Octavia

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"O para sempre é composto de agoras".

- Cidades de Papel


Nunca esperei que me amassem tanto quanto suas próprias vidas. Sempre esperei que pudessem me dar pelo menos uma pequena parcela do que chamam de amor. Não que isso fosse muito, mas para mim, bastava. A pior parte no fim das contas não era descobrir que alguém me amava pouco, mas sim que ninguém me amava ou se importava.

Então essa sou eu. Octávia Sozinha e Desamada.

- Você pode me emprestar aquele giz? - Luanda pergunta um tanto preocupada com a minha cara de morta.

Olho para seu rostinho e quase tenho um leve ataque de choro. Penso por breves segundos em abraçá-la e deixar que saiba sobre a minha vida. Mas em seguida penso no futuro trauma que posso sem querer causar nela e então esqueço essa ideia e apenas lhe entrego o giz que ela queria.

- Tudo bem, já terminei! - Pedro exclama - posso pregar na parede?

- Pode sim, mas anteeees.... - faço suspense olhando para a cara espantada do Pedro. Desde que cheguei ao pequeno ateliê notei que as crianças eram tão fofinhas e amorosas que eu podia muito bem levá-las embora para o Studio.

- O que acham de um desafio?!

-Siiiiim!

As vozinhas soaram pela sala prática.

Olho para a porta e me deparo com Theo olhando-os sorrindo.

- Então lá vai! Quem conseguir desenhar aquele garoto cheio de cachinhos- aponto para Theo - vai poder fazer uma visita lá no Stúdio e conhecer como que é lá!

- Uou! Mas quem vai ser o juiz?

- O garoto dos cachinhos, é claro!

Theo me olha como se eu fosse louca, mas apenas dou de ombros:

-Okay... Desafio lançado!

E assim começa uma correria, crianças procurando por lápis, cartolina, giz de cera e muitas outras coisas.

Passo nas carteiras olhando os desenhos e tenho o bom pressentimento de que o dia vai melhorar. Na verdade, ele só pode melhorar. Quando estamos no fim do poço, não tem como descer mais, não é?

-Acho que eles gostam mesmo de você- Theo se senta ao meu lado enquanto traço seu rosto no papel -quando você me disse que eles te amavam achei que fosse loucura sua, mas olha só! Isso aqui é... Magico.

Empurro seu ombro na brincadeira e finjo estar zangada.

- Talvez eu seja realmente louca, vai saber...

- É, essas coisas podem mesmo acontecer.

Uso o lápis esfumando sua mandíbula, depois traço mais linhas sob os longos cílios e finalmente, a boca.

O olho de lado. Ele está pensativo olhando para o meu desenho.

- Eu estava pensando, como é que você consegue me desenhar sem ficar me olhando? - ele puxa a manga da blusa e a desfia fingindo desinteresse.

- Bem, eu te conheço desde sempre e eu... Eu me lembro de você Theo, mesmo que você sumisse por anos, eu me lembraria de cada traço seu. - olho encabulada para meu desenho. Isso pareceu ser uma cantada? E foi sem querer, não foi? Oh Deus.

O olho de canto novamente. Ele está me olhando.

Nós estamos nos olhando.

Coro bruscamente e procuro algo para dizer. Mas de repente tudo o que eu quero é um abraço dele. Dizer que sinto sua falta desde o dia em que ele se foi.

Rumo ao TopoOnde histórias criam vida. Descubra agora