Capítulo vinte e oito

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O tempo parou no exato momento em que vi o corpo de Samirah no chão e a estaca prateada na mão de Blake.

Blake.

Esse nome se repetia na minha mente como um açoite. Por favor, que isso seja um tipo de peça de teatro, por que se for verdade, eu não sei o que farei logo em seguida. Minhas mãos tremiam incomumente, e a minha mente finalmente processa tudo.

Tudo começa a se ligar na minha mente. Tudo se voltava para ele, mas em todo o momento eu não quis acreditar por causa da minha paixão besta por ele. Se eu tivesse feito algo... Algo para controlar os meus sentimentos, nada disso, nada, teria acontecido.

Samirah estaria respirando.

Vozes. Vozes em todos os lugares bagunçando a minha mente, deixando-me tonta. Seguro delicadamente a cabeça de Samirah, colocando-a em meu colo.

- Ela está morta!

- Blake a matou, eu vi!

- É insano!

Mais vozes. Por favor, deixem-me. Eu posso trazê-la a vida.

Eu sei que posso.

Seguro a sua mão, visualizando o seu rosto pálido. Os olhos brancos estatelados, e a boca arroxeada. Havia um furo no centro do seu peito, e eu fazia o máximo para desviar os olhos daquela abertura horrenda. A estaca prateada era arma mais difícil de ser conduzida e é utilizada para matar fantasmas.

Olho novamente para as mãos de Blake, que seguravam firmemente a estaca. Limpa como um véu. Ignoro o sentimento de raiva que se aflora no meu peito e me concentro em Samirah.

Sinto uma onda de energia passar do meu corpo para o dela. As vozes se cessaram. Ninguém acreditava no que via. Ninguém queria terminar de ver.

Seguro a sua mão com uma força ainda maior. Blake estava tranquilo, sendo segurando por três professores completamente desesperados. Paralisados.

A luz brilha diante de Samirah, e tudo o que eu sinto é a exaustão em meu corpo. Ressucitar um morto era a coisa mais difícil de fazer, disse Jason uma vez. Aquilo podia lhe acarretar a morte. Mas eu precisava tentar. Ela não podia morrer, não podia.

Era como se a minha alma flutuasse entre as nuvens, mas logo recebesse uma enxurrada de puxões e socos. Era uma dor terrível que me aprofundava, mas eu precisava continuar.

- O que ela está fazendo?

- Não se aproximem! Não se aproximem!

- Brooke! Saia daí! Você não sabe o bastante para fazer isso!

Um fio de sangue escorre do meu nariz. Sangue. A prova estava encerrada e foi concluída com sucesso.

Sangue.

- Ela está sangrando! Ela não é um fantasma!

- Ela está morta! Meu Deus, Blake a matou.

- O que ela é?

Vozes e vozes.

Por favor, eu preciso de mais energia. Eu preciso.

Os olhos de Samirah ganham uma cor acinzentada. Eu precisava me concentrar nela.

Lágrimas de alegria escorrem pelos meus olhos. Ela voltou para mim. Ela está viva.

Ela dá um grande trago de ar pelas narinas. A boca gofra alguma coisa, mas não consigo identificar.

- Ele é louco – ela sussurra. Seus olhos estavam apavorados , alucinados.

- O quê?

De repente, seus olhos se fecham novamente. Não, não, não! Seguro a sua mão novamente, mas estou muito fraca. Eu falhei! Eu falhei, eu falhei, eu falhei!

Ela fecha os olhos e seu corpo desaparece por completo. Olho, atônita para todos os lados, a procura dela, mas seu corpo tinha praticamente evaporado dali.

Então eu choro.

Eu choro como eu nunca chorei antes.

Mas a raiva era mais forte que toda a tristeza em meu peito.

Por que eu não liguei os pontos antes? Ele a matou. Ele a matou. Por quê?

Ele é louco.

Os pesadelos. Eles tentavam me avisar. Eles queriam me ajudar. Eu não dei ouvido. Eu ignorei. Eu não usei a razão.

Tudo parecia ter se paralisado. Levanto-me bruscamente e avanço em Blake, que praticamente não faz nada. Seu rosto estava brandido em uma pura raiva, enquanto me encarava. Maldito! Maldito seja você, Blake!

É por isso que não podemos ficar juntos.

Carolyn era como um diamante que não podia ser tocado, porém, eu fui o motivo dela ter se quebrado em pedaços.

Blake matou Carolyn. Blake planejou matar Samirah para depois me matar.

Ela não merecia.

Vejo um ser encapuzado se aproximar de Blake. Não havia mais ninguém a nossa volta. As vozes. Elas se calaram, as vozes.

Elas se foram. Samirah se foi. Meu coração não existia mais.

- Eu te odeio! – grito com todas as cordas vocais. Como se a minha vida dependesse disso! – Ela não merecia!

Ele é louco.

Ele é louco.

Ele é louco.

Ele não diz nada. Uma expressão de divertimento passa por seu olhar e eu só consigo ter repulsa. Meu corpo parecia em combustão e as lágrimas não paravam de cair. Que se foda! Que caiam! Que ele caia! Que ele seja destruído!

- Adeus, Brooke - ele diz, finalmente. Quero esganá-lo.

Vejo Blake sendo arrastado. Tudo acontecia tão lentamente. Ele não havia tirado os olhos de mim nem por um segundo. Louco.

Eu vou destruí-lo. Nem que aquilo seja a última coisa que eu faça na minha vida. Se não o destruírem, eu o farei.

Ladrão de almas.

Alucinado.

Depois de Blake ter sido arrastado por vários homens de capuzes, eu fico sozinha ali no centro do pátio. Sozinha. Eu não podia acreditar nem na minha própria pele. As vozes. Os estudantes não estavam ali.

Eu fui manipulada durante todo aquele tempo e não percebi. Ele sabia que eu era um anjo, com certeza. Fez aquilo para que eu me demonstrasse ao mundo. Fez para me machucar.

Seu olhar de divertimento passa como uma lembrança e, eu choro ainda mais. Samirah, a menina que conversava durante horas a fio todos os dias, desaparecera. Sua alma foi sugada para o Além.

­Ele iria me matar logo em seguida. Claro, ele era um Anjo da Morte.

Tola. Mil vezes, tola. Olhe a tragédia que vou arrastou para si mesma. Olhe a tragédia que você arrastou para quem não tinha nada a ver. Você causa dor e solidão, Brooke Williams. Enganada e traída.

Por que você ainda o ama, então? Ele destruiu você e destruíra ainda mais se você o mantiver impune. Ah, doce veneno do amor espalhando por suas veias, sentindo o efeito lentamente. É duradouro, é forte. É insano.

As sombras são as únicas que me acolhem nesse momento.

Beijada pela Morte | livro umWhere stories live. Discover now