5 ▪ 30 dias antes

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30 dias antes.

Os ponteiros do relógio formavam um ângulo reto perfeito quando Mason Cooper finalmente conseguiu escapar, sob as garras de abutre de seus subordinados, daquela manhã azeda. Passava das três da tarde e, apesar do horário de trabalho já ter se estendido por mais da metade de seu tempo útil, ele não conseguia afastar a sensação de falta de produtividade que aquela sessão tardia de bajulação havia o agraciado. O pior é que ele não sabia como havia caído naquela pequena odisséia organizacional. Para ele, tudo havia desandado por um mero equívoco de semântica. Ele lembrava-se muito pouco da ordem dos fatores, mas uma coisa era certa: foram suas próprias palavras que o incriminaram. Sua recordação mais sólida dos eventos equivalia a um breve passeio com o diretor do setor de Recursos Humanos, um senhor meio roliço, com um bigode ensebado e o sorriso amarelo, que o encarava com um pânico tão genuíno que parecia prestes a se desmanchar numa poça de suor.

Mason lembrava-se, vagamente, de questionar mentalmente se o sujeito possuía algum problema metabólico de transpiração ou se a razão de tamanha vazão era a sua postura intimidante. Ele não achou que fosse o último caso, já que o máximo de austeridade que ele conseguia trespassar, através do semblante rígido, era traduzido num sorriso forçado; um sorriso desconfortável, cheio de interrogações e divagações, mas um sorriso mesmo assim. Ele sabia que encarava com muito afinco os filetes de água que percorriam o pescoço do homem à sua frente, mas não conseguia evitar. Era como encarar um acidente de carro: era simplesmente muito difícil desviar o olhar.

Sendo assim, ele tomou a única medida que conhecia para desviar seu foco da cena: enrolou. Ele acenou a cabeça, apertou a mão do sujeito e agiu com polidez, iniciando um diálogo extenso sobre a amenidade do tempo. No fim, após ultrapassar seu limite de sanidade com adjetivos para qualificar o caráter do dia, ainda adicionou:

- Ah, senhor Schultz. Quase ia me esquecendo! - Mason comentou, firmando o tom, erguendo o indicador para pontuar um argumento. O outro homem soube reconhecer de imediato a sobriedade do momento, endireitando a coluna e cruzando os braços; o que foi meio apagado pela forma que suas axilas estavam marcadas sobre o tecido úmido. - Gostaria de informá-lo que é do meu interesse conhecer as instalações do departamento de redação.

E foi isso.

Mason não precisou enfeitar suas vontades com mais nenhum tom exigente. Foi simples assim. Como o tempo entre o roçar dos cílios e a completa escuridão. Ele mal havia piscado os olhos verdes, quando o homem pequeno se empertigou e, todo eufórico, começou a guiá-lo pelos corredores.

Era como ver um rato correndo atrás do queijo, só até o ponto de ser surpreendido pela ratoeira.

Foi uma questão de segundos para o rapaz ser orientado pelo senhor rechonchudo até o elevador. Quando menos esperava, ele se viu preso num breve tour pelos setores da empresa, conhecendo a equipe e participando de encontros desconfortáveis com seus funcionários, que pareciam presos à missão de encenar uma perfeição, quase robótica e mecânica, baseada em princípios utópicos. Mason não soube distinguir o que era pior: não conseguir dissuadi-los do fingimento ou não ser capaz de atuar como um chefe ludibriado pela eficácia dos funcionários.

- Quem sabe na próxima vez você raciocine antes de se jogar de cabeça no asfalto. - uma voz grave o despertou para a realidade, trazendo-o de volta das lembranças inquietas que fustigavam em sua mente.

Mason ergueu o olhar opaco, parecendo meio perdido, sentindo o momento arrastá-lo pelos tornozelos. Ele estava sentado num dos sofás da presidência, com o corpo largado de forma relapsa, os dedos presos na gravata vermelha, como se o aperto o sufocasse, os cachos desgrenhados e o paletó descartado no braço do sofá. Ele tinha aquela mesma expressão acumulada durante os anos: o cenho franzido em sinal de reflexão, os lábios comprimidos num trejeito qualquer e os cílios cerrados. O verde dardejante de seus olhos parecia atravessar o ar como uma flecha certeira, encarando o melhor amigo do outro lado do cômodo. Quando adentrara na sala, Mason havia o encontrado da forma que suspeitava que o acharia: sentado na poltrona maior, com os pés repousando em cima da mesa, da forma mais inconveniente possível. Ele deveria saber melhor; esse era Finn, com o olhar melindroso, a arrogância líquida, que pingava da ponta de seu sorriso, e a atitude inflexível.

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2016 ⏰

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Marshall & Mason - 2920 diasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora