1 ▪ 2920 dias antes

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Nota da autora: Antes de tudo, obrigada pela paciência e expectativa. Espero, de verdade, que o tempo tenha valido a pena e que o capítulo tenha saído legal pra vocês. Marshall e Mason vieram dar um pequeno oi pra todo mundo. Eles são tímidos e finalmente me deixaram expor a história deles. E que melhor forma de iniciar uma história de amor do que pela forma que o casal se conhece? Sim, não foram circunstâncias normais. E, sim, Marshall ficou bem irritadinha sobre o final desse dia. Mas isso é história pra outra hora, coisa que eu espero poder compartilhar com todos aqui. Comentem e votem caso gostarem!

Beijinhos xx

"All I can say is that was enchanting to meet you".

TAYLOR SWIFT

A missão impossível do combate ao lodo dos azulejos exigia água bem quente, bicarbonato de sódio e uma escova de cerdas duras para limpar entre os revestimentos. Já o pesadelo das manchas domésticas envolvia um box encardido, um caso sério com uma bucha macia, detergente neutro e água morna. E um removedor de manchas! A questão-chave descansava nos detalhes. Parecia até blasfêmia admitir, com um sussurro conspiratório, o prazer de sentir o cheiro clínico de água sanitária. Talvez limpeza fosse o seu pecado culposo... Jesus, ela quase se arrepiava com o frescor do borrifo do removedor! Arrepios. Parecia até engraçado definir com essa palavra. Alguém poderia se arrepiar de prazer com o atrito da escova contra o azulejo de porcelana? Ela duvidava. Marshall estava começando a achar que isso se elevava, pelo menos, a uns dez níveis extrapolados de bizarrice. Mas o que ela podia fazer? Algumas pessoas tinham fetiches por pés, animais, cera quente, dedos... Ela tinha fetiche por limpeza.

Esquerda, direita. Movimentos circulares.

Enquanto jogava um pouco de água sanitária dentro do vaso com uma bucha, sentindo a fricção das luvas de borracha contra as laterais, perguntou-se se o canto dos arcanjos e serafins que ecoava em sua mente poderia ser alguma projeção da sua loucura. Ou, talvez, fosse apenas um lembrete divino sobre como o seu dormitório estava cheiroso, limpo e metódico. Mas ela estava mais inclinada a apostar na questão da loucura.

Esfregão, esfregão, esfregão. Borrifo de água. Esfregão.

O problema era que ela seguia a religião da água sanitária e do removedor de manchas.

Esfregão, esfregão...

- Ei, garota do detergente. - uma voz nasalada pronunciou da porta do banheiro, obrigando Marshall a levantar a cabeça para desviar a atenção do seu trabalho braçal.

Com um pouco de cansaço transparecendo no gesto, a garota obrigou-se a ajeitar a postura, esfregando a luva úmida contra a testa para afastar alguns fios vermelhos do rosto. Do outro lado do cômodo, encostada contra a porta de carvalho, estava sua colega de quarto. "Garota do detergente", grunhiu baixinho com o codinome. Marshall tentou evitar franzir o cenho, mas era difícil ocultar seu desgosto com o descaso da companheira de dormitório em memorizar seu nome. Eram duas sílabas simples e de fácil discernimento, mas a menina insistia em criar apelidos inconvenientes. A garota apenas riu pelo nariz, encarando a expressão enfezada da ruiva como uma piada, e deslocou-se para dentro do banheiro. Com sua calça de moletom cinza e o cabelo pálido repicado, era difícil associar outra palavra além de desleixo com seu estado de espírito.

Ela admitia que o nível de convívio social que as duas estabeleciam era apenas o considerado aceitável, mas ela pelo menos esperava que alguma chama de companheirismo fosse ser desperta após o primeiro semestre compartilhado. Elas já haviam visto as roupas íntimas uma da outra, pelo amor de Deus! Tudo bem, isso não era algo digno e sólido para ser utilizado como argumento. E, em sua defesa, ela só a havia visto uma vez, por um deslize, quando havia se confundido com os horários estabelecidos durante o combinado (ela se desculpou com o garoto, mas ele ainda saiu bufando com as calças desabotoadas para fora do quarto); fora que Marshall era bastante flexível quando se tratava de estender suas roupas no dormitório. Ok, ela admitia que seu argumento era facilmente refutável. Além do mais, não era como se houvesse alguma abertura para construir alguma amizade sólida por trás de toda essa postura indiferente-inatingível-casual que a outra garota costumava exalar. Ela sequer sabia o que a outra menina cursava (embora tivesse uma forte sugestão de que indolência fosse alguma disciplina que a garota pagava! Ela tinha fortes suspeitas de que sustentar esse olhar morto e desinteressado dela, como se o mundo ao seu redor fosse se dissipar à insignificância, exigia alguma prática). Suas únicas referências limitavam-se ao nome completo (e ela duvidava que fosse o mesmo que constava na certidão) e ao péssimo hábito de não dobrar sua roupa de cama. De toda forma, era apenas compreensível sua leve confusão pelo contato verbal que havia sido iniciado.

Marshall & Mason - 2920 diasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora