizei. Eu não ruborizei. EU NÃO RUBORIZEI.

- Obrigada mais uma vez. Pelo livro... O vestido e tal.

- Disponha. Não se esqueça de ir a sala da diretoria amanhã. Avise a Samirah também.

- Todos que estavam na festa vão receber castigo?

- É justo. Eu avisei a Cam sobre as normas. O resto de toda a escola sabe. Não seguiram por que não quiseram.

- Eu não tinha ideia sobre essas regras. Sou nova aqui!

- Eu posso te castigar se quiser – ele disse com um sorriso malicioso.

IMPOSSÍVEL NÃO RUBORIZAR.

- Boa noite, Blak. – digo, tentando encerrar esse assunto logo.

- Boa noite, Brooke.

Subo as escadas de ossos e levanto o meu vestido. O meu novo vestido, que pertencia à mãe de Blake.

Meu estomago embrulha de repente. Ah, eu não ia vomitar, ia? Ninguém merece!

Na verdade, eu mereço! Eu mereço por ter sido burra! Não deveria ter pegado Cameron, nem nada. Deve ter parecido uma vagaba. Ah, chega de pensar. Estou cansada demais.

Enquanto encaro o corredor em direção ao meu quarto, vejo um burburinho entre outros adolescentes. Alguns vestiam a roupa de festa e outros, pijamas.

Eles estavam em volta de alguma coisa que lhes atraia muita atenção. Erfieu, o esqueleto, tentava passar por eles.

- Um corvo!

O corvo estava banhado em seu próprio sangue. Havia um bilhete em seu bico. Amaçado e manchado de sangue.

Eu pego o bilhete, com um pouco de nojo e medo. Abro e vejo que ele estava escrito em uma bela letra cursiva.

'' Morte a todos. ''

Um calafrio percorreu o meu rosto. Um grasnado ecoa pelo lugar, no exato momento em que um relâmpago encontra o chão.

~*~


Beijada pela Morte | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora