Capítulo 23

10.1K 931 35
                                    


O tempo passa lentamente quando se está ansioso.

Arthur havia se acostumado com a dor que sentia, seu olho que fora socado não abria, e devia estar bem inchado. Mas ele não se importava.

Se o que a garota dissera fosse verdade, em menos de 24 horas, estaria livre.

Ele não dissera nada a Trevor. Pois, como a menina dissera, estavam sendo filmados. E, por mais que estivesse feliz pela provável fuga, também sentia-se humilhado. Arthur imaginava a pessoa por tras das câmeras rindo de seu plano com as teclas da fechadura.

Talvez até teria uma pipoca.

O tempo era contado com as refeições que recebia. Pelo tempo (se sua noção de tempo ainda estivesse racional), eram providenciados duas refeições por dia - barras de proteína ruins, se estiver se perguntando - e desde sua conversa com a menina, já tiveram três refeições (Arthur estava apagado durante uma delas).

A porta poderia abrir a qualquer momento, talvez antes mesmo da quarta barra ruim. A ansiedade fazia seus batimentos cardíacos acelerarem cada vez mais. E nas duas vezes que a porta se abria e fechava por cinco míseros segundos, Arthur sobressaltava-se e virava a cabeça para a direção do barulho, mas no fim das contas era apenas mais uma "refeição".

-Tudo bem? - Trevor perguntou, talvez pela milionésima vez desde que Arthur acordou.

-Sim. - respondeu pela milionésima vez. Você vai ficar bem também, irmãozinho.

-Sinto saudades da mamãe. Do papai também, mas... - começou.

-Eu sei. Vamos vê-la de novo. - Arthur o confortou.

Trevor riu com escárnio.

-Espero que sim.

Ficaram em silêncio.

Arthur ouviu a porta se abrir. Nenhum botão foi pressionado para tal ação.

1, 2, 3, 4, 5 segundos, ele ainda não havia ouvido o barulho da mesma se fechando,

-Arthur... A porta, está aberta. Não tem ninguém do outro lado.

-Vamos. - comandou, tentando se levantar.

-O que? Está louco? Ele pode estar vindo.

-Confie em mim, Vamos. - repetiu.

-O que? Arthur! Espere aí. - Arthur sentiu a mão de Trevor puxar seu braço que não estava machucado, ajudando-o a se levantar.

-Escute, não tenho tempo para explicar, mas tem uma garota nos ajudando, temos dez minutos para saírmos daqui, tem um carro lá fora, nós vamos fugir.

-O que? Mas-

-Trevor. Agora.

-Tudo bem, tudo bem.

Trevor continuou segurando seu braço. "Vamos" disse, quase em um sussurro. E o puxou para fora.

-O que pode ver? - Arthur perguntou, quando percebeu que já tinham saído do local onde ficaram presos por sabe-se lá quanto tempo.

-Não muito, ainda está bem escuro. Tem muitas portas, e dois corredores. Um no meio e um no fim.

-Meio.

-O que? Por que? - Trevor perguntou, sem parar de andar.

-Só faça o que estou pedindo. - Arthur não tinha certeza que aquele era o caminho certo, mas algo dizia para ele que aquele era o caminho para a liberdade. Talvez era a lógica.

Ele não é tão Cego AssimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora