Yesterdays

Capítulo 21

- Então... O nome dele é Tyler?
- Sim.
- E o que ele faz da vida?
- Ele faz faculdade...
- Ele não trabalha?!
- Bem, nem eu.
- Jasmine! E como você vive? A gente não fala muito sobre isso, mas sempre pensei que você estava fazendo algo, não sei...
- O dinheiro que papai e mamãe mandam é bem eficiente!
- E como você sai pra se divertir?
- Oras...
- Jasmine? Você não sai?! - Não respondi e ela suspirou. - Eu espero que esse seu namorado sirva de alguma coisa.
- Ele é meu namorado e não meu empregado! - Respondi, revirando os olhos. - Mas ele serve pra muita coisa, sim.
- Ah, meu Deus...
- O quê? Não, não, não! Nem pense em nada, eu não estava dizendo sobre isso...
- Tudo bem...? - Bufei. - Jasmine, eu não acredito que você não procurou um emprego e que ainda por cima não sai de casa! Você foi pra Londres pra não fazer nada a não ser estudar? Pensei que você tivesse dito que aí seria diferente!
- E está sendo! - Afirmei. - E é claro que eu saio. Mas não sempre, porque você me conhece. E eu tenho Tyler. Você tem noção do quanto isso é diferente?!
- Bom, isso é verdade. Mas você precisa mesmo sair!
- E eu saio, Júlia!
Às vezes era impossível conversar com minhas irmãs. Por elas serem tão teimosas quanto eu.
- E, de novo, você me conhece. Sabe que eu não curto ir em festas e tudo mais. Eu vou em algumas, assim como fazia aí e...
- Não, você ia em festas uma vez na vida e outra na morte. E as pessoas tinham que te convencer muito!
- Ah, mas teve aquela fase em que eu...
- Isso não durou. Você só foi em algumas mais porque queria estar nas festas daquele babaca que você nem deveria ter ficado.
E com "babaca" ela quis dizer o rapaz divino que eu tive a infelicidade de me envolver. Que cheguei a comentar com Tyler, inclusive.
- Certo. - Pra que argumentar sendo que era verdade? Não que eu me orgulhasse disso. - Mas você sabe que Sam não me deixaria ficar 100% em casa. E Will. Eles me levam em alguns cantos e Tyler também.
- Muito bem. E então? Vai procurar emprego? - Riu. - E Will? Ainda mora com você?
- Seria ótimo ter um dinheirinho a mais... - Eu disse. - E, sim, Will ainda está conosco. Não quero que ele saía daqui. - Fiz careta só de imaginar.
- Mas coitado. Ele está dormindo no sofá de vocês.
- Que é ótimo, aliás!
- Ele precisa do próprio espaço dele, Jas.
- Bem, ele quem não procurou mais e não o ouço reclamando!
- Talvez porque ele sabe que vocês gostam de tê-lo por perto.
- Ou talvez porque ele goste de ficar aqui!
- E ele tem um namorado, agora. Eles precisam de mais privacidade, não? - Me ignorou.
Ah, eu estava odiando porque ela estava correta, novamente.
- Você está certa. - Suspirei.
- Pois é. - Ela riu, um pouco. Sabia que eu estava emburrada. - Mas não é como se você fosse perdê-lo.
- Mas é assim que me sinto.
- Que bonitinha.
Revirei os olhos.
- Você é uma chata. Me liga pra jogar coisas na minha cara? Não sei se quero falar com você de novo. - Então ela riu de verdade.
- Na verdade, vou precisar desligar mesmo. - Ela disse. - Ao contrário de você, tenho que trabalhar cedo amanhã. Beijos. Até mais.
- Oras! E eu vou pra faculdade! - Ela riu.
- Mas ainda tá cedo aí. Enfim. Tchau. Até mais.
- Tchau, Ju. Manda beijo pra todo mundo.
- Tá bom.
Fiquei pensando nessa conversa o dia todo. É claro que eu me preocupava com o fato de não estar trabalhando e tudo mais, mas o que realmente tinha ficado na minha cabeça, era a estadia de Will aqui. Bem, acho que ele realmente precisava de privacidade e espaço. E que talvez ele não falasse porque sabe que gostamos dele com a gente. Também sei que ele gosta de ficar, mas ele realmente precisa de um espaço só dele. Se ao menos tivesse um quarto pra ele no nosso apartamento, acho que estaria tudo resolvido.
Mais tarde, quando estávamos todos em casa, resolvi que tinha que trazer o assunto à tona. Portanto, assim que Sam desligou o celular, ao terminar de falar com Noah, e enquanto Will, sentado no sofá, comigo ao lado, escrevia em seu notebook, eu desatei a falar antes que não tivesse coragem o suficiente depois.
- Júlia acha que Will precisa de espaço e privacidade. Principalmente agora que tem um namorado. - Soltei. - Júlia, minha irmã.
Samanta estava mexendo no celular quando eu comecei a falar. Agora, me olhava, em pé, do outro lado do balcão, na cozinha, como se eu estivesse falando sobre ter visto alienígenas - o que teria sido legal, se fosse verdade. Mas também um pouco assustador. (Eu já vi Sinais uma porção de vezes e ainda assim me assusto com esse filme. No entanto, eu o adoro).
- Quer dizer, eu disse pra ela que gostamos de ter você aqui, mas ela continuou dizendo que você precisava ter um espaço e tudo mais. Mencionou o fato de você estar dormindo num sofá...
Ninguém falou nada, novamente, então comecei a ficar preocupada.
- Gente...?
- Mas eu não quero ir embora...
- Eu sei!
- Então por que temos de ter essa conversa agora?
- Porque isso estava na minha cabeça e eu fiquei com medo de que você estivesse aqui porque não queria nos dizer que queria privacidade. E eu quero que você tenha seu próprio espaço e seu próprio quarto, mas também queria que você continuasse aqui. Então isso estava me agoniando, porque vocês sabem como eu sou. Daí eu só queria tirar isso dá cabeça, pra saber se era isso mesmo. E agora eu estou me sentindo meio mal porque pode parecer que eu que quero que você saía daqui, sendo que de jeito nenhum é isso! - Eu falei tão rápido que nem tinha certeza se eles me entenderam.
Suspirei.
- É claro que não quero que você fique no nosso sofá pra sempre. Quer dizer, você precisa mesmo ter seu espaço... Ainda mais tendo Dave.
Will sorriu um pouco, mas dava pra perceber que ele estava refletindo a respeito.
- Bem, eu nunca tinha parado pra pensar de fato... - Ele disse. - Acho que sempre evitei pensar, porque gosto mesmo de ficar aqui. - Deu um sorriso anasalado. - Mas seria mesmo legal não ter de ficar só indo pra casa de Dave pra ter meus momentos com ele... Ainda mais porque ele mora com a Autumn...
Eu assenti.
- Por isso eu sabia que Júlia estava certa...
- Mas eu não queria mesmo sair daqui. - Ele choramingou.
- E você não pode! - Sam se manifestou pela primeira vez, se aproximando da gente. - Com quem que eu vou ficar fofocando sobre a vida da Jasmine como se ela não estivesse ouvindo?! Qual vai ser a graça de só ouvir ela falar e eu soltar uns resmungos que ela pode ignorar e não você e eu a ignorarmos, enquanto discutimos sobre a vida dela?
Will e eu sorrimos.
- Ah, mas foi mesmo a primeira coisa que pensei sobre não morar mais aqui. - Ele disse, irônico.
- Quem você quer enganar? É claro que foi!
- Tá bom, eu admito!
E nós rimos de novo.
- Então é isso? - Ele fez bico. - Eu vou ter que procurar um apartamento pra mim?
- Quem sabe não tem algum perto o bastante daqui, e assim podemos fazer tudo juntos, como sempre? - Sam disse.
- Vamos ver se temos essa sorte.
- Temos que pensar positivo!
- Vou tentar.