Ⅰ. Christopher Prescott

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Outono de 1975Um homem solitário, sentado no banco de um trem vazio, contempla o cair da chuva

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Outono de 1975
Um homem solitário, sentado no banco de um trem vazio, contempla o cair da chuva. Cada pingo caindo de acordo com suas lágrimas, lágrimas essas que seriam perdidas, como suas memórias perdidas no tempo. Esse era eu. Christopher Prescott. Deus, como fui parar aqui?

Verão de 1953, o melhor verão da minha vida. Bom, tudo parece perfeito quando se tem 17 anos e está prestes a se formar no colégio, certo? O sentimento de liberdade, invicto, como se nada nem ninguém pudesse lhe conter, porque você era jovem, e achou que sempre seria.

Fazia só três anos que eu havia me mudado para Berlin, Maryland e já parecia que conhecia todos daquela cidadezinha mal-afortunada.

Quando era pequeno me mudava muito. Tudo começou quando eu tinha 7 anos, depois que meu pai decidiu que a vida que ele levava comigo e com minha mãe já não era mais a vida que ele almejava para si. Sem adeus e sem explicações, ele nos deixou.

Minha mãe ficou extremamente mal após o ocorrido. Como não tinha dinheiro para bancar a casa em que vivíamos, ela me botou em um carro e dirigiu para todas as cidades possíveis do Norte da America. Não parávamos no lugar nem um segundo. Era como se ela procurasse uma casa, um lar, mas nunca encontrasse. Não pertencíamos a nenhum lugar, éramos apenas eu e minha mãe contra o mundo, sempre vagando sem rumo, pessoas de lugar nenhum, viajantes sem destino. Era ótimo, para mim, até eu atingir meus 11 anos e perceber que minha vida não ia a lugar nenhum daquele jeito, minha mãe não ia a lugar nenhum daquele jeito. Ela estava consternada, não que ela demonstrasse, sempre estava sorrindo, porém, à noite, quando ela achava que eu dormia, eu a olhava silenciosamente chorar. Mas, no dia seguinte era como se nada tivesse acontecido e ela sorria.

Encontramos Berlin por acaso, ou podemos dizer que Berlin nos achou. Um homem de um posto de gasolina havia comentado sobre a cidade. Ela não era tão maravilhosa, mas, pareceu o lugar que mais chegava perto do sentindo de 'lar' para nós, então decidimos ficar.

Seis anos havia se passado e eu finalmente tinha amigos, minha mãe finalmente estava em casa, nada poderia dar errado, tudo estava bem enfim.

- Hey Chris, como vai?- Les me cumprimenta batendo na minha mão enquanto estou pegando meu material no armário.

- Ei garotos vocês ouviram que o grande Chris aqui estava todo íntimo da Senhorita peitos grandes ontem a noite?- Johnny fala para o resto do grupo que começa a rir e jogar olhares maliciosos sobre mim. Já estava virando rotina falar das mulheres com quem eu andava.

- Os peitos de Nan nem são tão grandes assim- eu disse revirando os olhos e eles soltam risadinhas, típico.

- Não, só são maiores que o airbag do carro da minha mãe- Cisco fala e Johnny começa a fazer gestos obscenos com as mãos.

- Ela é muito barulhenta- digo fechando meu armário.

- Com certeza cara, mas eu pegaria ela de qualquer jeito- Johnny diz e lança um beijo no ar, rimos do gesto infantil de John e Les da um leve tapa na parte traseira de sua cabeça.

- E Maggie?- Les pergunta à mim arregalando as sobrancelhas e sorrindo, esses garotos não falavam mais nada além de garotas.

- Também pegaria- Johnny fala- se bem que ela tem uma voz bem desagradável...

- Vocês não tem nada melhor pra fazer do que ficar falando sobre as meninas com quem eu fico?- pergunto rindo.

- Não- johnny da de ombro e os outros garotos riem de sua resposta sincera. Eles começam uma baderna no meio do corredor do colégio, enquanto eu só assistia a cena e sorria.

Johnny, Cisco e Les foram os primeiros caras que vieram falar comigo quando me mudei, e até hoje somos como irmãos. Eles me irritavam às vezes mas era normal, tudo tem seu lado negativo. Eles eram os garotos mais idiotas de toda Maryland, no melhor sentido. Sempre fazíamos coisas que tecnicamente não devíamos, mas quem se importava? Nunca sabíamos o que podia acontecer no dia seguinte.

Cada um tinha um personalidade bem divergente, nenhum de nós se parecia. Johnny era o típico bobão, aquele que se faz de durão mas na verdade tinha um coração gigante, e ele certamente faria de tudo pelos amigos. Charlie, mas que na verdade apelidamos de Cisco, nem eu sabia direito o porque, era bem ardiloso na verdade, sabia tudo sobre tudo, era muito inteligente, mas para alguns assuntos ele podia ser bem lento. E tinha Lester, Les era meu melhor amigo desde que botei os pés em Berlin, ele parecia ser bem tímido pra quem não o conhececia e às vezes podia ser bem quieto e estranho quando queria, porém ele era o amigo mais leal que alguém poderia ter. Apesar das diferenças, sempre fomos muito leais uns aos outros, a expressão "bros before hoes" era uma filosofia séria entre nós, por mais bobo que seja. Podia se dizer que era uma boa amizade, apesar dos apesares.

Estávamos na aula entediante do professor Labaouski, física. Eu nunca entendera o motivo para o qual eu tinha que aprender física, não sou físico e não pretendo ser físico. A maioria da classe não estava prestando nem o mínimo de atenção no que o professor falava, o silêncio era constante naquela aula lenta. Parecia que não acabaria nunca, as palavras do educador pareciam ser eternas. Johnny dormia com o rosto apoiado na carteira, e Cisco era uma das poucas pessoas que realmente estava prestando atenção.

- Ei, vai na Leila hoje?- Les pergunta para mim tentando não fazer muito barulho.

- Claro, eu sou a alma da festa- falo sorrindo.

- Ei seus dois loquazes, fiquem quietos, pelo amor de deus!- o professor diz batendo a régua na mesa.

- Que caralho é 'loquaz'?- Les pergunta para mim com uma careta e rimos.

- Senhor Lachance, acorde o senhor Jude por favor, ele parece um porco dormindo- o senhor Labouski pede para Les, que leva um susto.

- Johnny seu filho da mãe, acorda!- Les diz batendo na mesa de John fazendo ele dar um pulo de susto para logo em seguida agir como se nada tivesse acontecido. A esse ponto, todos da sala já estavam rindo.

- Eu não estava dormindo- Johnny diz para mim.

- Não, só babando na carteira- digo rindo. Ele logo limpa a boca e cruza os braços se encolhendo na cadeira.

A aula finalmente tinha terminado e eu mal podia esperar para ir para casa, não aguentava mais a escola, pelo menos tudo acabava esse ano e eu não tinha mais que me preocupar com matérias inúteis como física. O sinal já tinha batido e logo me apressei para ir embora, mas uma figura de cabelos ruivos me para, com aquele sorrisinho alegre que eu não suportava mais ver. Não é que eu não gostasse dela é que ela me irritava, com frequência.

- Olá Chris- Ela diz toda alegrezinha e com sua voz fina que eu não suportava mais.

- Oi Maggie- digo com um sorriso amarelo e tentando desviar o meu caminho do dela.

- Você vai na festa hoje? Leila disse que adoraria te ver lá, claro que eu também adoraria, na verdade eu...- ela começa a falar sem parar e eu logo a corto, antes que ela não parasse mais.

- Boa conversa Mag, agora eu realmente preciso ir- digo passando por ela nem se quer olhando para trás. Eu escuto um 'tchau chris' bem baixo e continuo meu caminho.

 Eu escuto um 'tchau chris' bem baixo e continuo meu caminho

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