O tempo passa lentamente quando se está ansioso.
Arthur havia se acostumado com a dor que sentia, seu olho que fora socado não abria, e devia estar bem inchado. Mas ele não se importava.
Se o que a garota dissera fosse verdade, em menos de 24 horas, estaria livre.
Ele não dissera nada a Trevor. Pois, como a menina dissera, estavam sendo filmados. E, por mais que estivesse feliz pela provável fuga, também sentia-se humilhado. Arthur imaginava a pessoa por tras das câmeras rindo de seu plano com as teclas da fechadura.
Talvez até teria uma pipoca.
O tempo era contado com as refeições que recebia. Pelo tempo (se sua noção de tempo ainda estivesse racional), eram providenciados duas refeições por dia - barras de proteína ruins, se estiver se perguntando - e desde sua conversa com a menina, já tiveram três refeições (Arthur estava apagado durante uma delas).
A porta poderia abrir a qualquer momento, talvez antes mesmo da quarta barra ruim. A ansiedade fazia seus batimentos cardíacos acelerarem cada vez mais. E nas duas vezes que a porta se abria e fechava por cinco míseros segundos, Arthur sobressaltava-se e virava a cabeça para a direção do barulho, mas no fim das contas era apenas mais uma "refeição".
-Tudo bem? - Trevor perguntou, talvez pela milionésima vez desde que Arthur acordou.
-Sim. - respondeu pela milionésima vez. Você vai ficar bem também, irmãozinho.
-Sinto saudades da mamãe. Do papai também, mas... - começou.
-Eu sei. Vamos vê-la de novo. - Arthur o confortou.
Trevor riu com escárnio.
-Espero que sim.
Ficaram em silêncio.
Arthur ouviu a porta se abrir. Nenhum botão foi pressionado para tal ação.
1, 2, 3, 4, 5 segundos, ele ainda não havia ouvido o barulho da mesma se fechando,
-Arthur... A porta, está aberta. Não tem ninguém do outro lado.
-Vamos. - comandou, tentando se levantar.
-O que? Está louco? Ele pode estar vindo.
-Confie em mim, Vamos. - repetiu.
-O que? Arthur! Espere aí. - Arthur sentiu a mão de Trevor puxar seu braço que não estava machucado, ajudando-o a se levantar.
-Escute, não tenho tempo para explicar, mas tem uma garota nos ajudando, temos dez minutos para saírmos daqui, tem um carro lá fora, nós vamos fugir.
-O que? Mas-
-Trevor. Agora.
-Tudo bem, tudo bem.
Trevor continuou segurando seu braço. "Vamos" disse, quase em um sussurro. E o puxou para fora.
-O que pode ver? - Arthur perguntou, quando percebeu que já tinham saído do local onde ficaram presos por sabe-se lá quanto tempo.
-Não muito, ainda está bem escuro. Tem muitas portas, e dois corredores. Um no meio e um no fim.
-Meio.
-O que? Por que? - Trevor perguntou, sem parar de andar.
-Só faça o que estou pedindo. - Arthur não tinha certeza que aquele era o caminho certo, mas algo dizia para ele que aquele era o caminho para a liberdade. Talvez era a lógica.
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Ele não é tão Cego Assim
RomanceArthur Harrinson não nasceu cego. Ele havia visto as cores, a face de seu irmão, sua mãe e seu pai, era um menino saudável, ninguém nunca pensou que algum dia o menino fosse estar em um carro, logo na hora que um caminhão em alta velocidade perde o...