33: senhorita perfeição

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    O que era uma coisa boa, pois se acima de tudo Brenda Belucci tivesse que lidar com a condescendência de outras pessoas, ela não precisaria nem de um isqueiro: seu corpo entraria em combustão e explodiria em chamas, reduzindo o Colégio para Garotas a pó.

    - Equipe. - chamou a treinadora ao adentrar o recinto, e Alana checou o celular, torcendo para que seus pais tivessem chegado. Aquela tal Mônica lhe dava nos nervos. - Teremos de fazer pequenas alterações na estrutura do time para o Campeonato Nacional.

    Brenda se empertigou, completamente tensa. Silvia, sem conseguir tirar os olhos da aglomeração de atletas que se agrupavam em volta da treinadora, segurou o pulso de Alana.

    - Belucci, - formulou a treinadora, e Brenda franziu imediatamente o cenho – chegou ao meu conhecimento o fato de que suas notas estão prejudicadas devido a sua dedicação ao time. A minha regra número um sempre foi que minhas atletas mostrassem um desempenho inquestionável em sala de aula, muito antes de revelarem seu desempenho em quadra.

    Ana Júlia, que estava do outro lado, contornou a multidão e se aproximou de Brenda, colocando as mãos em seus braços e pressionando. A outra parecia estática, como se não fosse capaz de mover um músculo. Ambas sabiam o que estava por vir.

    - Você é a minha melhor ginasta, Brenda, mas sabe como as coisas funcionam. Minha capitã não pode tirar nota zero e continuar liderando a equipe. O erro foi meu, pois coloco muita pressão em você, te prendo aqui no ginásio até a meia-noite quase todos os dias, e se não fosse a minha certeza de que você será campeã nacional, nada disso teria acontecido. Essa nota é culpa minha também. E está na hora de eu reparar esse erro.

    A treinadora Mônica limpou a garganta e se dirigiu não só a Brenda, mas ao resto da equipe.

    - Brenda Belucci está afastada da equipe de ginástica até que recupere sua nota em Literatura.

    Um burburinho tomou conta do ginásio. Silvia emitiu um ruído semelhante a um gato sendo atropelado. Alana levou as mãos à boca e arregalou os olhos em desespero.

    - Temporariamente, Ana Júlia liderará a equipe. - Ana deu alguns passos para trás e ergueu as mãos na frente do corpo, como quem se desculpa, e Silvia se aliviou em perceber que Brenda balançava negativamente a cabeça, como quem diz "não é com você", para Ana. - A suspensão da Belucci recai em todas vocês. Terão que treinar dobrado para atingir a metade da excelência de Brenda como atleta. Mas eu confio em vocês. Esse time não é formado por uma pessoa, e embora nossas chances no individual sejam praticamente nulas se Brenda não competir, o coletivo ainda tem uma boa chance. Belucci, por favor, retire-se do ginásio.

    Mônica lançou a Brenda um olhar indulgente. As outras atletas começaram a aplaudir enquanto Brenda encarava a treinadora, com uma expressão indecifrável no rosto; fez uma pequena reverência ao time, e depois à treinadora, imitando o gesto que fazia ao público e aos árbitros depois de uma competição, deu as costas à equipe e caminhou até as amigas.

    Alana queria dizer algo, mas não havia nada a ser dito. Silvia com certeza estava no meio de um ataque de ansiedade, pois não parecia ser capaz de não estalar os dedos. Só havia uma coisa a ser feita: as duas levantaram do banco de reservas e abraçaram Brenda, que permanecia rígida e sem expressar qualquer emoção, por uns bons três minutos. Ela murmurou um agradecimento, e pediu ajuda para juntar suas coisas e ir embora.

    - E alguém manda mensagem para o Dante. Ele precisa saber o que houve, mas eu não quero ter que explicar. - concluiu, e Alana assentiu, tirando o celular do bolso da jaqueta.

    As três começaram a juntar os pertences de Brenda em silêncio. Ninguém ousaria violar aquele momento de respeito, e todas conheciam a garota o suficiente para saber que ela não surtaria na frente de todas aquelas pessoas.

Não Confie Nas Boas MeninasWhere stories live. Discover now